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terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Cair de Maduro

Uma expressão figurativa antiga e bem conhecida é "cair de maduro", que funciona como um sinónimo colorido de inevitabilidade:

"Thesouro da lingua portugueza" (1873) de Frei Domingos Vieira

... mas há outros - no mesmo dicionário podemos ler expressões menos correntes:
- Cair do estado (perder um estado próspero);
- Cair o rabo a alguém de contente (estar alguém muito contente).

Tendo acabado de falar da estética dos uniformes nazis de Hugo Boss, é também interessante mencionar a estética do uniforme herdado de Hugo Chavez: 
... ou seja, o típico visual de quem vai de chanatas e fato-de-treino ao hipermercado.

Maduro perdeu estrondosamente as eleições parlamentares de 2015, coisa que nunca acontecera a Chavez, mas isso não o destituíria do cargo. 
Simplesmente, mudou a constituição, e foi esvaziando de poderes o parlamento venezuelano, sem nunca o ter banido. Depois voltou a convocar eleições no ano passado, em Maio de 2018, e foi reeleito com uma margem confortável, até porque a oposição apelando ao boicote, apenas terá facilitado a sua vitória, sem necessidade de extensivas fraudes. 

É claro que todo este processo tinha sido levado a cabo pelos EUA, com ajuda dos aliados sauditas, na baixa do preço do petróleo desde 2014-15, e aumentou a fragilidade de uma economia sujeita a prolongadas sanções económicas. 
Seria expectável que o descontentamento popular levasse justamente à derrota... o que aconteceu. 

A escandaleira foi, já se sabe, Maduro usar dos estratagemas ocidentais para quando o resultado das eleições não agrada... repetem-se! A UE iniciou essa beleza com múltiplos referendos (por exemplo, em 2008 a Irlanda rejeitou o Tratado de Lisboa, e voltou a votar em 2009, aceitando-o), ou a simples ausência da sua necessidade. A legalidade é sempre fabricada e é volátil quando convém...
Em 2015-16 haveria mais razões para a oposição venezuelana protestar, mas foi envolvida num cozido morno, e só despertou quando em 2018 Maduro foi reeleito.

Em Agosto de 2018 houve um incidente caricato na explosão de um drone... poderia até pensar-se em pretenso golpe auto-infligido, mas Maduro invocou culpados externos na Flórida. É claro que a situação venezuelana está num processo de degradação acentuado, e apenas se espera que Maduro caia de maduro, uma vez que a Rússia ou a China parecem demasiado distantes para lhe dar o apoio necessário.

Neste processo, fala-se da falta de liberdade de expressão... como se na Venezuela houvesse menos do que aqui. Ora, apesar das palestras aos passarinhos de Maduro, na VTV, há uma considerável liberdade de imprensa, vendo-se jornais declarando já Guiado como presidente interino, e será ardiloso assumir o contrário.

Ao mesmo tempo, a nossa comunicação social é uma paródia descomunal.
É claro que nem disfarça um completo condicionamento e unilateralidade. 
Nada de estranhar, porque, ou aprenderam com as propagandas ditactoriais, ou pretendem ensiná-las.

Não era necessário, mas a coisa foi ao ponto caricato de vermos transmissões "em directo", à tarde, de manifestações passadas à noite em Caracas:
- Ou seja, alguém se esqueceu de avisar que a diferença horária corre no outro sentido, e que a tarde em Lisboa corresponde habitualmente à manhã em Caracas!

Portanto, não é só de Maduro que se antecipa uma queda de maduro, é de todos os lindos meninos que acham que um simples ardil de falsificação ou manipulação da verdade, será sempre colhido como bom pela fruta verde. Uma velha luta entre a realidade e a alucinação... em que o caminho da alucinação tem sido sempre envolver-se numa alucinação alternativa, evitando a queda na realidade.

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