Páginas

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Bruxelas - usadas imagens do atentado de Moscovo

Imagens do atentado ocorrido em Moscovo em Janeiro de 2011 (no Aeroporto de Domodedovo) foram preparadas e usadas para passar em todos os media como sendo as primeiras imagens do atentado de Bruxelas em Março de 2016 (no Aeroporto de Zaventem).

O jornal britânico The Independent mostrava a notícia logo no próprio dia:



... mas a agência noticiosa belga VRT já tinha lançado o vídeo para toda a comunicação social mundial repetir até à exaustão. Depois, tendo sido notado o ridículo do engano que era lançado para todo o mundo, a agência "pediu desculpa pelo engano", e o vídeo foi deixando de ser passado, sem que as TVs que o usaram se tivessem dado ao trabalho de reportar o engodo lançado ao incauto.

O curioso é que não se tratam exactamente das mesmas imagens (nota-se perfeitamente que o ângulo é diferente, e uma imagem capta mais que outra), mas é claro que reportam o mesmo acontecimento - o atentado de Janeiro de 2011. 
Ou seja, seria uma outra câmara, muito próxima da câmara segurança do aeroporto russo... que talvez até estivesse a filmar sem que os russos soubessem. Foram essas imagens da outra câmara, as usadas pela VRT belga, colocando ainda uma data falsa, como se se tratasse do dia do atentado 22 de Março de 2016. 
Ora, este tipo de erros em que aparece até uma data falsa no vídeo, não são daqueles "enganos acidentais"... claramente alguém pretendeu que o atentado de Bruxelas fosse uma encenação, usando para isso imagens do atentado em Moscovo, ocorrido 5 anos antes.

Por isso chega a ser ridículo o pedido de desculpas:
VRT news agency apologised on Twitter for the CCTV footage being fake.

Poderá até acontecer que o pessoal da VRT se limitasse a passar informação sem qualquer verificação da fonte, mas isso não diminui a responsabilidade dos próprios, se nada fizeram para saber como tal fabricação ocorreu, e com que motivos.... e se argumentarem que têm uma investigação interna em curso (a habitual desculpa), pois nada disso desculparia que a VRT deixasse morrer o assunto até aqui, como se fosse um mero lapso inocente. 

Depois, é óbvio... estes erros acumulam às dezenas ou centenas, mas são sempre todos desculpáveis e admissíveis. Quem se atrever a supor que os atentados nem sequer tiveram lugar (como se poderá ler na caixa de comentários da notícia do The Independent), é rapidamente acusado de inventar "teorias da conspiração".

O caso da BBC e da "demolição" do WTC-7 no 11 de Setembro de 2001
A situação mais ridícula deste tipo, entre várias, ocorreu num directo de BBC no próprio dia 11 de Setembro, em que o apresentador inquire uma jornalista em Nova Iorque sobre a queda do edifício... um edifício que cairia tal como as duas torres gémeas, em demolição controlada, mas que na altura em que é feita a entrevista eles não se apercebem que o edifício não tinha ainda caído, só cairia 15 minutos depois.

Portanto, já sabemos que todos estes enganos acontecem... ainda que é complicado justificar como erro da Reuters a notícia da queda de um edifício, quando passados 15 ou 30 minutos ele vai cair.
Sim, há também a hipótese de viagens ao futuro... mas a BBC não tentou essa desculpa.

domingo, 24 de abril de 2016

Mary Poppins, Dona Celeste, e o 25 de Abril

Quando há dois anos publiquei um postal sobre a vitória dos ABBA em 1974, com o tema Waterloo, deixei na caixa de comentários esta parte de resposta à Maria da Fonte:
Quanto aos cravos da City londrina, creio que o Carlos S. Silva deu uma vez um link (do filme Mary Poppins?) em que se mostrava o tal valor simbólico do cravo para a finança.
Os ingleses usam a palavra "Carnation" que é correspondente ao nosso Encarnado, com o significado de "encarnação"... e portanto até aqui, nas cores e flores, tem referências messiânicas. O nosso nome "cravo" remete para os cravos pregados aos pés e mãos, e a velha questão de sempre era a de associar a Jesus, Messias reencarnado, ou a outro Messias encarnado.
O lado católico sempre foi mais pela rosa... pelo rosário, com os espinhos, e o movimento Rosacruz, que falamos do outro lado, parece ser símbolo disso concatenando até na palavra a rosa à cruz.
Do lado judeu, creio que a experiência com as tulipas holandesas foi justamente para divertir desse simbolismo católico ligado a Jesus... para além dos judeus terem assim extorquido o dinheirinho todo aos holandeses.

A questão já tinha sido ligada há muito num postal anterior: Giroflé Girofla:
O cravo, cujo nome vulgar é ainda Oeillet Giroflé, era cantado pelas crianças, ainda antes de 1974 (data em que a ópera fazia cem anos).
Uma pequena manifestação subtil de coordenação de vontades, para além da vontade reinante...
Não indiciando certamente nenhum prelúdio de acontecimento, que registo ficou desta admirável coincidência?
Passado pouco tempo, outra palavra "o crava" entrou rapidamente no jargão, e em espírito irónico falava-se na "revolução dos cravas". Uma simples mudança no final... Girofle, Girofla!
E em tempo de cravas, continuaremos a ouvir as crianças a cantar:
Giroflé, Giroflá... o que foste lá fazer? Fui lá buscar uma rosa...
... isto numa altura em que curiosamente o BES decidia fazer publicidade com esta canção.

