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quarta-feira, 28 de abril de 2021

Nebulosidades auditivas (101)

Há algumas melodias que parecem ter existido sempre, ou pelo menos, parecem estar na nossa cabeça há séculos...

Queda do Império (1983) Vitorino
[aqui numa edição do programa Operação Triunfo com uma concorrente]

Perguntei ao vento, onde foi encontrar, mago sopro encanto, nau da vela em cruz
Foi nas ondas do mar, do mundo inteiro, terras da perdição
Parco império mil almas, por pau da canela e Mazagão.

Pata de negreiro, tira e foge à morte, que a sorte é de quem a terra amou
e no peito guardou, cheiro da mata eterna, laranja, Luanda sempre em flor.

Mazagão

A cidade de Mazagão, em Marrocos (agora El Jadida), ficou definida pelas muralhas da fortaleza, que assinalou a última presença portuguesa em Marrocos, quando foi abandonada pelo Marquês de Pombal, pondo fim a uma presença de 350 anos, de persistentes conflitos, no limite dos recursos materiais e humanos.

Mas Mazagão é também um exemplo que lembra o potencial lusitano.
O cerco de 1562 é exemplo disso. Do lado marroquino, "alegadamente" apareceram 150 mil soldados,  comandados por Mulei Mohamed, a impor cerco, parecendo haver menos de 400 portugueses na fortaleza. Resistiram até que apareceu uma armada em auxílio, um mês depois. Consta que pelo lado português morreram 120 pessoas, e pelo lado marroquino 25 mil.
Não será caso único, onde os portugueses resistiram a forças invasoras imensas, é apenas mais um exemplo. Mazagão tem uma bela cisterna de água, que servia de armazenamento, para resistir aos cercos.

Se é um exemplo de como fomos "onde não éramos chamados", nem bem vindos, lembra-se que demorámos também muitas centenas de anos a recuperar o território da presença árabe. 
O problema latente é que o território nacional foi sempre demasiado pequeno para a potencialidade de quem aqui habita... daí o destino lavrado serem as ondas do mar, o mundo inteiro, as terras da perdição.
Quando a liderança é míope, a potencialidade de conflito é canalizada internamente, e com a mesma força e manha, com que se resiste a um cerco de centenas de milhares de invasores, pensa-se na maneira de lixar o vizinho numa disputa por uns metros de terra. Parece que é um velho com uma enxada contra outro com uma pá, mas com o mesmo objectivo, meia dúzia de estarolas que prezam a sua individualidade, são capazes de proezas impensáveis, contra uma sociedade mecanizada e acéfala.

Finalmente, o Marquês de Pombal acabou por remeter os portugueses de Mazagão para o Brasil, onde acabaram por definir uma Nova Mazagão (hoje Mazagão Velho), junto à foz do Amazonas. Chegaram aí 340 famílias que foram mantendo a tradição de festejar no dia de S. Tiago, a resistência aos cercos contra os mouros.

Uma referência igualmente importante, é na Índia, pois uma das ilhas da cidade de Bombaim foi denominada Mazagão, e é agora chamada Mazagaon.


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