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terça-feira, 26 de agosto de 2014

Submarinos ao fundo

A 2ª Guerra Mundial, apesar de não estar muito longe no tempo, de contar com inúmeros registos em fotografias e filmes, continua a ser um dos períodos mais confusos e mal compreendidos historicamente.

Em 21 de Maio de 1945, ao largo da Nazaré, a tripulação faz afundar o submarino alemão U-963
A Alemanha tinha-se rendido aos Aliados, menos de duas semanas antes, e havia ordens para que todos os vasos de guerra se entregassem. Não foi o caso de deste, e de outro submarino alemão, o U-1277, que foi afundado pela tripulação em 3 de Junho de 1945, ao largo de Leixões.

Preferir afundar os submarinos a entregá-los aos inimigos, foi a denominada Operação Regenbogen.
No dia do Armistício, 8 de Maio de 1945, a quase totalidade dos submarinos alemães tinha-se afundado, ou rendido às tropas aliadas. 
Apenas faltavam 4 submarinos - dois acabam em Portugal, outros dois na Argentina:
  • U-963 - que é afundado pela tripulação, na Nazaré em 21 de Maio.
  • U-1277 - que é afundado pela tripulação, em Leixões a 3 de Junho.
  • U-530 - entrega-se a 10 de Julho na Argentina - Rio da Prata.
  • U-977 - entrega-se a 17 de Agosto na Argentina - Rio da Prata.
Se sobre dois os submarinos afundados em águas portuguesas se diz pouco (não há sequer página na wikipedia), os dois submarinos que se vão render na Argentina têm servido para todo o tipo de especulação. Houve jornalistas que afirmaram ver o desembarque de civis, que foram associados a Hitler e Eva Braun, foi falado que esses submarinos transportavam o ouro do Reich, etc. A prolongada ausência dos submarinos levou ainda a especulações que houvesse uma última missão na base de Schwabenland, na Antárctida.

O episódio do submarino afundado, e o seu impacto na Nazaré, terá sido recuperado numa reportagem da SIC de 1998 (de Aurélio Faria e Jorge Ramalho), e depois terá caído de novo no esquecimento. Houve uma tentativa de localizar os destroços, na altura, sem sucesso. O submarino U-1277 em Leixões, ao contrário parece ser avistado frequentemente pelos mergulhadores.

Reportagem sobre o U-963 na Nazaré, e mergulho que avista o U-1277 em Leixões.

Como podemos ver na reportagem sobre o U-963, a história foi sendo tão pouco falada que na Nazaré passava já como sendo lenda. Este fenómeno é recorrente... se não há uma certa institucionalização dos factos, os relatos passam pela natural desconfiança alheia, mesmo que seja testemunhado por uma população inteira. Por outro lado, a ocultação histórica em Portugal, é também já histórica...

Há relatos que indicam que o U-963 estaria danificado por um bombardeamento, e que acabaria por afundar-se naturalmente, tendo a saída na Nazaré sido feita horas antes ocorrer. Porém, tudo indica que o local foi escolhido e a saída da tripulação planeada. A tripulação foi depois entregue ao comando inglês e aprisionada em Gibraltar, conforme consta do registo (3 oficiais, e 41 outros membros):
onde é dito que nenhuns papéis foram recuperados pelos Aliados.
Karl-Werner Wentz, o comandante 
que determinou o afundamento do U-963.

O Canhão da Nazaré não estará talvez fora da razão de escolha... por um lado seria a forma de se aproximar mais da costa em profundidade, e por outro lado, poderia garantir grande profundidade no afundamento.
Se há mistério relativamente aos outros submarinos, que acabaram por ser recuperados, ou mesmo o U-1277, que está ao alcance de mergulho, no caso do U-963 foi diferente - se levavam alguma "mercadoria" colocada em Trondheim a 23 de Abril, antes da morte de Hitler, essa carga ficou definitivamente escondida em profundidade, ao largo da Nazaré. Que tal acontecimento passe ao largo da divulgação habitual deste tipo de curiosidades, também já sabemos ser algo crónico quando se menciona Portugal.