Mas de que maneira isto se relaciona ao Jardim da Celeste?
A explicação era dada por Carlos S. Silva e cito-o na reposição que fez em 5 de Junho de 2015
__________ Como escrevi num outro post, há tempos apagaram-me uma publicação em que eu explicava o feio significado dos cravos vermelhos do 25 de Abril de 1974... Um Amigo, benevolamente, guardou o post e enviou-mo. Volto a publicá-lo, desta feita sem o pequeno vídeo, mas com uma imagem elucidativa:
Os Banksters Rothschilds, Mary Poppins e os cravos vermelhos da D. Celeste...
Na véspera de um dia de mistificação, vou-vos contar uma história, esta autêntica...
Os cravos vermelhos são, desde o Séc. XIX, um dos principais símbolos dos Rothschilds e dos banqueiros da City de Londres. Simbolizam o poder da banca internacional, como muito bem é caracterizado no final do filme «Mary Poppins» do Walt Disney (que detestava os banqueiros e os Rothschilds)...
No dia 22 de Abril de 1974, entra no Tejo uma esquadra da NATO/OTAN, incluindo um porta-aviões e dois navios de guerra electrónica, o USS Warrior e o Iate Apollo. Na noite desse dia, decarregam cerca de trinta contentores no porto de Lisboa, cheios de cravos vermelhos da América do Sul. Para quem não saiba, em Portugal os cravos só florescem nos finais de Maio e início de Junho... Agora há estufas para cultura intensiva, mas na época não...
Na madrugada do dia 25/4, uma frota de camiões da NATO distribuiu esses cravos por várias unidades militares revoltosas, para que os soldados os colocassem nos canos das armas. Finalidade: indicar às forças «amigas» (da banca internacional) que estava tudo bem, e que o golpe era controlado por «eles»... Isto foi-me confirmado por várias fontes militares ligadas à NATO...
Depois, para encobrir a vergonhosa verdade. inventou-se a historieta (para tótós) de que teria sido uma certa D. Celeste Martins Caeiro, empregada da limpeza de um restaurante no edifício «Franjinhas» da rua Brancaamp que, tendo o dono (não era um dono, mas uma dona, e a «história» para tótós está toda aldrabada), que estava a aprontar a sala para a inauguração, dito para os empregados levarem as flores (cravos que ainda não havia à venda nessa altura em Portugal) para casa... A D. Celeste leva-as para o Largo do Carmo - pessoalmente, a comandar uma frota de camiões da NATO - e começa a distribuir os ditos cravos, sabendo de antemão o que nem a PIDE/DGS suspeitava!
Outras «fontes revolucionáris» dão a D. Celeste como florista com lojinha no edifício do Cinema Império, que, com colegas, andou a recolher cravos inexistentes nos stocks para distribuir aos revoltosos... Estava mais bem informada que a PIDE, a CIA e a KGB, não contando o MI 6 de Sua Magestade...
Enfim, e assim se alicerçam «a martelo» as mentirolas de Abril... Não a 1, mas a 25... E continuam...
____________ Carlos S Silva
e no dia anterior Carlos S. Silva escrevera:
A censura do Facebook apagou-me há tempos um post onde eu explicava detalhadamente a orquestração do 25 de Abril de 1974 pela CIA americana, e descrevia a distribuição dos cravos vermelhos - símbolo da banca da City de Londres - pelas forças da OTAN que haviam entrado no Tejo a 22 de Abril...
Também descrevi, num dos comentários, o episódio em que as forças revoltosas da Escola Prática de Cavalaria foram paradas pelos blindados de lagartas (tanques M47) do Regimento de Cavalaria 7, fiéis ao governo de Marcello Caetano, quando estavam no Terreiro do Paço e avançavam para a Ribeira das Naus (primeira foto). Nesse momento, a fragata Gago Coutinho (segunda foto) posicionou-se frente à praça, para fazer fogo sobre os revoltosos assim bloqueados, caso estes não se rendessem.
Nesse momento, o contratorpedeiro canadiano Huron das forças da OTAN meteu-se entre a Gago Coutinho e a Praça, anulando intencionalmente a manobra da nossa fragata, e abrindo caminho aos revoltosos (terceira foto). 
Por fim, na página de Lisboa de Antigamente, encontrei as fotos da sequência funesta, demonstrando que afinal, a «Revolução dos Cravos» não passou de um golpe americano da CIA...
Se calhar, também me vão censurar este post...
_____________________ 
Salgueiro Maia e as forças no Terreiro do Paço
Fragata Gago Coutinho (F 473) ameaça bombardear posições revoltosas
Contra-torpedeiro Huron (DDG 281) da NATO bloqueia a Gago Coutinho
face ao seu alvo - forças de Salgueiro Maia
Vídeos de Mary Popins
Nos seguintes vídeos de Mary Poppins vemos os elementos da City de Londres com os seus cravos vermelhos:

