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domingo, 22 de setembro de 2019

Móbil de Pipi e Tintins

Pipi
Pipi das meias altas ("Pippi meialonga" no Brasil) é o nome de uma personagem de uma autora sueca, Astrid Lindgren, desenhada como "menina invulgar, a mais forte do mundo, com sardas na cara, e tranças vermelhas". Os livros foram publicados há 70 anos entre 1946-48 na Suécia.

No entanto, aqueles que como eu viram e gostaram da Pipi das meias altas a preto-e-branco na RTP no início dos anos 70, viram a versão feita pela TV sueca, que apareceu vinte anos depois dos livros, ou seja em 1969. Comemoram-se agora 50 anos:

A série foi um sucesso internacional, e ao que parece que se quis recuperar a personagem fazendo uma nova série de episódios, agora em formato reality show. 
À esquerda a activista Greta Thunberg, à direita a actriz Inger Nilson, fazendo de Pipi. 
Interpretações de meninas de tranças, em 2019 e em 1969.

Só quem não nasceu antes dos anos 70, ou anda muito distraído, é que não repara nas semelhanças entre a personagem de ficção de 1969, e a ficção feita personagem em 2019. 
Sim, não havia nenhum episódio intitulado  "Pipi salva o planeta ou salva o clima", mas as proezas ficcionadas de Greta, de uma menina independente a desafiar o mundo adulto, estão ao nível de Pipi:
A série Pipi da Meias-Altas, na RTP em 1973 (inclui a canção Giroflé, Giroflá)

Parecerá que uma relação entre Greta e Pipi não existe, mas leia-se de novo, e perceber-se-à que a relação entre Greta e Pipi, vai para além das tranças no cabelo.
Ok, mas e o que tem isto a ver com Tintins?

Tintin
O personagem do escritor belga Hergé, começou a sua publicação em 1929, ou seja há 90 anos, e a revista Tintin começou a publicação em 1946, ao mesmo tempo que saía Pipi na Suécia.
Curiosamente, Hergé baseia-se nos foguetes alemães V2, para colocar Tintin na Lua, em bandas desenhadas entre 1952-53, e é assim um Tintin (com 40 anos) que em 1969 recebe Armstrong na Lua:
Cartoon de Tintin, ilustrativo ficcionado da chegada americana à Lua.

Ou, dito de outra forma, terá sido esta a maneira que Hergé encontrou de lembrar a Neil Armstrong que Tintin já havia estado na Lua... bom, e do ponto de vista ficcionado, realmente a prioridade ficaria em si.

De que forma Tintin e Pipi se relacionam? Pelo nome completo da Greta:
Greta Tintin Eleonora Ernman Thunberg.
Greta, para além de ser candidata ao Nobel, é já membro da Royal Scottish Geographical Society, uma distinção difícil quando é pelo reconhecimento do trabalho científico, mas muito rápida em casos maçónicos convenientes.
Dir-se-ia que a realidade foi apanhada no meio da alucinação LCD dos baby-boomers, depois hippies dos anos 60, e yuppies dos anos 80.

sábado, 21 de setembro de 2019

Nebulosidades auditivas (74)

The revolution will not be televised (Gill Scott Heron, 1970)

domingo, 8 de setembro de 2019

Brexit... e a volatilidade dos mercados

Há uns anos atrás, venderam-nos a história de que os mercados eram seres muito sensíveis.
As bolsas de valores seriam sensíveis a tudo, porque os investidores eram alarmados por notícias que iam num ou noutro sentido, respondendo de forma imprevisível.
Qualquer coisinha que se fizesse, ui, ui, era preciso imenso cuidado... porque iria agitar os mercados.
As nações pareciam ter ali uma flor de estufa que, à primeira corrente de ar, constipava-se.

Isso era dantes... até ao momento em que os "mercados" decidiram avançar com o Brexit.
É claro, há quem pense que foi uma decisão do eleitorado inglês... e também terá sido, mas toda a propaganda foi sendo desenvolvida no sentido de antecipar o previsível resultado. Culpar-se-à Putin disso, como de tantas outras coisas, enquanto "malvado de serviço" neste conto de fadas, mas provavelmente não será necessário sair de Londres, ou melhor da City de Londres.

Se fossemos um público mais exigente, com jornalistas e comentadores não vegetativos, já teríamos colocado a questão de nexo nesta história. Desde que foi anunciado o Brexit, quantas voltas e reviravoltas deu a situação política inglesa? Cameron saiu, entrou May, que negociou e renegociou com a UE, e agora é Boris Johnson que balança na corda bamba.
De acordo com o nexo de mercados imprevisíveis, voláteis com as incertezas políticas, já teríamos a libra a desvalorizar-se, a dívida inglesa a disparar nos mercados, etc...
No entanto, para além de uma tímida descida/correcção da libra na altura da votação do Brexit, desde aí, por mais caótica que fosse a situação política inglesa, os mercados passaram de seres hipersensíveis, a seres maduros, não influenciáveis com o completo caos político inglês. Para espanto de praticamente todos os analistas, já tinham sido insensíveis ao caos político espanhol... porque tinham que se preparar para serem ainda mais insensíveis, face ao que se antevia no Reino Unido.

Portanto, temos agora neste conto de fadas que nos é servido pelos noticiários, a fase dos "mercados maduros", mantendo a economia europeia estável, apesar da total incerteza nas futuras relações da UE com o UK.
Dir-se-ia que isto é assim, porque foi definido que o Brexit iria funcionar de qualquer maneira, e por isso os investidores, que não são voláteis, mas são obedientes e bem treinados, respondem de forma previsível, conforme é estabelecido pela City de Londres, e às vezes por Wall Street (quando é preciso convencer os americanos de que têm uma palavra importante).

De resto, acerca da forma como o UK encarava a UE, é histórica esta sátira da série "Yes, Minister":


Minister Hacker: Does the Foreign Office realize what damage this will do to the European idea?
Sir Humphrey: Well, I'm sure they do, that's why they support it.
Minister Hacker: Surely, the Foreign Office is pro-Europe isn't it?
Sir Humphrey: Yes and no... if you forgive the expression. The Foreign Office is pro-Europe because it is really anti-Europe. The civil service was united in its desire to make sure that the Common Market didn't work. That's why we went into it.

Minister Hacker: Who told you that?
Sir Humphrey: Minister, Britain has had the same foreign policy objective for at least the last 500 years: to create a disunited Europe. In that cause we have fought with the Dutch against the Spanish, with the Germans against the French, with the French and Italians against the Germans, and with the French against the Germans and Italians. Divide and rule, you see. Why should we change now, when it's worked so well?

Minister Hacker: That's all ancient history, surely?
Sir Humphrey: Yes, and current policy. We had to break the whole thing up, so we had to get inside. We tried to break it up from the outside, but that wouldn't work. Now that we're inside we can make a complete pig's breakfast of the whole thing: set the Germans against the French, the French against the Italians, the Italians against the Dutch... The Foreign Office is terribly pleased; it's just like old times.

Minister Hacker: But surely we're all committed to the European ideal?
Sir Humphrey: Really, minister...
Minister Hacker: If not, why are we pushing for an increase in the membership?
Sir Humphrey: Well, for the same reason. It's just like the United Nations. In fact, the more members it has, the more arguments it can stir up, the more futile and impotent it becomes.
Minister Hacker: What appalling cynicism!
Sir Humphrey: Yes... we call it diplomacy, minister.