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domingo, 25 de dezembro de 2016

Nebulosidades auditivas (47)

De um filme apropriado a uma época, "Merry Christmas, Mr Lawrence" (1983), tendo David Bowie como actor, surgiu uma bela composição de Ryuichi Sakamoto (também aí actor), a que David Sylvian (vocalista dos Japan) deu uma letra que serviu contextos ambíguos, tão próprios da época que se seguiria.
Forbidden Colours - Ryuichi Sakamoto & David Sylvian

Porém, da discografia dos Japan, e em particular do álbum Oil on Canvas, que ouvi incessantemente, fica sempre este inesquecível - Methods of Dance, especialmente adequado a uma dança em que as coreografias estão completamente desfasadas...

Methods of Dance - Japan (1983)

Here's a new design
The cut and style you know so well, spins across the floor
It's the same routine
One last word before you go. Why should I ask for more?
Then out of the blue, you are here by me
(Moving) Taking my chance
(Learning) Methods of dance, Methods of dance
It's such a price to pay
Your sense of doubt inside my mind, oh but never asking why
No second chances now
I could be sure if I were to live, at your speed of life
Then out of the blue, you are here by me
(Moving) Taking my chance
(Learning) Methods of dance, Methods of dance

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Nebulosidades auditivas (46)

O chamado ambiente de "gravidade zero" tem estado cada vez mais disponível, com algumas companhias privadas de aviação a fazerem vôos parabólicos, onde contrariam a força de gravidade, permitindo o mesmo tipo de experiência que a NASA usa para treino de astronautas.
Neste vídeo, vemos uma banda musical, pouco conhecida, que decidiu fazer umas brincadeiras num desses vôos, que durante alguns segundos, subindo e descendo a pique, em trajectória parabólica, permitem simular a ausência da gravidade. O resultado não é tão bom quanto o "profissional", mas é suficientemente esclarecedor.
Ok Go - Upside Down & Inside Out (2016)
- ver ainda a produção do vídeo (onde inside-out se ajusta ao chamado "vôo vómito")

Falar em "gravidade zero" é um erro de linguagem.
A gravidade da Terra nunca deixa de estar presente... simplesmente em vôos orbitais, a velocidade é de tal forma elevada que o efeito dessa atracção terrestre é compensado. O processo não é assim o mesmo do que aquele que é experimentado nestes aviões de descida, mas os resultados são idênticos.

Os vôos orbitais em torno da Terra, dentro da segurança da cintura de Van Allen, têm velocidades muito elevadas. Por exemplo, a Estação Espacial Internacional é suposta fazer uma volta à Terra em hora e meia, estando 45 minutos em dia, e 45 minutos em noite.
Para velocidades mais pequenas, a órbita teria que ser mais elevada, podendo ser geoestacionária a uma altitude suficientemente elevada (aí o dia teria 24 horas e não apenas 1h30).

O problema é a radiação solar, e por isso a Estação Espacial (ISS), ou outras imagens que se vejam de astronautas, têm que estar dentro do espaço de segurança dado pela Cintura de Van Allen, o que implica - vôos orbitais muito baixos. Ou seja, um astronauta não tem uma imagem da Terra à distância, conforme é habitual passar-se essa ideia... tem uma imagem que não é substancialmente diferente da que vemos quando voamos em grande altitude num avião. É claro que é ainda melhor que os pilotos de caças em vôos suborbitais, mas não é muito diferente.
Para ter uma imagem à distância, teria que estar muito fora da Cintura de Van Allen, o que implicaria estar numa nave espacial sujeita à radiação letal emitida pelo Sol, nomeadamente todo o tipo de Raios X.


Imagens de satélites geostacionários:


domingo, 11 de dezembro de 2016

Nebulosidades auditivas (45)

Talvez uma das melhores "bocas" dos últimos tempos, foi a resposta da equipa de Trump às recentes acusações da CIA de que "a Rússia teria interferido na eleição", ao lembrar que (a CIA) se trata da mesma malta que também dissera que o Iraque tinha armas de destruição massiva:

“These are the same people that said Saddam Hussein had weapons of mass destruction,” 
said a statement from his transition team. (The Independent, 10 de Dezembro 2016)

Um sinal de que não parece fácil a transição dos "segredos de estado" para a nova administração Trump, ou de que algum pessoal do Tea Party pode ter umas contas politicamente incorrectas a ajustar, nomeadamente Ron Paul, que sempre foi contra a intervenção no Iraque e o Patriot Act.