Conforme descrito no vídeo de Mary Poppins:
Mary Poppins relates the founding of the United States with a run on a bank:
Mr. Dawes: In 1773, an official of this bank, unwisely loaned a large sum of money, to finance a shipment of tea to the American colonies. Do you know what happened? 
Mr. Banks: Yes, sir. Yes, I think I do. Uh, uh, as the ship lay in Boston harbor, uh, a party of the colonists dressed as Red Indians, uh, boarded the vessel, behaved very rudely, and, and threw all the tea overboard. This made the tea unsuitable for drinking, even for Americans. 
Mr. Dawes: Precisely. The loan was defaulted. Panic ensued within these walls. There was a run on the bank! 
Mr. Dawes (Snr): From that time to this, sir, there has not been a run on this bank until today! A run, sir, caused by the disgraceful conduct of your son. Do you deny it? 
It then goes on to equate humanity's emancipation from capitalism to the liberation of words we utter, the languages we speak:
Mr. Banks: Supercalifragilisticexpialidocious. Mary Poppins was right. It's extraordinary. It does make you feel better! 
Mr. Dawes (Snr): What are you talking about, man? There's no such word. 
Mr. Banks: Oh, yes. It is a word. A perfectly good word, actually. Do you know what there's no such thing as? It turns out, with due respect, when all is said and done, that there's no such thing as you!
Fui ao jardim da Celeste
A mais antiga menção que encontrámos de "Fui ao Jardim da Celeste" é a de um documentário de 1952 de Azinhal Abelho e Orlando Vitorino, elementos do Movimento 57. Em 1963 aparece num Boletim Cultural de Luanda(?) a menção a Giroflé, Girofla... comentando haver versões diferentes da canção infantil nas Beiras e no Alentejo. Portanto, é possível que o cenário de toda esta ópera bufa (que comemorava 100 anos em 1974) tivesse sido posto em prática logo nos anos iniciais de 1960, ao mesmo tempo que toda a África iniciava todos os movimentos independentistas... ou seja, a fase final dos movimentos independentistas coloniais, após a 2ª Guerra Mundial, tal como haviam ocorrido em toda a América do Sul, após Waterloo, sob coordenação da Grande Loja de Londres. Para esse grande final "pós-Waterloo" só faltava quebrar a teimosia de Marcelo Caetano em manter as colónias... se "E depois do Adeus" serviu de sinal interno, a vitória de "Waterloo" serviu de sinal externo em 1974. 

A presença da Armada da NATO, sempre ignorada nos relatos do 25 de Abril de 1974, que foi brilhantemente evidenciada por Carlos S. Silva... notando que foi mais do que uma presença, foi mesmo uma intervenção real nos acontecimentos que permitiram a Salgueiro Maia o desfecho conhecido.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Nebulosidades auditivas (34)

Há já uns dois anos, encontrei este vídeo no youtube:


O interessante é a combinação feita por um certo "Mr. Kalashnikov", que junta o tema "The day before you came", do último album dos ABBA:


com o mini-filme "The Gallery", de Jos Stelling (2003):


... com uma certa medida certa para o efeito pretendido!

Depois, ainda que o vídeo dos ABBA seja interessante, e a história de Jos Stelling, com uns longos 26 minutos, esteja plena de humor... parece-me que a combinação de ambos resultou - tal como poderia ter resultado com o anterior "The Waiting Room" (1996), praticamente com o mesmo tipo de enredo. Aliás, no outro mini-filme desta "triologia erótica", intitulado - "The Gas Station" (2000), Jos Stelling não deixou de incluir música apropriada.

Ora, Jos Stelling é um realizador consagrado, em Cannes, Berlim, Veneza, etc... em festivais que passam um pouco ao lado do circuito comercial, mas que não deixou de exibir estes filmes, que poderiam fazer facilmente uma distribuição bem sucedida num público alargado. Tirando o vídeo inicial, que conta com mais de meio milhão de visualizações (e que nem sequer é o original do Mr.Kalashnikov, é apenas de alguém que teve mais sucesso na divulgação), os outros vídeos, com os originais de Jos Stelling são praticamente desconhecidos. O "fenómeno" de um vídeo alcançar milhões de visualizações no youtube, pouco tem a ver com o vídeo, e tem muito mais a ver com os processos associados à distribuição, ou seja com o caudal do rio que é usado. São raros os casos em que o processo surge de forma espontânea, por mais valia que tenha o material inicial.

Enquanto holandês, Jos não deixou de incluir o tema do "Holandês Voador" (1995) na sua filmografia, onde encontramos o mesmo actor (Gene Bervoets) noutro papel, menos cómico... o Holandês Voador é um tema aliás mais popularizado pela ópera de Wagner (ainda que haja referências recentes, no ainda mais popular sucesso de Hollywood - Piratas das Caraíbas)


e este navio fantasma, que era avistado no território do Cabo da Boa Esperança, foi curiosamente explicado como resultado do fenómeno Fata Morgana - projecção resultante da difracção da luz à distância, devida a linhas de projecção diferentes resultantes de diferenças de temperatura... e que parece fazer aparecer os navios a flutuar sobre a linha de água.
Fada Morgana - ilusão óptica coloca o navio acima do nível de água.
O nome Morgana está associada à lenda do Rei Artur, à sua irmã, que sendo feiticeira, seria capaz de de aparecer acima das águas. Esses eram alguns poderes atribuídos em tempos de mitologias druidas, mitos que foram desaparecendo com a implantação do cristianismo, tendo apenas depois regressado no tempo de navegações.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Nebulosidades auditivas (33)

