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terça-feira, 26 de agosto de 2014

Submarinos ao fundo

A 2ª Guerra Mundial, apesar de não estar muito longe no tempo, de contar com inúmeros registos em fotografias e filmes, continua a ser um dos períodos mais confusos e mal compreendidos historicamente.

Em 21 de Maio de 1945, ao largo da Nazaré, a tripulação faz afundar o submarino alemão U-963
A Alemanha tinha-se rendido aos Aliados, menos de duas semanas antes, e havia ordens para que todos os vasos de guerra se entregassem. Não foi o caso de deste, e de outro submarino alemão, o U-1277, que foi afundado pela tripulação em 3 de Junho de 1945, ao largo de Leixões.

Preferir afundar os submarinos a entregá-los aos inimigos, foi a denominada Operação Regenbogen.
No dia do Armistício, 8 de Maio de 1945, a quase totalidade dos submarinos alemães tinha-se afundado, ou rendido às tropas aliadas. 
Apenas faltavam 4 submarinos - dois acabam em Portugal, outros dois na Argentina:
  • U-963 - que é afundado pela tripulação, na Nazaré em 21 de Maio.
  • U-1277 - que é afundado pela tripulação, em Leixões a 3 de Junho.
  • U-530 - entrega-se a 10 de Julho na Argentina - Rio da Prata.
  • U-977 - entrega-se a 17 de Agosto na Argentina - Rio da Prata.
Se sobre dois os submarinos afundados em águas portuguesas se diz pouco (não há sequer página na wikipedia), os dois submarinos que se vão render na Argentina têm servido para todo o tipo de especulação. Houve jornalistas que afirmaram ver o desembarque de civis, que foram associados a Hitler e Eva Braun, foi falado que esses submarinos transportavam o ouro do Reich, etc. A prolongada ausência dos submarinos levou ainda a especulações que houvesse uma última missão na base de Schwabenland, na Antárctida.

O episódio do submarino afundado, e o seu impacto na Nazaré, terá sido recuperado numa reportagem da SIC de 1998 (de Aurélio Faria e Jorge Ramalho), e depois terá caído de novo no esquecimento. Houve uma tentativa de localizar os destroços, na altura, sem sucesso. O submarino U-1277 em Leixões, ao contrário parece ser avistado frequentemente pelos mergulhadores.

Reportagem sobre o U-963 na Nazaré, e mergulho que avista o U-1277 em Leixões.

Como podemos ver na reportagem sobre o U-963, a história foi sendo tão pouco falada que na Nazaré passava já como sendo lenda. Este fenómeno é recorrente... se não há uma certa institucionalização dos factos, os relatos passam pela natural desconfiança alheia, mesmo que seja testemunhado por uma população inteira. Por outro lado, a ocultação histórica em Portugal, é também já histórica...

Há relatos que indicam que o U-963 estaria danificado por um bombardeamento, e que acabaria por afundar-se naturalmente, tendo a saída na Nazaré sido feita horas antes ocorrer. Porém, tudo indica que o local foi escolhido e a saída da tripulação planeada. A tripulação foi depois entregue ao comando inglês e aprisionada em Gibraltar, conforme consta do registo (3 oficiais, e 41 outros membros):
onde é dito que nenhuns papéis foram recuperados pelos Aliados.
Karl-Werner Wentz, o comandante 
que determinou o afundamento do U-963.

O Canhão da Nazaré não estará talvez fora da razão de escolha... por um lado seria a forma de se aproximar mais da costa em profundidade, e por outro lado, poderia garantir grande profundidade no afundamento.
Se há mistério relativamente aos outros submarinos, que acabaram por ser recuperados, ou mesmo o U-1277, que está ao alcance de mergulho, no caso do U-963 foi diferente - se levavam alguma "mercadoria" colocada em Trondheim a 23 de Abril, antes da morte de Hitler, essa carga ficou definitivamente escondida em profundidade, ao largo da Nazaré. Que tal acontecimento passe ao largo da divulgação habitual deste tipo de curiosidades, também já sabemos ser algo crónico quando se menciona Portugal.

