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domingo, 25 de abril de 2021

Maia

Maia (1944-1992)

Há os bastidores, os bastidores dos bastidores, e há a frente dos acontecimentos.

Maia destacou-se dos restantes, pela sua especial coragem e inteligência que é bem visível numa entrevista que deu à SIC, pouco tempo antes de morrer, com 47 anos.


As últimas palavras de Salgueiro Maia (1ª parte, SIC)

Esquecendo a parte entremeada da narrativa distorcida, ficam as palavras de Maia. Sempre pronto a avançar com uma granada na mão, para em último caso resolver o assunto com o seu sacrifício pessoal.
Na sua simplicidade e grandeza, Portugal escreveu-se pelo nome de Maia. Para evitar mortos, e conseguir uma revolução florida (com cravos vermelhos e brancos, conforme ele assegura que lhe foram oferecer, em conjunto com jornais "sem censura"), esteve pronto a explodir a granada que levava consigo.


As últimas palavras de Salgueiro Maia (2ª parte, SIC)

Sobre os cérebros:
- (...) Tenho muitas dúvidas, a todos os níveis.
Portanto, vemos que nessa altura, por exemplo, o PC tenta liderar o processo. E por outro lado, o PS está ligado concretamente ao General Spínola. Julgo que foi uma tentativa de matar dois coelhos de uma cajadada. Este é um aspecto, mas há mais...

- Matar dois coelhos de uma cajadada, ou seja?
- Ou seja, acabar com o PS e com General Spínola.

Sobre Costa Gomes:
- Situações em que ele não tomou posições, são situações de tal maneira complexas, em que na realidade agora, visto as coisas a frio, a solução melhor foi essa... foi deixar os acontecimentos começarem a encaminhar-se para ele poder-lhe dar o toque final. E não afrontar os acontecimentos, até porque naturalmente seria cilindrado, e então deixava de ter qualquer validade.

Maia explica a sua ausência das comemorações do 25 de Abril:

- (...) A coerência do poder político era culpar-nos do 25 de Abril, e assumir-se contra o 25 de Abril, mas não! Verificamos que até festejam com muita pompa e circunstância o acto. Que as pessoas que lá estão seriam as mesmas que estariam se estivessem a festejar o 28 de Maio.

E ainda para mais... e é isso que me dá o gozo sublime, é que vão ter que fazer laudatórias ao 25 de Abril, que é a negação de tudo aquilo que executam durante os 364 dias antecedentes.

- Só sei investir naquilo em que acredito. (...) Aprendemos pouco com a 1ª República, e a actividade política é uma actividade em que o compadrio e a corrupção parece que é o objectivo principal. 
A caricatura que eu faço é esta - verifico que os nossos políticos têm uma grande preocupação em serem bem reformados, e têm nula preocupação em serem bem formados.
Se fosse para entrar na actividade política era para rebentar com essa estrutura, era para fazer outro 25 de Abril. Era mais outra agitação que a sociedade não estava predisposta a assumir.

- (...) Umas vezes sou fascista, outras vezes sou comunista, porque entretanto os envolventes é que foram mudando. De maneira que o problema não é meu, é deles. Eu espero pela serenidade da história para fazer o ponto de situação.

Termino este apontamento, com a descrição que Salgueiro Maia dá da sua atitude perante a ordem de disparar, e o pensamento da caça face ao caçador... the Hunter and the Hunted


The Hunter and the Hunted (1982) Simple Minds.

Isto apenas para referir duas abas musicais, que não dissocio do 25 de Abril e de Fernando Salgueiro Maia (nos links, explica-se porquê):

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