Em galês do inglês...
Gesta é uma narração antiga, histórica. Som idêntico tem "Jester", o bobo, que trazia alguma inteligência ao mundo medieval, condicionado pelo despotismo e intriga cortesã. As gestas, acompanhadas de gestos, cómicos, usariam o rio do rir, para aprender com atenção, para a prender com a tensão, uma corrente que fluindo do passado aparecia como presente.
Esse passado seria o "yesterday" (... e esta dei), remetido como "Jester day" aos dias de ontem, da narrativa dessa gesta. A peça, "play" seria um "pelei", uma "peleja" remetida ao "pelejar" dos "players", o habitual jogo de pancadaria das marionetas, manietadas com fio oculto. Similar relato das gestas seria jogo dos jograis face ao jugo implantado.
"Script for a jester's tear", ou "escrito fôra, gestas te ia", dos Marillion (ou Marília), vale muito pela prestação do vocalista Fish (fixe), e mais não vou insistir nestas co-coincidências.
Ai sei, "I say", de outras irrelevantes, mas interessa-me complementar com a trova do trovejar, do reino do "Tempo" de Zeus, que sucedeu ao "Tempo" de Cronos... porque tendo falado de Júpiter como Jove, e assim associado a Chove, dizem os ingleses "rain" como "reine"; e munido do Raio, o filho de Raia, seria "ray", ou seja "rei". Na linguagem dos cocós, serão co-coincidências, mas compete aos galos não soturnos ver a luz. Qualquer alvorada dispensa o irritante anúncio dos galos, mostrará apenas com penas lacrimejantes das outras aves, que os galos estavam extintos e só restavam cocós no poleiro do galinheiro.
Marillion (com Fish) - Script for a Jester's tear

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Lava sujo, o sabujo

Acabei de ver em direto a cómica votação de "impedimento" ou impeachment colocada contra Dilma Rousseff. Há palhaçadas que precisam de ser vistas, para acreditarmos minimamente na existência de tantos palhaços levados aos mais altos destinos de uma nação. A certa altura, os deputados com tanto agradecimento aos filhos, às mulheres, às mães, às tias, às igrejas evangelistas, ou até às clínicas de recuperação de drogados, não se percebia se esses actores estavam numa cerimónia de óscares, numa cerimónia tribal de cura, ou no meio de uma assembleia legislativa, exibindo as suas lealdades nos conhecidos processos de compra de votos.
Tchau Brasil - é Chatu, mas o Tachu querido, Chuta a querida.
Independentemente de se ver que mais de metade da assembleia era constituída por trogloditas, mais apropriados para claques futebolísticas, do que para cumprir qualquer cargo estatal; vê-se claramente que nada tem de imoral o processo de destituição presidencial. 
Se uma assembleia legislativa arregimenta mais de 2/3 dos votos em oposição ao presidente, fica claro que a posição presidencial tem um suporte legislativo frágil.
Mesmo no nosso sistema parlamentar, 2/3 do parlamento podem rever a Constituição e assim retirar poderes ao Presidente, ao ponto de o tornar apenas figura decorativa. Isso foi feito com Ramalho Eanes, que viu o parlamento fazer revisões constitucionais que lhe retiraram sucessivamente uma boa parte dos poderes iniciais. 
Querendo manter uma posição minimamente digna, no meio de tanta sabujice, o melhor que Dilma teria a fazer era concluir pela demissão voluntária, pois a perda de apoio político legislativo ficou evidente. Aliás foi desde o início esse o problema do PT - a necessidade de subsidiar uma classe política corrupta, em troca de votos... e como Aristófanes bem sabia, nada melhor para um pulha do que transferir para outros a culpa dos seus males. E como a pulhice pode ser uma coisa herdada familiarmente, não é um problema que se resolva no espaço de uma geração ou duas.

O problema raramente é do sistema político, é de quem o usa.
Por muito mau que seja o sistema político, quando é exercido por um significativo conjunto de pessoas com formação moral, nunca é verdadeiro obstáculo a nada. Em contrário, por melhor que seja o sistema, basta ser minado por pessoas sem formação ou escrúpulos, para se tornar num sistema decadente. Um dos exemplos mais notáveis da República Romana foi o caso de Quintus Fabius Maximus, nomeado 5 vezes consul, e duas vezes como ditador contra a ameaça de Aníbal... No entanto, Fábio restitui sempre o poder ao Senado de Roma, nunca se deslumbrando com o seu papel individual.
Ao contrário, as virtudes dessa república romana caíram quando Júlio César se quis manter como ditador, sendo por isso assassinado por um significativo conjunto de senadores romanos... mas ainda assim sem capacidade de evitar a monarquia imperial, que se seguiria com Octávio.
Mas, talvez mais do que apenas por vontade própria, quando Júlio César incorporou o Egipto de Cleópatra em Roma, incorporou a Monarquia Universal, herdada de Alexandre Magno pelos Ptolomeus egípcios... uma monarquia que se instituíra desde o tempo do domínio dos caldeus sobre a Assíria. Uma monarquia recuperada a Ocidente na Idade Média, por Carlos Magno, e que ao poder dos Habsburgos sucedeu a monarquia inglesa, sempre mantida em continuidade.
Assim, há apostas que são simplesmente ganhas por vício do jogo nos seus bastidores... quem pretende ter razão "porque sim", usa razões sem razão. Afinal, basta envenenar todas as alternativas, para não mostrar alternativa.