Os submarinos alemães aparecem-nos assim aos pares, não apenas nestes dois afundamentos planeados, mas também pelas portas de encomendas recentes.
Esquecendo as quadrilhas criminais que submergem na lei, a história da Esquadrilha de Submarinos começa ainda ao tempo de D. Carlos com a encomenda de submarinos italianos em 1907 (seriam três que chegaram a tempo da 1ª Guerra Mundial).
O primeiro submarino ao serviço da Marinha portuguesa,
era italiano, chamou-se Espadarte, e chegou em 1913. (notícia DN)

D. Carlos, grande entusiasta da exploração hidrográfica, foi assassinado antes de receber a encomenda do Espadarte, um submarino que poderia ter na sua visão mais utilidade do que simples vaso de guerra.

Porém, convém entender que se em Espanha, Isaac Peral concebera em 1885 o primeiro projecto de submarino, tal ousadia não passou as restrições "chamadas conservadoras" da marinha espanhola.
Apesar de mostrar performances semelhantes aos U-boat alemães que seriam depois desenvolvidos para a 1ª Guerra Mundial, tal projecto espanhol foi abandonado dois anos depois:
O primeiro submarino moderno, de Isaac Peral, lançado em 8 de Setembro de 1888.

Muito provavelmente devido às contingências da Quádrupla Aliança, explicadas nalgum aviso enviado pelas lojas dos pedreiros, não seria autorizada tal proeza às marinhas ibéricas... que se deveriam manter subsidiárias de tecnologia das "potências autorizadas". Dito doutra forma - se querem tecnologia - que comprem, e para comprar - devem endividar-se... 

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Muh

MUH funciona como acrónimo para Mathematical Universe Hypothesis... ou seja, é uma hipótese cosmológica em que a nossa realidade exterior se resume a uma estrutura matemática.
Apesar de ter sido popularizada mais recentemente (por M. Tegmark), parece pouco mais que uma repiscagem moderna de antigas concepções pitagóricas, lembrando que a Pitágoras já era atribuída a frase "tudo é número". 
A principal diferença será o incorporar de concepções matemáticas modernas (como a teoria de conjuntos e a complexidade da teoria do caos), mas reduz-se equivalentemente à noção abstracta de número.
MUH... por coincidência, numa imagem da wikipedia sobre o touro de lide, 
aparece a marcação de ferro com números. Toda esta imagem é um número no 
computador, mas como habitual só identificamos os símbolos numéricos no dorso.

A presença da matemática na modelação cada vez mais perfeita dos fenómenos observados, veio trazer sucessivamente a ideia de uma ligação entre realidade e matemática. Porém, apesar da crença estar instalada desde os tempos pitagóricos, houve sempre firme resistência a esta concepção platónica, em que as ideias abstractas seriam o alfa e o ómega da existência. A realidade virtual simulada em computadores seria para qualquer pitagórico uma prova indiscutível das lições do mestre, mas certamente que não explicaria tudo. 
É assim muito natural que se reencontrem hoje adeptos de um novo pitagorismo, suportado ainda pela emergência de padrões em estruturas aparentemente caóticas - como foi o caso dos fractais de Mandelbrot.

