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sexta-feira, 10 de abril de 2020

Covide 19

Covide, em Terras do Bouro, no Parque Nacional da Peneda-Gerês, é uma pequena povoação, que dá nome a uma freguesia desse concelho.

No meio do parque, surge uma placa no meio de um trilho, que indica 19 Km para Covide. 
Essa placa não teria qualquer importância até há uns meses atrás, quando a OMS decidiu nomear a doença associada ao novo corona-vírus como Covid-19.
A placa Covide 19 (imagem), e uma imagem da povoação Covide.

Poderia não haver mais nada a acrescentar, para além da coincidência, do nome, do número e até o boneco circular do veado lembra a corºnea do vírus. Nada tem de especial a povoação mais próxima de Covide ser Freitas, porque a Srª da Graça está a uns 60 Km de distância. Seria um pouco estranho pensar-se em algo muito intrincado para justificar qualquer relação entre umas coisas e as outras.

Porém, um detalhe interessante é a referência ao nome do trilho "Cidade da Calcedónia".
Esta referência a Calcedónia, que parece completamente despropositada aparecer no Minho, seria razão para justificar uma menção ao assunto, por si só.

Calcedónia era uma cidade do outro lado de Bizâncio, passando o Estreito do Bósforo, e tal como Bizâncio, Calcedónia era remetida a uma fundação mítica no Séc. VII a.C. 

Ficou conhecido o Concílio de Calcedónia, que reafirmou Jesus Cristo na condição de pessoa única, e igualmente enquanto Deus e Homem... um dogma que provocou algumas cisões, nas igrejas ortodoxas orientais, especialmente tendo em atenção a referência os evangelhos de Mateus e Marcos que citam a frase de Jesus: "Deus, Deus, porque me abandonaste?".

Segundo informação do trilho, a designação que reporta a Calcedónia vem de eruditos portugueses do Séc. XVI, que teriam associado ali a vinda dos Argonautas e a fundação da cidade (que ao que parece seria um povoado romano). 
Veja-se o trilho da Cidade da Calcedónia, que curiosamente, começa em Covide... onde? 
- No Largo do Calvário. Apenas mais uma coincidência.

Se quisermos entrar ainda por esse lado, veja-se o episódio de Hermano Saraiva (A Alma e a Gente série IV - 51), que faz referência à tradição local da "Toalha de Água às Mãos".

Num site de trekking encontramos diversas fotografias, em particular esta foto da fenda da Fraga da Calcedónia, que é bastante ilustrativa da dimensão que as pedras do Gerês, em particular dos blocos que definem esta fenda.

Para finalizar, são ainda interessantes as moedas associadas à cidade de Calcedónia (que é agora um bairro de Istambul).
Porque o Bósforo teria o nome como origem bois (Bós) e passagem (poro), em grego, aparecendo nas moedas da Bitínia que referem a cidade, a designação KAΛX que é um prefixo "calc" semelhante ao que encontramos em Cálculo, e cuja origem latina remete para pedras, ou seja, para a sua contagem... Ainda que as pedras, cálculos, não fossem supostamente tão grandes quanto as que encontramos na Peneda-Gerês...
Tetradracma Calcedónio (Bitínia), circa 370 a.C.














Nota: No Portugal Antigo e Moderno, Pinho Leal deixa estas palavras sobre Calcedónia e Covide.
CALCEDONIA— cidade antiga de que falam Strabão, Plínio, Pomponio Mella e outros, a qual, segundo eles, existiu na parte septentrional da Lusitânia; mas cujo sitio certo se ignora. (Vide Covide.) Passava por esta cidade a via militar romana chamada Geira. (Vide Geira.) 
COVÍDE — freguesia, Minho, comarca de Villa Verde, concelho de Terras de Bouro, (extincta comarca de Pico de Regalados) 30 kilometros a NO de Braga, 385 ao N. de Lisboa, 90 fogos. Em 1707 tinha 73 fogos. Orago Santa Marinha. Arcebispado e distrito administrativo de Braga. Era antigamente deste mesmo concelho, mas da comarca de Viana. Situada entre serras, próximo do Zêzere. (...)Tinha antigamente o privilegio de se não fazerem aqui soldados, com a obrigação de guardarem à sua custa a Portela do Homem, das invasões dos galegos. 
Sobre um cabeço a E. da bacia onde está situada a povoação, existem as ruínas de uma atalaia dos antigos lusitanos, ou de um castro romano. É tradição que foi aqui a antiga cidade de Cálcedonia (outros dizem que esta cidade foi a 12 kilometros ao N., já em terreno da Galiza). Este sitio não podia conter mais do que uma fortaleza. Há ainda por estes sítios restos de marcos milliares e vestígios da via militar romana chamada Geira. Em Sá ha um cruzeiro feito de um marco miliar, sem inscripção. Tem a data de 1736, provavelmente quando fizeram o cruzeiro. 
No lugar da igreja está outro cruzeiro, coberto de zinco, e assente sobre uma coluna que foi padrão romano. A inscripção não se pôde ler, por estar enterrada a parte que a contém. 
A pequena distancia a E. de Covide, está a capela de Santa Eufemia, e junto a ela um penedinho de forma esferoidal, para o qual se sobe por alguns degraus de cantaria e dominado por uma pequeaa cruz de granito. Chama-se Penedo da Santa, ou Penedo de Santa Eufemia. Nele se vêem vestígios de muitas pegadas de um pé delicado. É tradição que fugindo Santa Eufemia à perseguição de seu pai, governador romano de Braga, vagueara por estas serras e que fazendo oração sobre este penedo, aí deixou gravados os sinais de seus pés. Na aldeia de Covide apareceu pelos anos de 1855, em uma escavação, um forno, construído de tijolo. 
Esta freguesia está situada em um pequeno vale, ao S. do Gerez, É terra fria e húmida no inverno; mas tem bons prados artificiais e naturais. Produz muito milho, linho e centeio, alguma castanha e pouco mau vinho verde. Cria bastante gado bovino, da raça de Barroso. (...)

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