Dar a condução da política a incompetentes, é o mesmo que atribuir cartas de condução na farinha Amparo. É de uma total inconsistência constitucional, fazer jurar uma Constituição a quem nunca a leu. É claro que bastaria exigir o mínimo critério profissional - quem quer fazer política deveria ao menos fazer uma prova de que conhecia a Constituição que jura... tal como quem se quer aventurar numa estrada tem que mostrar saber o código da estrada. Porém, como os sistemas constitucionais são essencialmente uma farsa, que serve para vencer o povo, convencendo-o de um poder que não detém, tudo serve para ludibriar o pagode, com mais ou menos palhaçada, consoante os actores envolvidos.

Só que, quando o argumento é mau e rasteiro, já dificilmente se vêem os actores, e apenas se vê o mau enredo, e a desorientação dos guionistas, que seguem sempre o mesmo guião, o velho guião, que nem sequer foi escrito por aqueles que... guiam
Como se percebe dos pássaros, há guias e águias... e só o som se assemelha.

domingo, 17 de abril de 2016

Os pássaros (8) de Aristófanes

Tendo Prometeu sido condenado por Zeus a sofrer a repetida pena de ver os seus fígados comidos por uma águia, é apropriado Aristófanes ter trazido o titã à peça. Prometeu esquece a ave instrumental da tortura, mas não esquece o mandante, revelando a Pistétero a forma de retirar o poder a Zeus... que consistia no casamento com a donzela Basileia (neste caso sem qualquer relação com a cidade suiça).

Por revelar o segredo do fogo aos humanos, Prometeu é agrilhoado
e condenado a ver uma águia comer-lhe repetidamente o fígado.

Esta peça de Aristófanes, pela sua elevada carga de noções de ética e justiça, chegou a ser sugerida como uma possível influência para os redactores do Novo Testamento, pelo historiador Arnold Toynbee. Segundo a wikipedia, Toynbee comparou o papel de Pistétero com o de Jesus, a cidade Nefelococugia ao "reino dos céus", e a identificação do símbolo da pomba com o Espírito Santo, sendo na peça a pomba associada a Afrodite Urania, no conceito de amor espiritual.
Bom, mas se tudo isto parece exagerado, também não deixou de ocorrer a representação de anjos como seres alados, mas onde as asas devem ser entendidas como uma natural propriedade dos habitantes do "reino dos céus".
Também em certa medida, podemos ver na confrontação dos personagens que desfilam perante Pistétero, um modelo de forma para servir a crítica moral usada nos Autos (ou Actos) de Gil Vicente.
Nesta parte desfilam também personagens-tipo, criticados pelas suas acções ou profissões. E se Aristófanes bane um poeta oportunista, invoca uma surpreendente remissão de um parricida, enquanto assinala "delatores" como outro exemplo de caso perdido. A implantação de um sistema de justiça trouxera a Atenas uma casta de parasitas - os "delatores", elementos prontos a explorar os pontos fracos da sociedade em benefício próprio, abdicando de qualquer consciência moral.

As virtudes de um sistema democrático não estão propriamente no sistema, mas sim na moral de quem o usa. Qualquer sistema político tem fraquezas que podem ser exploradas por oportunistas de ocasião, em benefício próprio... na habitual diferença entre protagonistas de ilegalidade - os criminosos, e os exploradores imorais da legalidade - os pulhas.
pulha explora a diferença entre ilegalidade e imoralidade, para poder tirar partido da sua imoralidade dentro da legalidade... e o exemplo do "delator" é usado por Aristófanes para condenar essa prática, essa arte de simples pulhice, que já passava com sucesso financeiro de pais para filhos.

O aspecto mais flagrante de cinismo social, que Aristófanes não deixa de criticar oportunamente, é do uso e abuso dos escravos pela sociedade ateniense... caso singular que é também ilustrado noutra sua peça, num diálogo de Praxágoras:
Quero que todos tenham parte do todo, e toda a propriedade seja comum, não haverá mais ricos e pobres (etc ...)- Ah... mas, nesse caso, quem cavará o solo?Ora, os escravos!
Assim, Aristófanes apesar de elevar Pistétero à condição de herói da sua comédia, começa aqui por ilustrar que, para os escravos, a situação não mudava muito com a mudança de poder que se estava a processar... também o papel reservado para os servos não mudava muito na escritura do Novo Testamento, continuavam a dever obediência ao seu senhor, tal como alegoricamente os fiéis deviam obediência a Jesus. Também a Igreja de Roma iria proclamar uma igualdade espiritual humana, mas quem continuaria a cavar o solo seriam os servos. 