Quando escrevi o texto Arquitecturas (5) foi exactamente neste sentido MUH. Apesar de desconhecer os outros trabalhos recentes, ficou evidente que a teoria pitagórica era a que aparecia naturalmente.
A questão principal nem foi tanto perceber a hipótese MUH, porque essa é óbvia, mas sim perceber que nenhuma outra faz sentido. O problema fundamental é entender o que pode existir como constituinte... o que pode fazer sentido como partícula atómica. 
As teorias físicas actuais envolvem várias partículas, de quarks e leptões a bosões, que justificam uma certa zoologia de partículas subatómicas. No entanto, o ponto principal numa teoria de multi-partículas é a sua geração. Como apareceu então o primeiro electrão, o primeiro bosão, etc.?
Estas perguntas não são respondidas - admite-se que se formaram numa sopa do big-bang, e pronto sai uma história do caldeirão.
Ora, o ponto principal na causalidade é que cada constituinte teria que ser formado - se é formado por via de constituintes anteriores, então não é atómico - no sentido em que deriva de componentes.
Portanto, para cada geração do nada, de cada partícula, estamos a falar da geração de um universo a partir do vazio. Se estamos a falar da geração de partículas distintas a partir do mesmo vazio, a coisa não faz sentido nenhum... De alguma forma, os físicos parecem esquecer-se que as suas equações não vivem no éter, e portanto um universo que obedecesse a leis pré-estabelecidas implicaria um universo anterior onde se estabeleceram essas leis... mas parece que na história do caldeirão só interessa a sopa, é esquecida a formação do recipiente onde estava o caldo, e pior é esquecida a receita para o cozinhado da Criação.
Os astrofísicos do big-bang contam-nos praticamente ipsis verbis a história da sopa da pedra.

Assim, se um ponto principal no texto Arquitecturas (5) foi perceber o mecanismo natural da geração, que pode ser vista como uma inflação eterna, tendo simultaneamente um aspecto determinista e caótico; outro ponto principal foi entender que a única "partícula" que poderia estar em causa seria o próprio universo nos seus estados de evolução. Ou seja, o próprio universo, no seu estado anterior, servia de átomo para o universo no seu estado posterior. Não pode ser doutra forma, porque a ideia de ir buscar outros constituintes seria admitir outros universos em si... e por definição, Universo só existe um.
O que se passa é que há diferentes concepções de Universo, que vão contra a noção de ser tudo o que existe. Essas concepções vêm da percepção física que ligam mais o universo à astronomia, reduzindo quase tudo a um modelo visual de compreensão da realidade... quase como se os invisuais não tivessem direito a compreender o universo. Por isso fala-se também em "multiverso", no sentido de podermos ter outras manifestações da realidade. Ora, o óbvio é que todos esses "multiversos", versões diferentes do universo físico, seriam ainda parte de um Universo maior... e só a esse, que engloba tudo, é que se pode chamar Universo.

Uma outra questão que tenho abordado, é a impossibilidade de existência de um universo sem observadores, algo que entretanto percebi ter o nome de "Princípio Antrópico", quando aplicado a observadores humanos. Por um lado, parece uma tautologia - o único universo que conhecemos é aquele que se "esforçou" por nos dar existência... mas deixa de ser algo tão simples, quando entendemos que o universo só encontrou a sua existência quando formou seres capazes dessa observação (Arquitecturas (3)).

Usando a comparação anterior, a sopa só existe até haver alguém que a prove... antes disso, sem haver quem espreite no caldeirão, poderia até nem haver sopa nenhuma.
A prova pelo sabor é parecida com a prova pelo saber.
As papilas gustativas do conhecimento são as relações lógicas e matemáticas que estabelecem a prova.
Só que é um pouco mais complicado, para um gosto requintado é preciso identificar cada um dos constituintes, e entender a forma como se combinam na prova.
Conforme salientado no Arquitecturas (3), não há observação quando há coincidência entre observador e observado. Nesse caso há apenas duplicação. Por isso, a visão perfeita do exterior apenas o traria como cópia para o interior... isso não é observação é duplicação por réplica.
A observação é fruto de uma visão imperfeita do observado. É a formação de um pequeno universo interno resultante de visões imperfeitas do universo exterior. Essa visão pessoal é herdada na linguagem, nas noções linguísticas que aprendemos e que nos são inerentes. Essas noções abstractas ficaram como invariantes no nosso universo. No nosso universo sabemos que 2 será sempre menor que 3. Apesar de não parecer, a linguagem que usamos é tão abstracta quanto a matemática. Aliás, a matemática não é mais do que uma linguagem... e poderia ser usada como linguagem vulgar. Para dizermos que ontem fomos à praia, seria tão enfadonho como escrever "eu(tempo)=ontem; eu(local)=praia".
O exercício da linguagem é a descrição interna do universo externo. Como a linguagem tem inerentes as noções fundamentais de compreensão, há três pessoas na conjugação trinitária. O "eu" observador, o "tu" observado, e um "ele" que é a estrutura que liga e separa os dois. O ponto comum nessa ligação é a compressão pela linguagem, sendo claro que a incompreensão, o silêncio, separa e isola os mundos.

