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quarta-feira, 19 de setembro de 2018

No olho do furacão americano

Um ciclone, furacão, ou tufão, são exactamente a mesma coisa com nomes diferentes.
Antigamente designavam-se por furacões os que atingiam a América, e por tufões os que atingiam a Ásia. Na metereologia ninguém dizia que Portugal ia ser atingido por um furacão, normalmente dizia-se que se aproximava um ciclone, e era bom tomar cuidado.
Como o nome "furacão" está associado a devastações maiores na América, serve o intuito de dar à manivela que agora também temos furacões, na ideia das "alterações climáticas". Se a moda continua, seguidamente iremos ter tufões. Para já serviu apenas para baptizar tempestades.
Entretanto, também herdámos a escala de ameaça do furacão que vai basicamente de 3 a 5, os que são de categoria 1 ou 2, enquadra-se naquilo que era chamado "ventos fortes".

Foi assim com alguma surpresa que a abrir os nossos noticiários vi o governador da Carolina do Norte lançar o pânico, e palavras como "chuvas épicas", perante o furacão Florence, de categoria 4. Afinal tinham havido no ano passado outros de categoria 5 (o Irma e o Jose), sem tanto alarme ou dramatismo no prelúdio. 
De facto, este ano não tinha havido nenhum furacão de categoria 4 ou 5, e faltando notícias climáticas, aquele era o maior. Como esperado, o furacão passou, fez os estragos previsíveis, mas sem mais do que o isso (o número de vítimas do Irma foi 5 vezes maior, isto já para não falar do Katrina que em 2005 causou 50 vezes mais vítimas ~ 1500 mortos).


O olho do furacão é uma designação usada para denominar a área circular no centro do ciclone que não é afectada pelos ventos do furacão. Esta aréa do olho pode ter entre 30 e 60 Km de diâmetro, e pode estar aí um tempo excelente - céu limpo, ameno, e sem vento. O problema é que, à sua volta, os ventos atingem os 300 Km/h... e o centro vai-se deslocando. Porém, quem aguentar os ventos e entrar no olho do furacão, "só" tem que segui-lo, para se manter com bom tempo, e seguir o rasto de destruição, que este vai deixando à passagem.

Ora, é curioso que este tipo de movimento espiral é também observado em diversas galáxias que podemos ver com maiores ou menores telescópios. Um desses muitos casos é a Galáxia M101 (Pinwheel), que faz parte do grande grupo das galáxias espirais:
Galáxia espiral M101

Não se vê aqui nenhum "olho", mas a imagem não deixa de apresentar notáveis semelhanças. A questão de não se ver nenhum olho, não significa que não exista, porque ao contrário dos ciclones que se desenrolam sobre a superfície atmosférica da Terra, as galáxias não estão sobre nenhuma superfície. É mais natural que o olho não seja um disco, seja uma esfera, e por isso nunca seria visível por nós. Ou seja, este tipo de formações sugere um tipo de movimento típico de fluidos, e eventuais suspeitas de buracos negros... caso fossem fotografados, poderiam revelar esse olho, sem que isso correspondesse a nada de especial - talvez apenas a uma zona de ausência de gravidade.

Vem esta pequena divagação decorativa a propósito da tempestade em copo de água que começou por ser o caso Trump-Rússia. Essa tempestade tropical foi formada a propósito da campanha eleitoral americana, visando levantar ventos que abanassem a eleição republicana. Depois passou à fase de furacão, em que o presidente americano se viu alvo de um embaraçoso processo judicial. Agora, parece ter subido de categoria, já que Trump decidiu fazer algo novo - solicitou a divulgação dos documentos secretos relativos ao processo:


Claro que isto de revelar documentação secreta é complicado, e um representante dos democratas diz:
 "With respect to some of these materials, I have been previously informed by the FBI and Justice Department that they would consider their release a red line that must not be crossed as they may compromise sources and methods."
... portanto Trump, dando-lhe jeito aqui o mote da transparência, está a cruzar linhas vermelhas do FBI, ou seja, está a elevar o grau da tempestade. Resta saber se está no olho do furacão ou não...

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