_____________________________________

As Aves 

(de Aristófanes)

continuação de (7) , (6) , (5) , (4) , (3) , (2) , (1)
_____________________________________


Coro (cantando): Em breve esta cidade terá uma multidão de homens. A Fortuna favorece-nos e os homens sentem amor pela nossa cidade.
Pistétero (para o escravo Manes)Venha, apresse-se a trazer essa cesta cheia de asas.
Coro (cantando): Não irá o homem encontrar aqui tudo o que pode agradá-lo? Sabedoria, amor, as garças da Graças divinas, o doce rosto da paz?
Pistétero (Manes entra com outra cesta): Oh! Servo preguiçoso, não queres apressar-te?
Coro (cantando): Que a cesta seja trazida rapidamente. Vá, bate-lhe como eu faço, mete-lhe um pouco de vida... ele é tão preguiçoso como um burro.
PistéteroSim, Manes é um grande preguiçoso.
Coro (cantando): Ponha as asas em ordem; divida em três partes de acordo com as aves de onde vieram; as aves musicais, as proféticas e as aquáticas; de seguida, deve cuidar em distribuí-las aos homens, de acordo com a personagem escolhida. 
Pistétero (Manes entra com nova cesta): Oh! Por todos os falcões, não suporto ver-te tão lento e preguiçoso. (Bate em Manes, que foge).

(Chega um jovem Parricida)

Parricída (cantando): Oh! Poderoso! Tornar-me-ei numa águia, que voa pelos céus! Oh! Poderoso! Voarei por cima das ondas azuis do grande mar! 
PistéteroAh! Parece que a notícia era verdadeira, eis alguém que chega falando de asas. 
Parricída: Nada é mais encantador do que voar... sou um ornitomaníaco, e voarei sob sua direcção, porque quero viver convosco e obedecer a vossas leis.
PistéteroQue leis? As aves têm muitas leis...
Parricída: Todas elas... mas a que mais me agrada é que, entre as aves é considerado bom bicar e estrangular o próprio pai.
PistéteroSim, por Zeus! O que se atreve a atacar seu pai, enquanto pintainho, é um sujeito corajoso.
Parricída: Certo, logo quero morar aqui, pois quero estrangular o meu pai e herdar sua fortuna. 
PistéteroMas temos também uma lei antiga escrita nas colunas das cegonhas, que funciona assim: "Se o pai cegonha criou suas crias e as ensinou a voar, as jovens devem em troca alimentá-lo."
Parricída (petulantemente): Fiz esta distância e sou obrigado a alimentar o meu pai?! 
PistéteroNão, não, jovem amigo! Já que veio até nós com tal disposição, dar-lhe-ei estas asas negras, como se fosse um pássaro órfão. Além disso, ouça alguns bons conselhos, que recebi na infância. Não bata no seu pai, mas tome estas asas numa mão e estas esporas na outra; imagine que tem uma crista de galo, monte guarda e lute. Viva pelo seu soldo e respeite a vida do seu pai. Você é um valente! Muito bem então... voe para a Trácia e lute.
Parricída: Por Dionísio, tem razão! Seguirei então seu conselho.
PistéteroPor Zeus, agirá sabiamente.

(O Parricida parte, e chega o poeta ditirâmbico Cinésias) 

Cinésias (cantando): Descolo para o Olimpo nas minhas asas ligeiras, e no meu voo percorro, um após outro, os mil caminhos da melodia... 
Pistétero: Este companheiro precisará de um carregamento completo de asas! 
Cinésias (cantando): De espírito e corpo intrépido, procuro um novo folgo. 
PistéteroNós te saudamos, Cinésias, homem-tília! Por que veio aqui, coxeando? 
Cinésias (cantando): Quero ser um pássaro, um rouxinol melodioso. 
PistéteroChega de cantorias, diga-me ao que vem?! 
Cinésias (cantando): Com as asas que me der, quero subir além do ar, e aí inspirar novas canções das nuvens vaporosas e nevosas.
PistéteroInspirar músicas das nuvens?
CinésiasÉ delas que depende a nossa arte. Os ditirambos são aéreos, tenebrosos, obscuramente densos, alados. Escuta, e entenderás rapidamente.
PistéteroNão, certamente que eu não!
CinésiasSim, tu, por Hermes... (começa a cantar) "Viajarei, sob a forma de ave no teu império alado, fendendo o éter com o longo pescoço..."
PistéteroPare! Já chega.
Cinésias"... lançado em voo sobre o mar, levado pelo sopro dos ventos..."
PistéteroPor Zeus, devo meter termo a este sopro! 

(Pistétero tenta calar Cinesias, enfiando-lhe um par de asas pela boca dentro)

Cinésias (fugindo): "... agora correndo ao longo dos trilhos de Notus, me aproximando do Bóreas, fendendo os resíduos do éter." Ah! Meu velho, você teve uma brilhante ideia.
PistéteroO quê? Não estás contente de ir fendendo o ar? 
CinésiasTratais mal um poeta ditirâmbico, por quem as tribos disputam o estilo.
PistéteroFicarias connosco, qual Leotropides, formando um coro de aves para a tribo Cecropida?
Cinésias: Brincais comigo, é claro. Mas não tereis paz, enquanto não tiver asas para cruzar os céus.

