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domingo, 31 de julho de 2011

Tempestade Saturnina

Em Dezembro de 2010 ocorreu uma "tempestade" em Saturno, de tal forma grande que foi observada primeiro por astrónomos amadores... 
Este facto é em si insólito, já que ocorrências nos planetas (não há assim tantos...) é suposto estarem a ser monitorizadas por profissionais. Segundo o site do CICLOPS (Cassini Imaging Central Laboratory for Operations), registou-se o seguinte:
[These raw] unprocessed images of Saturn were taken on Dec. 24, 2010. They show an enormous storm in the northern hemisphere of the planet, seen earlier by amateur astronomers and now seen clearly for the first time by Cassini.
Alguém perguntou ainda quando tinham sido vistas pelos "amadores", mas não obteve resposta...
Este grande acontecimento teria sido uma oportunidade única, já que a Sonda Cassini estava perto, e por isso "exigiam-se" imagens com algum detalhe, melhor do que as que os amadores viam nos seus  telescópios. As imagens tiradas no dia 24 chegaram no dia 27 de Dezembro, mas a velocidade da luz demora o mesmo para a Cassini do que para os amadores. Não sei se se falou muito mais do assunto...

Esquecendo esse detalhe, pegando na imagem depois divulgada pela NASA vemos uma mancha esbranquiçada, digamos demasiado esbranquiçada:

Porquê demasiado esbranquiçada?
Se colocarmos um bocadito de contraste (gama) na imagem, fica mais claro o que pretendemos salientar:
... ou seja, não parece haver qualquer continuidade entre a imagem do planeta e a imagem da mancha!
Para quem já usou ferramentas de imagem, sabe que uma coisa destas "parece" uma mistura de duas imagens diferentes.
A partir daqui, eu aconselharia a quem quiser ter imagens de Saturno, ou outros planetas,  a comprar um telescópio, e regressar aos velhos métodos! Mas, não há dúvida que as imagens da NASA são habitualmente bem mais bonitas...

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Naica e os cristais gigantes

Na mina de Naica, no meio de um deserto mexicano, zona de Chihuahua, foi encontrada em Abril de 2000 uma surpreendente caverna, a uma profundidade de 350 metros.
Naica project (imagem) Discovery channel

O notável é a dimensão dos cristais que se produziram... estamos habituados a ver formações de cristais deste tipo, mas em escalas 10 vezes menores. Aqui os cristais surgem como autênticas colunas que atravessam a caverna. Quando vi estas imagens pensei que se tratava de manipulação fotográfica (... já começamos a pensar assim, de forma naturalmente desconfiada), porém o assunto tem merecido a devida atenção científica, como podemos ver na reportagem do Discovery Channel:

Reportagem da National Geographic (vídeo anterior inactivo)

Numa região "Chihuahua" é um pouco irónico encontrar estruturas gigantescas.
Porém esta descoberta não é propriamente um "grande mistério", só o será em termos da escala, e deveria levar os geólogos a reverem algumas das convicções enraizadas. Contudo, é até engraçado ver na sequência de vídeos a equipa de especialistas a tentar produzir uma data... o esquema é o "mesmo de sempre", ver o crescimento hoje, durante um ano, e depois dividir pelo tamanho dos cristais! É assim que se faz ciência... o que se mede hoje e aqui serve para toda a eternidade e mais além! Não é que seja um exercício inútil, e pode dar uma ideia... o problema é que passados uns anos esta "primeira aproximação" já serve para quase tudo! A maior piada que daí resultou são as medições astrofísicas e as conjecturas sobre o "início do universo"...

O único ponto aqui, para além de apontar as notáveis imagens, será enfatizar que estas estruturas se encontraram a 350 metros do solo... Nem sequer estamos a explorar a 1 Km no interior da Terra, e já estamos a encontrar estruturas menos vulgares - que parecem doutros tempos, digamos de um tempo de gigantes. A crosta é suposto ser bastante maior, podendo atingir perto de 100 Km... pelo que há uma "infinidade" de desconhecimento interno, especialmente se notarmos que nem a superfície (por exemplo, as profundezas marítimas) estão bem identificadas. O modelo mais simplificado, que remonta a Rayleigh, já foi revisto para comportar uma divisão entre litosfera e astenosfera, pelas inconsistências das medições sismográficas do terramoto de 1960 no Chile.

