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domingo, 8 de setembro de 2019

Brexit... e a volatilidade dos mercados

Há uns anos atrás, venderam-nos a história de que os mercados eram seres muito sensíveis.
As bolsas de valores seriam sensíveis a tudo, porque os investidores eram alarmados por notícias que iam num ou noutro sentido, respondendo de forma imprevisível.
Qualquer coisinha que se fizesse, ui, ui, era preciso imenso cuidado... porque iria agitar os mercados.
As nações pareciam ter ali uma flor de estufa que, à primeira corrente de ar, constipava-se.

Isso era dantes... até ao momento em que os "mercados" decidiram avançar com o Brexit.
É claro, há quem pense que foi uma decisão do eleitorado inglês... e também terá sido, mas toda a propaganda foi sendo desenvolvida no sentido de antecipar o previsível resultado. Culpar-se-à Putin disso, como de tantas outras coisas, enquanto "malvado de serviço" neste conto de fadas, mas provavelmente não será necessário sair de Londres, ou melhor da City de Londres.

Se fossemos um público mais exigente, com jornalistas e comentadores não vegetativos, já teríamos colocado a questão de nexo nesta história. Desde que foi anunciado o Brexit, quantas voltas e reviravoltas deu a situação política inglesa? Cameron saiu, entrou May, que negociou e renegociou com a UE, e agora é Boris Johnson que balança na corda bamba.
De acordo com o nexo de mercados imprevisíveis, voláteis com as incertezas políticas, já teríamos a libra a desvalorizar-se, a dívida inglesa a disparar nos mercados, etc...
No entanto, para além de uma tímida descida/correcção da libra na altura da votação do Brexit, desde aí, por mais caótica que fosse a situação política inglesa, os mercados passaram de seres hipersensíveis, a seres maduros, não influenciáveis com o completo caos político inglês. Para espanto de praticamente todos os analistas, já tinham sido insensíveis ao caos político espanhol... porque tinham que se preparar para serem ainda mais insensíveis, face ao que se antevia no Reino Unido.

Portanto, temos agora neste conto de fadas que nos é servido pelos noticiários, a fase dos "mercados maduros", mantendo a economia europeia estável, apesar da total incerteza nas futuras relações da UE com o UK.
Dir-se-ia que isto é assim, porque foi definido que o Brexit iria funcionar de qualquer maneira, e por isso os investidores, que não são voláteis, mas são obedientes e bem treinados, respondem de forma previsível, conforme é estabelecido pela City de Londres, e às vezes por Wall Street (quando é preciso convencer os americanos de que têm uma palavra importante).

De resto, acerca da forma como o UK encarava a UE, é histórica esta sátira da série "Yes, Minister":


Minister Hacker: Does the Foreign Office realize what damage this will do to the European idea?
Sir Humphrey: Well, I'm sure they do, that's why they support it.
Minister Hacker: Surely, the Foreign Office is pro-Europe isn't it?
Sir Humphrey: Yes and no... if you forgive the expression. The Foreign Office is pro-Europe because it is really anti-Europe. The civil service was united in its desire to make sure that the Common Market didn't work. That's why we went into it.

Minister Hacker: Who told you that?
Sir Humphrey: Minister, Britain has had the same foreign policy objective for at least the last 500 years: to create a disunited Europe. In that cause we have fought with the Dutch against the Spanish, with the Germans against the French, with the French and Italians against the Germans, and with the French against the Germans and Italians. Divide and rule, you see. Why should we change now, when it's worked so well?

Minister Hacker: That's all ancient history, surely?
Sir Humphrey: Yes, and current policy. We had to break the whole thing up, so we had to get inside. We tried to break it up from the outside, but that wouldn't work. Now that we're inside we can make a complete pig's breakfast of the whole thing: set the Germans against the French, the French against the Italians, the Italians against the Dutch... The Foreign Office is terribly pleased; it's just like old times.