 (Cinésias parte e chega um Delator profissional, um sicofanta)

Delator: Que aves indigentes são estas, com penas caídas? - uma visão tão lamentável. Responda-me, andorinha com as asas manchadas.
PistéteroOh, não! Isto já é uma invasão regular que nos ameaça - surge outro a cantarolar.
Delator: Andorinha com as asas manchadas, mais uma vez te interpelo.
PistéteroDeve estar a falar com o seu manto, com nostalgia das andorinhas.
Delator: Onde está aquele que distribui asas aos que chegam? 
PistéteroAqui estou, mas deve informar-me dos seus propósitos!
Delator: Não faça perguntas. Quero as asas, e as asas eu devo ter. 
PistéteroQuererá voar direito a Pellene?
Delator: Eu? Ora essa, sou um acusador das ilhas, um delator... 
PistéteroAh! Uma bela profissão!
Delator: ... um criador de acções judiciais. Daí a minha necessidade de asas, para sondar nas cidades, e arrastá-las para processos na justiça.
PistéteroFarias isso melhor, se tivesses asas?
Delator: Não, mas assim já não temeria ladrões e piratas. Poderia regressar com os grous, trazendo como lastro uma grande quantidade de processos.
Pistétero: Um jovem como tu, ganha a vida denunciando estranhos?
Delator: Ora, e por que não? Eu não sei cavar!
PistéteroPor Zeus, mas há formas honestas de ganhar a vida na sua idade, sem velhacaria!
Delator: Meu caro, estou-lhe a pedir asas e não palavras. 
PistéteroApenas as minhas palavras lhe poderão dar asas!
Delator: E como, com palavras, dais vós asas?
PistéteroAs palavras dão asas a qualquer um.
Delator: A qualquer um? 
PistéteroNão saberás tu o que os jovens ouvem frequentemente dos pais nos barbeiros? Um diz: "é espantoso como ao meu filho os discursos de Diitrephes deram asas para a equitação", outro diz: "o meu filho voa na poesia trágica, com as asas da imaginação".
Delator: Então os discursos dão asas? 
PistéteroSem dúvida, as palavras dão asas à mente, e fazem um homem elevar-se aos Céus. E assim, espero que este discurso te eleve para uma profissão menos degradante. 
Delator: Mas... não quero! 
PistéteroQue farás então? 
Delator: Não vou renunciar à minha criação. De pais para filhos, sempre fomos delatores. Dai-me pois asas ligeiras, de falcão ou francelho, para que possa incriminar estrangeiros, sustentar aqui a acusação contra eles, quase ao mesmo tempo que lá regresso.
PistéteroEntendo. Pretendes que estrangeiros sejam aqui condenados, ainda antes de chegarem? 
Delator: Isso mesmo! 
PistéteroPois... e enquanto ele se encaminha para cá, tu voas para lá, despojando-o de terras e bens. 
Delator: Entendeste bem! Andarei cá e lá, rodopiando como um pião.
Pistétero: Sim, apanhei a ideia a girar. Espere, tenho aqui umas "Asas de Córcira[designação de um tipo de chicote]... onde as quer colocar?
Delator: Oh! Desgraçado... mas, isso é um chicote! 
PistéteroNão, não! Asseguro-te que são asas que te fazem rodopiar.
Delator (chicoteado por Pistétero): Oh! Desgraçado estou eu... 
Pistétero (enquanto o delator foge)Voe daqui para fora, miserável, cobarde, digno de mil mortes. Sentirás ardente a chama das falsidades a que chamas justiça. (Falando aos escravos): Chega, vamos recolher as nossas asas e sair daqui.
Coro (cantando): Nos voos etéreos vemos coisas novas, estranhas, extraordinárias além de qualquer crença. Há uma árvore chamada Cleonymus de espécie desconhecida. Não tem coração, não serve para nada, tirando sua cobardia e altura. Na primavera floresce em calúnias, e no outono, em vez de folhas, deixa cair escudos. [Cleonymus, general ateniense, deixou cair o escudo em batalha e fugiu]
Longe, na região tenebrosa, há um país onde sem lanternas, onde homens e heróis vivem e comem juntos, excepto à noite... porque seria um mau encontro. Se qualquer mortal encontrasse o herói Orestes, seria logo despido e coberto de pancada da cabeça aos pés.

(O titã Prometeu entra mascarado, tentando esconder sua identidade)

PrometeuQue desgraça a minha! Esperemos que Zeus não me veja. Onde está Pistétero? 
Pistétero: Oh! Que é isto? Um homem mascarado?
PrometeuVê algum deus atrás de mim? 
Pistétero: Não, nenhum. Ora, mas quem és tu?
PrometeuPor favor, que tempo é? 
Pistétero: O tempo? Cronologicamente... pouco mais que meio-dia. Quem é você?
PrometeuÉ hora do retorno dos bois, ao cair do dia, ou mais tarde? 
Pistétero: Como te vejo horrorizado!
PrometeuComo está o tempo? Zeus, está juntando ou dispersando as nuvens?
Pistétero: Guarda-te, vais gemer.
PrometeuEstá bem, vou levantar a minha máscara.
Pistétero: Oh! Meu caro Prometeu!
PrometeuChiu... fala mais baixo!
Pistétero: Porquê? Qual é o problema, Prometeu?
PrometeuChhh... Não me trate pelo nome! Será a minha ruína, se Zeus me vê aqui! Mas se quiser saber como andam as coisas lá em cima, abra esta sombrinha, para que os deuses não me vejam. 
Pistétero: Ah! Sim, posso reconhecer Prometeu nesse truque astuto. Vem para debaixo da sombrinha e fala sem rodeios. 
PrometeuEntão, escute!
Pistétero: Estou a ouvir, prossiga!
PrometeuZeus está feito!
Pistétero: Ah! Desde quando?
PrometeuDesde que fundaste esta cidade no ar. Não há mais sacrifícios para os deuses, até porque o fumo das vítimas não chega até nós. Não chega nem a mais pequena oferenda! Jejuamos, como se estivéssemos nas Tesmoforias, pela ausência de sacrifícios. Os deuses bárbaros, morrendo de fome, berram como Ilírios, e ameaçam descer sobre Zeus, se ele não reabrir os mercados onde se vendem pedaços de vítimas.    
Pistétero: O quê? Há portanto, outros deuses, que habitam acima de vós?