Não será novidade dizer que bastarão 100 metros de entulho em cima da nossa "avançadissima" civilização, para que ninguém suspeitasse que aqui alguma vez tinha existido alguma coisa! No sentido contrário, talvez se escavássemos a algumas centenas de metros aparecessem mais grandes surpresas, de outros tempos... 
Bom, e quem pode fazer perfurações na Terra? 
As indústrias petrolíferas... e as perfurações vão continuando a ser necessárias, porque o petróleo continua a não ser substituído por fontes alternativas de energia...

sábado, 23 de julho de 2011

O leão de Techialoyan

Os códigos de Techialoyan são documentos aztecas tardios (entre 1685-1700) que parecem reflectir registos de propriedade, que estavam a tentar ser recuperados. Para além de usarem já um alfabeto latinizado, são de uma produção independente, e mantêm figuras muito interessantes.
Uma dessas figuras é o Leão
Qual o contacto que os Aztecas tinham com esse animal, a ponto de o incluírem nestes textos?
Tinham os espanhóis levado leões, que impressionaram os Aztecas? Havia leões no México?
Um coração e um leão... coração de leão, são invocações estranhas, que dificilmente se justificam numa produção independente de carácter local. 

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Toy Story III

Uma das secretas vantagens da paternidade é a possibilidade de rever com outros olhos as histórias que nos encantaram na infância. Quando ao príncipe Filipe são dadas a Espada da Verdade e o Escudo da Virtude, para combater os esbirros do Dragão (uma encarnação da Maléfica - a fada negra despeitada por não ter sido convidada para o nascimento de Aurora), essas designações pesam de uma forma diferente, e as palavras carregam um significado. 

Para além desses clássicos, que não ficaram clássicos fortuitamente, aparecem sérias surpresas.
Foi o caso de Toy Story 3, que estreou há um ano.

É difícil encontrar tantas imagens de história enredadas numa estória, e basta não recusar vê-las.
Estes personagens vivem no mundo criado pelo autor das estórias, um miúdo Andy, que cresce e acaba por relegá-los para uma arca. Por outro lado, têm personalidade própria focada no objectivo de reconquistar a sua atenção... ou alternativamente a atenção de novas crianças.

Essa alternativa, entre a fidelidade ao dono original, ou a aceitação de um infantário, com um mundo de brinquedos tiranizado - ao género Big-Brother - por um urso (Lotso), levará o conjunto de personagens numa diáspora para encontrar Andy. Alguns detalhes são deliciosos... perante o nome ANDY no sapato, um dos personagens já não sabe se deveria ler ao contrário YDNA, enquanto nome do seu senhor. 
Conforme já abordámos, houve uma inversão no sentido da escrita do alfabeto, cujas origens e razões se perdem nas estórias da História, e quanto à diáspora de um povo na procura do Senhor, acho que também não é preciso elucidar mais.

E se o herói persistente que não desiste de procurar e acreditar em Andy é o cowboy americano, há um sentimento ambivalente que o une aos outros personagens. Um dos quais é uma peculiar batata caolha, vidente porque um dos olhos ficou na casa de Andy... confirmando assim que Andy não os abandonou.
Um aspecto curioso é o desvendar da história do urso Lotso (uma vez mais um problema de rejeição...), que permitirá ao grupo ter o apoio do Bebezão, e livrar-se do esquema prisional Big-Brother que imperava no infantário Sunnyside. E se Lotso parece redimir-se, será uma sua nova traição que colocará todo o grupo perante um destino funesto numa fornaça de lixo... de onde vêm a ser salvos pelos companheiros extraterrestres! 

De forma divertida, apelativa para a generalidade das crianças, o filme é muito aconselhável a adultos, explicitando o perigo de uma sociedade dominada por um sistema central corrompido com senhores e escravos. Mas não só... faz diversas referências históricas implícitas, ao mesmo tempo que aborda de forma filosófica original uma relação transcendente entre o sentido da vida dos personagens e a sua dependência do autor das histórias. 
Obviamente, este filme mereceu bem o Oscar recebido!

