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quarta-feira, 13 de julho de 2011

Toy Story III

Uma das secretas vantagens da paternidade é a possibilidade de rever com outros olhos as histórias que nos encantaram na infância. Quando ao príncipe Filipe são dadas a Espada da Verdade e o Escudo da Virtude, para combater os esbirros do Dragão (uma encarnação da Maléfica - a fada negra despeitada por não ter sido convidada para o nascimento de Aurora), essas designações pesam de uma forma diferente, e as palavras carregam um significado. 

Para além desses clássicos, que não ficaram clássicos fortuitamente, aparecem sérias surpresas.
Foi o caso de Toy Story 3, que estreou há um ano.

É difícil encontrar tantas imagens de história enredadas numa estória, e basta não recusar vê-las.
Estes personagens vivem no mundo criado pelo autor das estórias, um miúdo Andy, que cresce e acaba por relegá-los para uma arca. Por outro lado, têm personalidade própria focada no objectivo de reconquistar a sua atenção... ou alternativamente a atenção de novas crianças.

Essa alternativa, entre a fidelidade ao dono original, ou a aceitação de um infantário, com um mundo de brinquedos tiranizado - ao género Big-Brother - por um urso (Lotso), levará o conjunto de personagens numa diáspora para encontrar Andy. Alguns detalhes são deliciosos... perante o nome ANDY no sapato, um dos personagens já não sabe se deveria ler ao contrário YDNA, enquanto nome do seu senhor. 
Conforme já abordámos, houve uma inversão no sentido da escrita do alfabeto, cujas origens e razões se perdem nas estórias da História, e quanto à diáspora de um povo na procura do Senhor, acho que também não é preciso elucidar mais.

E se o herói persistente que não desiste de procurar e acreditar em Andy é o cowboy americano, há um sentimento ambivalente que o une aos outros personagens. Um dos quais é uma peculiar batata caolha, vidente porque um dos olhos ficou na casa de Andy... confirmando assim que Andy não os abandonou.
Um aspecto curioso é o desvendar da história do urso Lotso (uma vez mais um problema de rejeição...), que permitirá ao grupo ter o apoio do Bebezão, e livrar-se do esquema prisional Big-Brother que imperava no infantário Sunnyside. E se Lotso parece redimir-se, será uma sua nova traição que colocará todo o grupo perante um destino funesto numa fornaça de lixo... de onde vêm a ser salvos pelos companheiros extraterrestres! 

De forma divertida, apelativa para a generalidade das crianças, o filme é muito aconselhável a adultos, explicitando o perigo de uma sociedade dominada por um sistema central corrompido com senhores e escravos. Mas não só... faz diversas referências históricas implícitas, ao mesmo tempo que aborda de forma filosófica original uma relação transcendente entre o sentido da vida dos personagens e a sua dependência do autor das histórias. 
Obviamente, este filme mereceu bem o Oscar recebido!

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