domingo, 24 de agosto de 2014

Ju

Como vou tentando deixar claro, há em cada em sílaba, em cada som primitivo, um significado que acabou por ficar entranhado nas palavras. Assim, de forma algo estranha, as palavras acabam por falar mais, acrescentando a sua decomposição nos sons e até nas grafias. Se o processo pode ser sistematizado por alguma etimologia, uma menos escondida que outra, há uma parte quase caótica que parece individual e circunstancial.

Ju é uma sílaba que nos aparece despercebida de significado... e serve de exemplo significativo.
Esta sílaba está associada a diversas palavras, sendo que no português mantemos "jus" com um significado latino de equilíbrio, de justiça, num "fazer jus", num justo, que se liga à parte do direito jurídico... que se liga a um jugo por um ri, que interpreta a lei judicial. 
Poderíamos continuar por esta linha óbvia, ligada à justiça mas depois aparecem outras palavras onde a ligação parece perder-se. Ora, numa delas é onde deve ser encontrada a raiz.
piter... parece-me poder ser visto como Ju-pater, ou seja, invocando a divindade Ju como Pai.
De forma semelhante, teremos Ju-deus como aqueles que atribuíam à entidade Ju o estatuto de deus.

Acontece que um nome alternativo para Júpiter era Jove, e isto surgiu no sentido de Jovem, como pode ser entendido que Júpiter era o filho jovem que depôs Saturno. Assim, ao escrever Ju-pater é passar Ju à figura de Pai, substituindo nesse papel Saturno/Cronos. Nesta trindade ligeira, o filho passaria a pai, colocando-se no lugar de Saturno/Cronos ao dominar os restantes irmãos no Olimpo. Só que este círculo, este O, não ficou propriamente limpo, sem acento, ou melhor, sem assento, das restantes divindades remetidas para a escuridão infernal. Essa junta foi uma junção, em que o unto serviu unção.
Associado a jovem temos o juvenil, ou juventude, mostrando mais uma vez como o prefixo ju pode resultar directamente dessa divindade primitiva. Por outro lado, a juba é bilo do rei dos animais, aqui no papel de juiz. Contra o leão só se opõe o burro, se achar que mente é jumento num kangaroo court.
Assinala-se, novamente que é-breus é diferente de ju-deus, porque breu é escuridão, ocultação, e uma atitude de bastidores não prescinde actores no palco.

Tudo isto, a propósito de quê?
De Lu... Lucy.

Lucy (2014, de Luc Besson) trailer

Até este momento só vi o trailer... e não sei se há muito mais de interessante, mas acho que apesar de um pouco rudimentar, há uma perspectiva que já se assemelha mais a poderes ilimitados.
As bases justificativas continuam a andar pelas alucinações da compreensão física do cérebro, a que se juntam aqui alucinogénios... mas o interessante é ver finalmente em tela uma melhor ilustração do que se entende por um superpoder divinal.

No entanto, o mais interessante, e que duvido que seja abordado, é que o superpoder de Lucy não é em essência de diferente do poder de qualquer um. Todos os homens aptos têm o poder de interagir com a realidade que lhes é apresentada. Essa interacção é muito limitada, e a tecnologia foi uma forma de alargar as potencialidades de interacção. Um homem pode esmagar um insecto, um super-homem poderia esmagar um comboio... é só uma questão de escala, não muda muito a essência.
Por isso, quando diminuem as restrições do super-herói, diminui o interesse do filme... se o fulano pode fazer tudo sem restrições e sem limitações, qual é o interesse da história? - Esse é um ponto fulcral, a diminuição do desafio retira interesse ao enredo... retirará interesse ao próprio objectivo de vida do fulano.