domingo, 10 de julho de 2011

Kazan e Kursk

Poucos anos após a Restauração da Independência, em 1646, D. João IV institui a Imaculada Conceição como padroeira nacional. O facto tem especial interesse pois anteriormente, na primeira dinastia, seria invocado Sant'Iago, e na segunda dinastia invocava-se São Jorge em batalha - sendo estes os padroeiros nacionais anteriores. 
Esta mudança invocava uma posição católica clara, já que um dos pontos de maior controvérsia entre protestantes e católicos era a tendência politeísta do catolicismo, quando o culto mariano e o culto dos santos começou a revelar um panteão divino. Para vermos a adesão popular ao culto mariano basta reparar que não tem equivalente a manifestação de festas, igrejas, e outras invocações a Nª Senhora, implantadas no catolicismo ibérico.
A posição portuguesa é complicada pois revela uma dualidade na conjuntura de Vestfália. Portugal independente procurava algum apoio da coligação que tinha esmagado os Habsburgos e o Sacro-Império, mas por outro lado iria acentuar a sua faceta católica ligada à Igreja Romana, onde estaria ligado à Espanha. Aliás, as pazes com Espanha ficaram praticamente definitivas desde o Tratado de Lisboa de 1668. Esta influência geral do culto mariano é ainda notada no estabelecimento da Nª Sra. de Guadalupe enquanto padroeira das Américas.

Kazan
Para além desta acentuada manifestação mariana ibero-americana, também na Rússia se notou um importante culto mariano. Um dos casos icónicos é a história da Nª Sra. de Kazan, imagem encontrada em 1579 na cidade tártara de Kazan, na República do Tartaristão. Este precioso ícone foi associado pelos russos à protecção da invasão polaca-lituana de 1612, invasão sueca de 1709, e napoleónica de 1812, tendo sido roubado em 1904.

O importante ícone russo encontrado em 1579 (ano que se segue a Alcácer-Quibir) vai depois ter uma história portuguesa, através do Exército Azul - Apostolado Mundial de Fátima

Esta organização americana associa-se à promessa de conversão da Rússia comunista, colocando a sua sede em Fátima. Em 1993, quando já é efectiva essa mudança na Rússia, oferece a João Paulo II uma Nª Sra. de Kazan, comprada em leilão e que estava em Fátima desde 1970. Apesar de se vir a constatar tratar-se de uma réplica do Séc. XVIII, retornará a Kazan em 2005. Lembro bem o edifício com cúpula ortodoxa, que destoava na paisagem de Fátima, que antes era a Pensão do Exército Azul, e é agora o Domus Pacis Fatima Hotel.

Kursk
Outros famosos ícones russos de Nª Senhora são o de Vladimir e o de Kursk:
 

Perante a vitória bolchevique, o ícone de Nª Sra. de Kursk foi levado pelo Exército Branco para a Igreja Ortodoxa Russa de Nova-Iorque
Kursk foi ainda uma batalha decisiva que determinou a inversão do domínio alemão na 2ª Guerra Mundial face às tropas russas. 
Kursk acabou por ficar definitivamente associado ao nome do submarino que, pretendendo honrar esta batalha, teve um triste final em Agosto de 2000, ao ter afundado no Mar de Barents com a sua tripulação de 118 homens, num incidente envolto em controvérsia e mistério.

Porém, o assunto que motivava este texto era outro - a Anomalia Magnética de Kursk.
Em Kursk ocorre a maior anomalia magnética terrestre, já conhecida desde 1733. Ou seja, é uma zona de grande concentração de ferro magnetizado, que localmente afectará as bússolas.
Cristal octaédrico de magnetite Fe3O4 .

A suposta constituição interna da Terra, com um núcleo férreo, é usada como boa justificação para a existência do campo magnético, causada pela rotação terrestre. Porém, não havendo referencial absoluto convém referir que essa rotação terrestre só se manifesta com algum significado através do Sol e Lua. O movimento é relativo, e os únicos corpos de dimensão relativa significativa que testemunham a rotação terrestre são o Sol e a Lua. A teoria magnética fica ainda mais complicada quando é preciso admitir Hidrogénio "Metálico" para justificar os grandes campos magnéticos de Júpiter ou do Sol... na prática significa colocar um gás com propriedades de sólidos, que poderiam ocorrer a temperaturas muito baixas, mas que só se justificam através de pressões muito altas, numa zona onde é também suposto ocorrer a fusão nuclear, responsável pelas altíssimas temperaturas... um caldo de explicações e teorias com muita fé, que poucas vezes batem certo! É uma fé mais sofisticada do que aquela que se manifesta nos ícones de Nª Senhora, mas que encerra também muitos mistérios...

Nota: Apenas ao acabar de escrever este texto, soube da ocorrência hoje de um naufrágio no Volga, na região do Tartaristão, de Kazan...