PrometeuSe não houvesse deuses bárbaros, quem seria o patrono do cário Execestides?
Pistétero: E como se chamam esses deuses bárbaros?
PrometeuO seu nome? São os Tribálios!
Pistétero: Ah! Sim, faz sentido... a palavra "tribulações" deve vir daí! 
PrometeuÉ provável, mas uma coisa posso dizer seguramente - vão chegar aqui enviados de Zeus e dos Tribálios, para negociar a paz. Não consintam nada, se Zeus não devolver o ceptro às Aves, e se não te der Basileia como esposa.


Pistétero: Quem é que é Basileia? 
PrometeuUma esbelta donzela que fabrica os raios de Zeus. Todas as coisas vêm dela - prudência, equidade, sabedoria, a virtude, a frota marítima, calúnias, o tesouro público e os triobolus...  
Pistétero: Ela administra tudo isso para ele?
PrometeuÉ como te digo, se tu a conseguires, tens tudo. Foi por isso que vim aqui, com a finalidade de te prevenir, pois é desde tempos imemoriais que velo pelo bem humano.
Pistétero: Oh, sim! É só graças a ti, entre os deuses, que podemos grelhar a nossa carne.
PrometeuEu odeio os deuses, como bem sabes!
Pistétero: Sim, por Zeus, foste sempre seu inimigo!
PrometeuEm relação a eles eu sou um Timon! Mas devo regressar apressadamente. Dê-me a sombrinha. Se Zeus me vir lá de cima, pensará que estou escoltando uma Canefora
Pistétero (indo para o mato com um vaso): Espere, aproveite para lhe levar isto também.

(continua)
_______________________

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Lava islandesa (ou carapuça do Panamá)

Praticamente 6 anos depois da erupção do vulcão islandês, ou da ocultação do relatório sobre os problemas financeiros na Islândia: 
... eis que surge nova carapuça, agora sob a forma de barrete do Panamá.

Ver artigos jornalísticos sobre "offshores" e "paraísos fiscais", como se fossem uma novidade acabada de descobrir com o pseudo-caso dos Panama Papers, não é ridículo, nem constrangedor, chega mesmo a meter dó. Os media mostram a sua face de exército eficaz para servir para uma agenda específica, por figura mais estúpida e idiota que façam.

Basta olhar para o mapa dos países afectados pelo "escândalo":


... para se notar que Canada, EUA, Australia, e Nova Zelândia, escapam à "espantosa" revelação. 
Algo especialmente notável, porque 99% dos offshores estão em ilhas da Commonwealth, ligada ao antigo Império Britânico. E se o Reino Unido está ligado, digamos que serve muito mais para denunciar que isto foi uma campanha lançada directamente pela City de Londres, visando essencialmente derrubar o incómodo governo islandês... e procurando apanhar inimigos de serviço, como Putin ou Assad... com a relação notável da ligação não ser feita directamente, mas sim através de contas de supostos "amigos". 
Em poucas palavras, uma peça jornalística montada como farsa, como um servicinho dos media ao "Império".

Acerca deste barrete do panamá, parido por alfaiates do Panamá de segunda categoria, que envergonhariam John Le Carré, é sempre interessante notar que o chapéu-panamá nem sequer era do Panamá, era produzido no Equador.... e é claro, era originalmente de palha.
Harry Truman e Th. Roosevelt eram aficcionados de chapéus-panamá.
Assim, o mais notável das notícias empacotadas e servidas acefalamente, como palha, é pretenderem induzir uma conotação imoral sobre o uso de offshores, quando o principal foco de imoralidade é a sua existência ser patrocinada pela City de Londres e por Wall Street... ou seja, é como se Al Capone denunciasse alguém pela posse de bebida, no período da lei seca de Chicago, sendo ele o principal traficante.

É claro que isto serve o propósito inquisitório de enfiar a carapuça nalgumas vítimas seleccionadas, destacando-se os que foram verdadeiramente afectados - ou seja, o primeiro-ministro islandês e o seu governo. Os restantes, por mais ou menos corruptos que sejam, dificilmente os afectará de qualquer forma.
Assim, esta carapuça do Panamá, parece querer servir o efeito da humilhação das carapuças que o Santo Ofício usava para punir as suas vítimas:

Carapuças - vítimas da Inquisição eram expostos com carapuças 
e com um sambenito com a Cruz de Santo André.

Neste caso o Santo Ofício declarado é a comunicação social, completamente manipulada, de forma consciente nuns casos, e de forma inconsciente noutros... mas seja por corrupção ou incompetência, os jornalistas são manipulados de forma igualmente acéfala, revelando uma completa incapacidade de enquadrarem a selectividade conveniente da informação recebida. 
A carapuça são agora os barretes panamianos, onde se pinta o que bem se entender, normalmente uma meia-verdade, que serve essencialmente a descarada mentira.