Este filme enquadra-se num outro tipo de mitologia reinante, que é a possibilidade do super-homem.
Assim, o nome Lucy não será indiferente ao nome Lucy colocado ao austrolopiteco que foi tido como o elo mais antigo à espécie humana. Esse baptismo do austrolopiteco foi associado à canção Lucy in the sky with diamonds, dos Beatles.
Lucy era assim a primeira de uma nova espécie... no nome e nas capacidades retoma-se o ideal da paranóia eugénica do super-homem, ideal que já serviu e serve ideais de má lembrança.

Quanto ao prefixo Lu - isso seria uma história completamente diferente... mas se pensamos evoluir nos sonhos - pintando os mesmos com outras cores - parece que à imaginação falta luz do Luar, falta um lume de lucidez neste lugar. Porque o L de Ele lê-se El.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Iraqui - Ir Aqui... abanar o cão

É conhecida a associação fonética entre "Paquistão" e "Pr'aqui estão"!

Iraqui... ir aqui
Porém, há uma outra que ganha algum sentido, o americano "Iraqui" é afinal um "Ir Aqui"... 
Terá sido mesmo um "ir lá sem sair daqui", pelo menos no caso de Charles Jaco, um repórter da CNN que era suposto estar na Arábia a cobrir a Guerra do Golfo em 1991, mas afinal estaria num cenário de estúdio... em imagens difundidas internacionalmente.

As reportagens da CNN eram repetidas por todas as televisões, e à época não me lembro de ninguém duvidar da veracidade das imagens. Entretanto, parece que algum empregado da CNN conseguiu fazer sair as imagens, e instalou-se a polémica. Na wikipedia ficou apenas uma discussão de não aprovação:
Mas há outros sítios (exemplo 1, exemplo 2) onde se referiu o assunto, convenientemente abafado.
Há, como habitual, tentativas de "compor a coisa", dizer que o cenário de estúdio era no Hotel Dhahran, mas enfim... até poderia ser, só que o ecrã azul  desaparece, para dar lugar à imagem de fundo:
Isto, é claro, para não falar de todo ambiente de gozo, inclusive colocando a cabeça de um boneco Ken (da Barbie) na altura em que o vice presidente Dan Quayle falava da base naval de Mayport... e outras referências, ao modelo Scud com "Larry King Show" or "Bust" (Apanhado).

Será caso único? É claro que não é, e estamos carecas de saber sobre a manipulação mediática.
Um momento hilariante foi quando Jon Stewart se referiu a uma encenação de comunicação via satélite, feita também pela CNN.
The Daily Show calls out CNN (ver após 50 seg)
 Conforme diz Jon Stewart
Ashley from a parking lot in Phoenix, reporting via satellite with Nancy Grace, who seem to be in the same parking lot, in Phoenix. Basing that, of course, in the fact that the cars that are passing by Ashley location box also appear to be passing by in Nancy Grace's box.  
Who does that?
The audicity of "something even resembling a news organization" to pretend that a correspondent is in an entirely different location. when in fact that correspondent is no more than a few feet away... maybe in the very same studio, for all we know.
 
Pretty shameful!

É claro que as estações televisivas mentem descaradamente, mesmo as supostas serem mais respeitáveis, e tanto sobre os assuntos mais delicados, como sobre os mais corriqueiros. O que nem sempre é fácil é serem apanhadas em flagrante... 
E é claro, como o circo ainda está em funcionamento, não convém que a populaça saiba destas palhaçadas.

Abanar o Cão... 
Wag the Dog (Manobras na Casa Branca) é um filme de 1997, e talvez o que melhor mostra, de forma explícita, até que ponto pode ir o circo mediático para efeitos de manipulação da opinião pública.


Neste filme a situação vai ao ponto de se inventar uma fictícia guerra nos Balcãs, para virar as sondagens e dar a vitória numa eleição presidencial... Lembramos que este filme é anterior à vitória de G.W. Bush e portanto a população americana ainda poderia acreditar que havia alguma verdade nas eleições - ainda que tudo o resto fosse falso.
Tudo é feito com poucas imagens dessa suposta guerra, repetidas até à exaustão, muito comentário, muitos factos secundários. A manipulação não vive do suposto facto, vive da reacção comum da população ao mesmo evento difundido. Por isso, a certa altura, é mais importante mostrar que todos estão sintonia (episódio do "Old Shoe"), para que quem não esteja se sinta desintegrado.