Minister Hacker: But surely we're all committed to the European ideal?
Sir Humphrey: Really, minister...
Minister Hacker: If not, why are we pushing for an increase in the membership?
Sir Humphrey: Well, for the same reason. It's just like the United Nations. In fact, the more members it has, the more arguments it can stir up, the more futile and impotent it becomes.
Minister Hacker: What appalling cynicism!
Sir Humphrey: Yes... we call it diplomacy, minister.

2 comentários:

  1. Re: “acerca da forma como o UK encarava a EU”

    Peso e Medida

    não creio nesse antigo dividir para reinar sozinho (do UK) ingleses partilharam o mundo com franceses depois de espanhóis com portugueses, agora a partilha é desproporcionada, rompeu-se o equilíbrio de lucros e influencias,

    provavelmente a seguir saem da EU os holandeses :
    https://www.atlantico.fr/pepite/2974761/les-pays-bas-commandent-un-rapport-sur-la-sortie-de-l-euro
    os alemães sobreviverão a tudo e a todos, sobreviveram ao império romano…
    portugueses enquanto o Brasil existir serão respeitados, por enquanto porque já não é a primeira vez que que os franceses tentam retalhá-lo e ou acabar com ele (conferencia de Berlim Sociedade das Nações) esta agora da Amazónia a arder é outra tentativa,

    o Brexit no meu entender não tem nada a haver nem a ver com os mercados, digamos que todo o planeta não está interessado em fazer comercio utilizando a porcaria da língua francesa do Roi-Soleil, a debandada anunciada da City de Londres para Paris ainda não se viu,

    por o comércio-lucro até que ponte se pode abdicar da soberania? Perde-se o próprio peso e medida até que ponto? Mais uma década e o UK, ou melhor as suas populações, perdiam a sua identidade unida, seria diluída numa Europa Imperial à bota da francesada! Que expõe orgulhosamente em vitrine o peso e a media napoleónica que impingiu!

    Como costumo dizer em casa la merde du français ne pue pas la merde porque todos os outros gostam dela.

    Cumprimentos

    https://www.gov.uk/government/speeches/prime-ministers-speech-on-europe
    https://youtu.be/w6wCRAXZogI
    EU reform: PM's letter to President of the European Council Donald Tusk
    “devolver soberania aos parlamentos dos Estados membros”

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    1. Sim, parece-me que a saída do UK vai definir o início do fim da UE.
      Porque a UE era um projecto de Unanimismo para a própria Terra, começando por unir a Europa, e depois procurando que o resto no mundo fosse definido por grandes blocos fáceis de dirigir. Ou seja, a UE na Europa, os países do Echelon, noutro bloco, a Rússia noutro bloco, a China num outro, os países do Mercosul num outro, de África noutro, etc... mas essa ideia que partiu de um pseudo-sucesso da UE, terminou rapidamente com o falhanço da união na UE.
      Portanto, creio que o movimento natural será procurar os grandes blocos definidos pelas velhas potências coloniais.
      A França e a Alemanha estão sozinhas, porque só lhes resta influência dentro da própria Europa. Sem Europa, ficam reduzidas a uma influência reduzida, não têm nenhum espaço natural de afirmação. Por isso, a França, Alemanha e Itália vão procurar manter a UE e o mais natural será que os outros estados se afastem progressivamente.
      A França falar da Amazónia ou estar calada, é o mesmo, porque pouco mais que ninguém liga a esses disparates. Aliás, o Brasil anda muito saudosista do tempo nacionalista da ditadura militar, e as coisas podem complicar-se.

      É claro que só os franceses, no meio do seu auto-deslumbre, é que acreditaram que a City de Londres iria passar para Paris...
      O mais natural é que a Inglaterra saia da UE e que em 2025-30 o UK esteja a crescer aceleradamente, enquanto a UE estará em profunda recessão e pré-debandada.
      Só há um verdadeiro bloco que coordena as coisas nos bastidores, e esse é o bloco Echelon - das antigas colónias britânicas. Tudo o resto são estados de espírito desinquietos com esse domínio.

      Cumprimentos.

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