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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Degraus da Maia

Na Ilha de Santa Maria (Açores), houve este ano uma competição desportiva intitulada

"Subida dos Degraus da Maia
Degraus da Maia (Sta. Maria, Açores)

Primeiro, convém dizer que é uma excelente iniciativa para divulgar e proteger património, e depois levanta algum espanto pelas imagens conseguidas, quase lembrando outras escadarias maias...
Tratam-se de escadarias de acesso aos "currais de vinha", nas fajãs entre Santo Espírito e Maia, na Ilha de Santa Maria.

As construções em escada, definindo os tais "currais" onde são feitas as plantações em terrenos íngremes tornam-se num prodígio monumental de grandes dimensões, e espalha-se por Portugal, seja na região insular, seja no continente.
O conjunto global definido na Ilha do Pico foi classificado na lista WHC:

... e dadas as fotos que vi, devo dizer que me impressionam mais os "degraus da Maia".
No entanto, olhando por dentro o documento de candidatura (muito bem feito), encontramos já algo mais interessante, vemos a extensão de pedra que constituem aquelas construções quadriculadas:

E não deixamos de fazer notar um pormenor, que aparece na página 81. Realçando os trabalhos de alvernaria em basalto, encontram-se estas inscrições:
Ora, no contexto da história conhecida da Ilha do Pico, o ANO 682, apenas se poderá referir a 1682, e na pedra seguinte aparece "I682Z", não podendo ser 16822... parece insistir no "fazer 682".
Como já se sugeriu que os Açores fossem as romanas ilhas Cassetérides, e dada o achado de moedas fenícias nas ilhas açorianas, não é de excluir que as ilhas fossem habitadas mesmo em 682 por população lusitana-sueva.

Regressando aos "Degraus da Maia", é bem sabido que nas antigas representações de portulanos apareciam as misteriosas ilhas Brasil, Maida, e outras. 
- A semelhança de Maida com o nome Maia é evidente, e podemos conjecturar que inicialmente se possa ter referido à Ilha de Santa Maria, atendendo a que mantém uma região com o nome Maia. Poderia referir-se até ao conjunto São Miguel e Santa Maria, pois por vezes fala-se em duas Maidas.
- No artigo que citei sobre a Ilha Brasil, aparece uma outra associação interessante, que é existir ainda um Monte Brasil em Angra do Heroísmo, e portanto a "Terceira" teria perdido o nome original para uma enumeração "Terceira". Brasil vem ainda de "brasa", podendo referir-se à actividade vulcânica, ainda presente no Faial. 

De qualquer forma, essas ilhas "fantásticas" foram aparecendo em mapas até mesmo ao início do Séc. XX, numa altura em que as navegações transatlânticas eram muito frequentes, levando um sem número de imigrantes para os EUA. Por isso, não é de excluir por completo que tais formações não existam mesmo... se atendermos à quantidade de segredinhos que permanecem, nada mais fácil que não mencionar ilhas que não estão nas rotas autorizadas aos navios. Não é muito provável, mas não é impossível.

Conforme referi aqui, ainda que originalmente se possam ter referido a ilhas existentes, as designações Maidas, Brasil, Verde, etc... passaram a servir muito mais como codificações de terras desconhecidas, apontando nos mapas pontos de referência para direcções de navegação, e não propriamente ilhas verdadeiras.

É claro que Madeira e Açores devem ter sido navegados e talvez povoados mesmo na Antiguidade. Da mesma forma que os polinésios navegaram pelo Pacífico, estabelecendo-se nas mais variadas e dispersas ilhas, os europeus tinham maior capacidade de o fazer no mais pequeno Atlântico. Há uma questão de bom senso que se sobrepõe às outras considerações documentais de propositada ocultação. A tentativa de ocultação no caso das Canárias levou à dizimação dos Guanches, povo que habitava as Canárias, à altura de invasão espanhola - uma assinatura de holocausto que depois se veio a repetir com Aztecas e Incas.

Acresce que os portugueses terão sido apenas os que se estabeleceram definitivamente nas ilhas, mas restam nomes que indicam outras proveniências, é o caso da zona da Bretanha, na Ilha de São Miguel. O sotaque carregado típico dessa ilha será talvez pronúncia estrangeira ou deslocada da nossa língua. Nas restantes ilhas dos Açores isso não ocorre.
As investigações recentes nos Açores da APIA (que aqui falámos), tiveram uma resposta oficiosa por parte de Francisco Maduro Dias, presidente do Instituto Histórico da Terceira, que identificou as construções como obras militares dos Séc. XVI ou XVII. E, como é sabido, estes processos entram facilmente em controvérsia académica, a menos que as provas apresentadas tornem evidente a origem. 
Assim, mais do que qualquer outra prova, aquilo que favorece a tese de pré-ocupação das ilhas da Macaronésia é a sua probabilidade elevada no contexto de navegações de povos marítimos, gregos, fenícios, ou romanos, e o contraponto com a colonização polinésia ocorrida no Pacífico.

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