Este filme tem vindo sucessivamente à baila, num período em que cada vez é mais evidente a manipulação despótica da sociedade, ao estilo do que previra Aldous Huxley no seu Brave New World.

Outro episódio recente onde foi percebida esta manipulação exagerada foi com o caso Sandy Hook, onde foi observado que os consternados pais, pareciam ser afinal meros actores (rindo e fazendo movimentos de concentração, antes de irem para o ar)... isto para além de inúmeros outros detalhes (não se viram corpos, nem foram identificadas vítimas, apenas uma foto circulou abundantemente, havia um check-in no local, o drama tinha sido comunicado antes de ocorrer, etc...)

Continua...
Portanto, não devemos negligenciar que estas grandes encenações continuam. Seja sob a forma de aviões que desaparecem, reaparecendo ou não, seja sob forma de eventos que causam drama público, e que justificam determinadas acções.
Nem sequer é preciso mencionar mais casos, afinal o 911 é apenas o modelo mais conhecido... da Porsche.

... porém
Há uma coisa bastante curiosa, relativamente a velhas e a novas imagens.
Quando revemos filmes de ficção científica antigos, é muitas vezes constrangedor ver os maus efeitos especiais, como se passados uns anos tivéssemos ganho uma nova percepção para identificar cenas mal feitas, encenações demasiado evidentes. Não é apenas aquilo que em criança nos parecia como monstro verosímil e em adulto passa a ser apenas um peluche feio... é também toda a percepção mais apurada, mesmo entre adultos. Mesmo a encenação da CNN no Golfo, com as máscaras de gás e o capacete, que passou nas TVs nos anos 90, parece-nos hoje ridícula. Não foi apenas porque o cinema evoluiu - a nossa capacidade crítica de ver defeitos nas encenações também aumentou.
Por isso, se as "produções especiais" ganharam maior capacidade técnica, também a populaça ganhou maior capacidade crítica... e isto foi quase de um momento para o outro, no espaço de poucos anos. É também por isso que a NASA tem agora mais dificuldade em passar os filmes antigos... aqueles saltinhos na Lua já parecem efeitos especiais de 2ª categoria quando os vemos de novo.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Instante seguinte

Há uns meses atrás abordei aqui, nas caixas de comentários, a questão da impossibilidade da morte, para além do aspecto filosófico.

O argumento científico é simples, e pode ligar-se a conceitos tornados comuns na mecânica quântica, embora seja distinto, e mais simples.
Um caso conhecido na mecânica quântica é a chamada situação morto-vivo do "Gato de Schrodinger", que é praticamente um problema da teoria probabilistica que admite ambos os estados como possíveis, até que haja uma observação.
O gato de Schrodinger tem a sua vida dependente de uma probabilidade quântica que liberta veneno.
Só a observação determina a sua vida ou morte...

A questão do gato surge apenas como desculpa, para não parecer demasiado estranho o que irei afirmar de seguida. Ou seja, há pessoal a discutir coisas maiores bizarrias…

A impossibilidade da morte do próprio é diferente da observação da morte dos outros.
Porquê? 
Porque também é diferente a questão de observar os outros ou observarmo-nos a nós.
- Podemos deixar de observar os outros, mas é impossível deixar de nos observarmos.
- Podemos vermo-nos livres dos outros, mas é impossível livrarmo-nos de nós próprios.
Há quem julgue que a morte do próprio pode resolver esse problema… escapar de si mesmo, mas tal coisa não ocorre. Porquê?

