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terça-feira, 14 de julho de 2020

Nebulosidades auditivas (84)

A censura politicamente correcta, implantou-se com o fim do Muro de Berlim, portanto faz agora 30 anos. É fácil perceber porquê... porque antes disso, condicionar a liberdade de expressão seria identificado com uma política comunista soviética. Alguém diria "se queres censurar, vai para a Rússia...", e a censura prévia de opiniões era mandada para um certo Tártaro ditatorial.

Com o fim da URSS, perderam-se algumas facilidades argumentativas... e caiu-se no sonho de que não existia e nem existiria censura no mundo ocidental, protegido por uma panaceia contra todos os males, a que chamava "democracia".

O mundo ocidental orgulhava-se e passeava com autoridade a superioridade moral ser um baluarte da liberdade de expressão e de opinião, o que não seria bem assim, mas enfim... Na Europa, e especialmente em Inglaterra, chegou-se a um extremo que vagueava entre liberdade artística e incitamento à violência.

Se em 1986 os Smiths lançavam o álbum "The Queen is Dead", Morrissey já em carreira a solo, vai mais longe, e para Thatcher, apresenta o tema "Margaret in the guillotine" (1988), assim:
The kind people have a wonderful dream, Margaret in the guillotine.
Cause people like you, make me feel so tired.... When will you die?
And people like you, make me feel so old inside... Please die!
And kind people, do not shelter this dream, make it real... make the dream real.
No final, remata com o som da guilhotina a cair...

Morrissey - Margaret on the guillotine (1988) Viva Hate album.

Scottish Maiden
Morrissey terá sido "entrevistado" pela Scotland Yard, e pouco mais que nada se passou... houve certamente gente escandalizada, e a opinião de Morrissey não mudou muito, mesmo quando Thatcher morreu em 2013.

Já agora, em dia da tomada da Bastilha, e a propósito da guilhotina, uma invenção pseudo-francesa, essa "invenção" tem diversos antecedentes, entre os quais:

- a "donzela escocesa" (Scottish Maiden) - figura ao lado, que terá ceifado ~ 150 vítimas entre 1564 e 1710.

- o "Halifax gibbet" que funcionou de 1286 a 1650, também reclamando aproximadamente uma centena de vítimas.

O nome do médico maçon Guillotin fica-lhe mais justamente associado, já que só a Revolução Francesa conseguiu a proeza de cortar aproximadamente 40 mil cabeças em pouco mais que um ano (1793-94), havendo tentativas burocráticas, politicamente correctas, para reduzir este número.

Aliás os franceses estavam tão apegados à tradição que só em 1981 aboliram o seu uso (em 1977 ocorreu o último guilhotinamento).
Estas ideias despóticas como as de Robespierre, são difíceis de tirar de certas cabecinhas, para quem a guilhotina é aplicável apenas em cabeças alheias, havendo uma atracção fatal que pede a sua.

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