Os submarinos alemães aparecem-nos assim aos pares, não apenas nestes dois afundamentos planeados, mas também pelas portas de encomendas recentes.
Esquecendo as quadrilhas criminais que submergem na lei, a história da Esquadrilha de Submarinos começa ainda ao tempo de D. Carlos com a encomenda de submarinos italianos em 1907 (seriam três que chegaram a tempo da 1ª Guerra Mundial).
O primeiro submarino ao serviço da Marinha portuguesa,
era italiano, chamou-se Espadarte, e chegou em 1913. (notícia DN)

D. Carlos, grande entusiasta da exploração hidrográfica, foi assassinado antes de receber a encomenda do Espadarte, um submarino que poderia ter na sua visão mais utilidade do que simples vaso de guerra.

Porém, convém entender que se em Espanha, Isaac Peral concebera em 1885 o primeiro projecto de submarino, tal ousadia não passou as restrições "chamadas conservadoras" da marinha espanhola.
Apesar de mostrar performances semelhantes aos U-boat alemães que seriam depois desenvolvidos para a 1ª Guerra Mundial, tal projecto espanhol foi abandonado dois anos depois:
O primeiro submarino moderno, de Isaac Peral, lançado em 8 de Setembro de 1888.

Muito provavelmente devido às contingências da Quádrupla Aliança, explicadas nalgum aviso enviado pelas lojas dos pedreiros, não seria autorizada tal proeza às marinhas ibéricas... que se deveriam manter subsidiárias de tecnologia das "potências autorizadas". Dito doutra forma - se querem tecnologia - que comprem, e para comprar - devem endividar-se... 

1 comentário:

  1. Sobre o U- 963 no relatório da marinha inglesa em Gibraltar, que recolheu os prisioneiros alemães.

    20. The crew of this U-boat was undoubtedly the least security-conscious of the three. Unfortunately, however, the fact that none of the ship's papers were recovered and that the C.O. proceeded direct to U.K., resulted in relatively less information being obtained than from "U.485".
    21. "U.963" was a type VIIC U-boat of 500 tons. She belonged to the 11th Flotilla, based at Bergen. Her field post number was M.50702. She had made 8 war-cruises previous to her last one, but had never sunk anything. This was attributed to bad luck in the form of no targets rather than bad management. The C.O. appears to have been extremely popular with his ship's company.
    22. "U.963" sailed from TRONDHEIM on 23rd April. It was believed that her patrol area was to have been the English Channel, but this is by no means certain. The only known details of her course are that she passed through the Iceland(C) passage and down the West coast of Scotland. This passage appears to have been without incident except that on 26th April the "RUND-DIPOL" (Schnorchel aerial) packed up. I was not able to follow the technical reasons, but apparently water was entering through the cable from the aerial to the wireless compartment, with the result that the cable had to be severed and sealed off. The practical effect of this was that "U.963" could only receive when surfaced.
    23. Some time between 0001 and 0100 C.E.T. (the most accurate times were given as 0040 and 0048) on 6th May "U.963" was attacked by aircraft. It has not been possible to ascertain the exact position at the time, but one officer stated that they were "West of the Herbrides". The general impression seemed to be that it was "an ordinary depth-charge".
    24. As a result of this air-attack "U.963" was seriously damaged, the main items being as follows:
    (a) A crack in the pressure hull abreast the conning-tower, fairly low down, believed to have been on the starboard side.
    (b) The port main engine was put completely out of action.
    (c) The Starboard vents could be opened but not shut.
    (d) The main aerial was destroyed. As a result of the loss of the Schnorchel aerial, mentioned above, "U.963" was completely "deaf" from now on.
    25. The period from 6th May to 19th May appears to have been fraught with difficulty. There was a continuous inflow of water into the boat in the vicinity of the control-room and a list to starboard, both of which were corrected by pumping. The amount of water in the boat caused frequent short circuits, however, with consequent failure of the pumps.
    26. Some time (unspecified) on the evening of 19th May the main pumps failed altogether and were adjudged irreparable. The boat began to settle, and the order was given to abandon ship at 0300 on the 20th. It was asserted that no scuttling charges were fired, but that the boat sank of her own accord.

    Comandante: Rolf-Werner Wentz
    Oficiais no U-963

    1. KASSENS, Karl-Heinz. 22/1/21 in WERDER/HAFEL.
    2. SCHWEIKERT, Kurt. 10/4/23 in OTTERSWANG/Kr. RAVENSBURG.
    3. EICHINGER, Herbert. 3/3/23 in NÜRNBERG.

    e mais 41 elementos listados da tripulação.

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