Já abordei o assunto filosoficamente, de várias formas, mas do ponto de vista científico é igualmente possível chegar à mesma conclusão, da impossibilidade da morte do próprio.
Cientificamente assume-se que somos formados por um arranjo de partículas, em particular o cérebro nada mais seria que uma evolução na combinação dessas partículas. 
Cientificamente considera-se que a morte ocorre quando é inviável a continuação desse arranjo que permite a vida cerebral. Há uma descontinuidade, entre o momento em que a vida era viável, e o instante seguinte, onde deixou de ser viável. As razões da morte podem ser múltiplas, e não interessam no detalhe.
Agora a questão que se coloca é a seguinte:
- É impossível que, num tempo futuro, os mesmos átomos do cérebro, do corpo, se juntem exactamente da mesma forma, na forma anterior ao instante que determinou a morte?
- Não é. Nenhum físico quântico pode afirmar isso. Pode dizer que a probabilidade é próxima de zero, mas não pode dizer que é zero. Para além disso, o número de átomos é finito, e assim os arranjos da matéria são em número finito.
- Ora, se a probabilidade não é nula, o que garante que não pode voltar a ocorrer o mesmo arranjo?
- Nada. Além disso, como o tempo é interminável, por mais pequena que seja a probabilidade, ao fim de um tempo suficientemente grande, essa probabilidade quase nula passará a certeza. Aceitar que não ocorre seria apenas admitir que os dados universais estavam viciados contra nós… e isso seria um pensamento viciado.

Até aqui foi mais ou menos o que expus nas caixas de comentários, em resposta a Amélia Saavedra, a propósito de uma discussão com o José Manuel. Conforme resumi na altura:

Admitir a morte seria declarar uma impossibilidade de vida futura. 
Com que base é declarada essa impossibilidade? Com nenhuma. 
Ora se não há impossibilidade comprovada, existe uma possibilidade, por mais infinitamente pequena que seja.

Só que, como referi, isto seria apenas uma parte da resposta… que vou agora completar.
Há vários embrulhos nesta questão, uns mais fáceis de ver que outros.

Primeiro, admitindo que se voltariam a dar essas condições de vida, o que impediria que se repetisse o mesmo cenário de morte, de inviabilidade? Nada. Mas, não são os cenários de morte que interessam, interessa saber se não pode haver um de vida. Ora, se tudo sempre se repetisse, isso significaria um ciclo universal, o que corresponderia a um fim do universo… e ao experimentar uns arranjos e não outros, seria mais uma vez um universo viciado, em pensamento viciado.

Segundo, interessa perceber o que é o "instante seguinte".
A noção de tempo que temos é pessoal, e o nosso instante seguinte nada tem que estar relacionado com o instante seguinte alheio. De acordo com as mesmas probabilidades quânticas, nada impediria que um tigre se materializasse à nossa frente… é apenas considerado como uma probabilidade infimamente pequena. Porém, nada é dito porque razão essa probabilidade é pequena.
Ora, essa probabilidade é pequena porque o convite ao caos foi feito com conta, peso e medida.

O nosso instante seguinte é sempre aquele em que há viabilidade de estarmos.
O instante seguinte para uma pessoa que sofre um coma de vários anos, é muito diferente do instante seguinte para os outros. O instante seguinte para quem esteve em coma só se pôde efectivar passados esses anos, e foi diferente do instante seguinte para todos os outros.
Há muito tempo que entendi que o nosso instante seguinte é uma mera questão de viabilidade, tal como quando sonhamos, o nosso instante seguinte ocorre com uma grande descontinuidade de eventos externos.
Dessa mesma forma podemos entender que todos os nossos instantes seguintes são determinados pela viabilidade do conjunto. Estamos todos sobre a mesma realidade enquanto houver viabilidade para esse conjunto. Ou seja, de um instante para o outro, podemos pensar que se esgotam todos os universos não viáveis, e ficamos apenas no único que é viável para nós. A viabilidade desde conjunto é apenas o garantir de que não termina, evitando entrar em ciclo repetitivo ou em estagnação.

