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quarta-feira, 11 de julho de 2018

As moedas de Cartago e de Cirene encontradas na ilha do Corvo em 1749

Há mais de um mês, MBP deixou aqui num comentário um link para o seguinte artigo:


referindo, bem, a dificuldade de reportar que o DNA encontrado apontava para uma ligação directa a Portugal. Não deixam de ser antecessores europeus, ou ibéricos, mas o autor do estudo dizia a certa altura:
"most closely matches that of the sequence of a particular modern day individual from Portugal".

Como fenícios e cartagineses andaram pela península ibérica, tal não seria propriamente uma grande novidade, mas é complicado porque se tratava da primeira análise completa do haplogrupo mitocondrial (... first complete mitochondrial genome of a 2500-year-old Phoenician dubbed the "Young Man of Byrsa"). Portanto dir-se-ia que foi azar... até porque por volta de 500 a.C. não é conhecida grande presença cartaginesa, ou fenícia, que se concentrou posteriormente (uns 3 séculos depois) pela região de Cadiz, e na região do Algarve e Alentejo. 

No entanto, se atendermos ao que dizia Bernardo de Brito, havia grande colaboração entre os habitantes da península ibérica e os fenícios, ao ponto dos ibéricos terem ido ajudar nos cercos da cidade de Tiro, quer por Nabucodonosor, quer por Alexandre Magno.

Dado o material encontrado, será de considerar um pouco mais que isso... e pensar que as cidades fenícias, ou mesmo cartaginesas ou cirenaicas, fossem cidades fundadas, ou largamente participadas, por uma comunidade ibérica. Afinal a posição da cidade de Cadiz seria muito mais estratégica no controlo da navegação no Mediterrâneo, do que as cidades fenícias, que pouco mais seriam que praças-forte no meio de território "inimigo", dada a pressão constante que sofriam por mesopotâmicos, egípcios, ou hititas.

Acresce a isto a estranha descoberta de moedas que terá ocorrido em 1749 na ilha do Corvo, que é descrita da seguinte forma (cf. Moedas fenícias no Corvo - Enciclopedia Açores XXI):
Em 1761, o numismata suéco Johann Frans Podolyn relata o seguinte: "No mês de Novembro de 1749, após alguns dias de ventos tempestuosos de oeste, que puseram a descoberto parte dos alicerces de um edifício em ruínas na costa da Ilha do Corvo, apareceu uma vasilha de barro negro, quebrada que continha um grande número de moedas, as quais, juntamente com a vasilha, foram levadas a um convento" [ seria o Convento de São Boaventura, em Santa Cruz das Flores? ], "onde as moedas foram repartidas por pessoas curiosas residentes na ilha. Algumas dessas moedas foram enviadas para Lisboa e dali mais tarde remetidas ao padre Enrique Flórez, em Madrid. O número de moedas contidas na vasilha não se conhece e nem quantas foram mandadas de Lisboa, mas a Madrid chegaram 9 (nove) moedas. ... O padre Flórez fez-me presente destas moedas quando estive em Madrid em 1761, e disse-me que no todo do achado havia apenas moedas destas nove variedades." (Achados Arqueológicos nos Açores, José Agostinho, em Açoreana, Vol. 4, fasc. 1, 1946, pág. 101-2 - O padre Enrique Flórez de Setién y Huidobro, (1701-1773), foi um conhecido historiador e numismata espanhol que pertenceu em vida à Ordem de Santo Agostinho.)
Num artigo da APIA encontra-se a seguinte imagem dessas moedas: 
:

Notamos que as imagens condizem com o tipo de moedas cartaginesas, algumas evidenciando um cavalo, conforme uma que aqui já tinhamos colocado. As moedas também seriam de Cirene (ou Curana), uma cidade grega perto de Tripoli na Líbia.
Xéquel de Cartago com um cavalo.

Já tinhamos falado da estátua equestre do "Cavaleiro do Corvo", e tendo ontem abordado o tema Mustang (sobre os cavalos americanos), surge à interrogação a razão do uso do cavalo como símbolo, por parte dos fenícios ou cartagineses. Aliás, se Aníbal ficou conhecido na História, foi por conduzir um exército com uma forte componente de elefantes, através dos Alpes, até Roma.
Parece um pouco estranho que um povo, conhecido especialmente pela sua capacidade naval, usasse o cavalo como símbolo. No caso de Cartago, dada a ligação que Virgílio estabeleceu entre Eneias e Dido, poderia referir esse elo perdido com Tróia? 

Por outro lado, haveria a possibilidade real dos fenícios ou cartagineses terem efectuado viagens transatlânticas, a que Humboldt deu especial crédito, tendo reconhecido os achados na ilha do Corvo - a estátua e as moedas. Ora, conforme mencionámos no texto sobre o Mustang, não é de excluir uma possibilidade comercial fenícia de importação de superiores raças de cavalos, que as velas e o vento Zéfiro permitiam ligar à América.

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