Portanto, tal como para quem acorda de um coma de vários anos, a certeza de que seremos de novo viáveis num futuro, torna indiferente se se passam milhares ou milhões de anos… para o próprio será sempre o instante seguinte. Essa certeza de viabilidade futura resulta apenas da certeza que não há inviabilidade demonstrada, pelo contrário. Portanto, se um corpo pode ser inviável num contexto material, e aí perecer, a mudança desse contexto material poderá fazer aparecer o mesmo espírito, não necessariamente no mesmo corpo, porque o que interessa é a viabilidade do espírito. Uma viabilidade que não se justifica pelo indivíduo, mas sim pela própria viabilidade universal.

Poderá haver quem tente desviar as evidências, e pretender que há aqui uma tentativa religiosa de pretender dar significado à vida para além da morte. Porém, só quem não pensou no assunto é que pode considerar que uma eternidade é melhor do que uma morte… perante certas perspectivas de vida, a morte é um mal menor. Fiar-se na morte alheia para concluir a sua é apenas uma conclusão deficiente. Deficiente porque não declara a morte do corpo alheio, que está presente, declara apenas o fim da associação entre o corpo e o espírito, porque o espírito alheio deixou de se manifestar ali, através daquele corpo. E o espírito que nada pesa, seria afinal o garante da vida do corpo.
Ou seja, convém notar algo que é negligenciado - se não vemos espíritos sem corpo - fantasmas, também não temos como vivos corpos sem espírito - zombies…

Para terminar, um bocadinho de pseudo-etimologia… no "instante" podemos ver uma forma de "instar" com o sentido de "em estar". Mas interessa mais a forma "seguinte" de "seguir", que tem a interessante irregularidade na primeira pessoa - dizemos "eu sigo" e não "eu sego". É interessante porque "cego" adapta-se bem a quem segue quem vê… e em estarmos cegos para o seguinte.

Nota (9.9.2014):
Interessante, a informação do José Manuel, sobre a experiência de Gabriela Barreto Lemos e outros investigadores quânticos em Viena, que separaram um raio verde, de fotões previamente entrelaçados, em dois raios de luz - um vermelho e outro amarelo. Este entrelaçamento (entanglement) quântico faz com que uns partilhem a vida dos outros. No caso, os raios amarelos iriam colidir e reflectir-se numa imagem de um gato (aludindo ao Gato de Schrodinger), enquanto os vermelhos iriam directamente para a câmara de fotografia.
Resultado - os raios vermelhos sem nunca terem visto o gato, apresentaram a imagem que os amarelos transportariam. Mais, os vermelhos ao serem capturados pela câmara desapareceram, e assim os amarelos antes de atingir a câmara também desapareceram.
Isto é o mais próximo que estamos de Vodu… entrelaçados os amarelos que vão para o boneco, com os vermelhos que vão para a câmara, o que acontece a uns, acontece aos outros.
A luz vermelha que nunca atingiu a imagem do gato,
recebeu informação instantânea para produzir a imagem vista pela luz amarela.
(G. B. Lemos, daqui)

Claro que esta informação instantânea que passou dos fotões amarelos para os vermelhos, implicaria o fim do pretensiosimo einsteiniano de "limite de velocidade". Porém, os polícias instruídos nas multas pelo limite de velocidade podem argumentar que ainda é a mesma partícula, em sítios diferentes. É mais ou menos o mesmo do que dizer que um Fórmula 1 nunca sai da partida, porque deixou um rasto de pneus no arranque. Enfim, uma mudança é sempre difícil de engrenar...

Os autores argumentam sobre as aplicações médicas - porque uma luz amarela pode viajar pelo interior do corpo humano, sem regressar - a informação é fotografada na informação transmitida à mana, a luz vermelha, que vai direitinho para a fotografia.
Mas pode-se ainda pensar numa aplicação astronómica, a luz amarela segue o caminho de um planeta e a vermelha fica na Terra, até aparecer na fotografia o que a mana viu.

Este entrelaçamento quântico ocorre em "partículas gémeas", mas poderá dar base para especular que este entrelaçamento de pares pode ocorrer noutro tipo de gémeos.

http://www.nature.com/news/entangled-photons-make-a-picture-from-a-paradox-1.15781
http://www.nature.com/nature/journal/v512/n7515/full/nature13586.html