Weapons of mass distortion (The Crystal Method, 2004)

Cheap thrills (Sia featuring Sean Paul, 2016)

domingo, 4 de dezembro de 2016

Byrd - voando sobre niños polares

Richard Byrd numa
entrevista "Longines"
O almirante Richard E. Byrd será o mais consagrado explorador norte-americano, pelas suas viagens de avião sobre o Pólo Norte em 1926 e sobre o Pólo Sul em 1929. Pelo meio ainda participou na competição de cruzar o Atlântico, em 1927, onde foi suplantado por Charles Lindbergh (realizando o mesmo feito, praticamente um mês mais tarde).

Byrd fará parte de expedições americanas à Antárctida, a primeira (1928-30), onde chegaria ao Pólo Sul de avião, outra em 1934, e ainda em 1939-40, numa altura em que os alemães nazis tinham acabado de reclamar o território que denominaram "Neuschwabenland" - Nova Terra dos Suevos.  

Porém a expedição mais importante será a que ocorre após a 2ª Guerra Mundial, denominada Operação Highjump, entre 1946-47.
Não há propriamente grande registo do que se teria passado com NeuSchawbenLand, e poderia esta intervenção ser vista como uma forma dos EUA se assegurarem do que restava ali, das anteriores expedições nazis.

Bom, e o que poderia haver lá?
- Uma base de discos voadores, construídos pelos alemães.
Haunebu II - um projecto nazi de Disco Voador (ver mais)
Parecendo ficção científica, ou teoria da conspiração... ao longo das décadas seguintes foram aparecendo afirmações e documentação (não reconhecida oficialmente, como é claro), de que teriam havido planos para a sua construção. Essa informação chega ao público pelo Prof. Giuseppe Belluzo, antigo ministro de Mussolini, num artigo do jornal "il Giornale d'Italia" em 1950, onde diz que discos voadores tinham sido projecto italiano e alemão desde 1942.

Entendendo que o disco voador pode consistir essencialmente num motor orientado na vertical, em que as pás não servem para uma propulsão na horizontal, mas sim na vertical, o projecto não traz nada de assim tão extraordinário, do ponto de vista aerodinâmico... notando que agora há à venda, em qualquer hipermercado, bastantes drones que usam a mesma ideia, usando quatro motores na vertical para maior estabilidade. Aliás uma ideia análoga à que também foi usada nos helicópteros (com a diferença que a carga ficaria por baixo, e não por cima das pás). Por isso, nem será de estranhar que o projecto existisse, nem que tivesse sido depois acarinhado secretamente por americanos (ou russos), levando a estranhos avistamentos nos céus.

O seguinte documentário russo começa por levantar a questão da expedição científica de Byrd, ser acompanhada de um enorme porta-aviões, e de um número de operacionais militares, mais adequado a uma intervenção militar do que a uma mera expedição científica. Associam assim as perdas humanas, não a lamentáveis acidentes, mas a uma eventual resposta germânica, na base Neuschwabenland... onde também se conjectura que os líderes nazis se poderiam ter refugiado.

https://www.dailymotion.com/video/x4si3zh      (youtube cancelado)
Men in Black - Documentário Russo - (The Secret UFO Operation 
UFO Base Entrance In Antarctica - Inner Earth Base)

Depois, o documentário vai especulativamente mais longe, não necessariamente na velha teoria da "Terra Oca", mas na possibilidade de se formarem portais estelares, conhecidos como "wormholes", de entrada e saída destas naves. 
A teoria da "Terra Oca" não é propriamente uma novidade, e desde ser considerada como um modelo para o "inferno" cristão, como oposição ao "céu", até ser usada mesmo como teoria por alguns pensadores do Séc. XVII como Anasthasius Kircher, tem muitas formulações... que podem ir desde pequenos abrigos subterrâneos, a autênticos mundos alternativos - mas aí sem grande suporte científico. No entanto, dado que estamos praticamente limitados a "pequenos" buracos na crosta terrestre, no máximo de uma dúzia de quilómetros, ficamos muitíssimo longe do raio terrestre com aproximadamente 6500 quilómetros.

Circula uma versão de um diário atribuído a Byrd, "The inner earth - my secret diary" que daria conta de um contacto numa viagem de avião em 1947 no Árctico (mas deveria ser Antárctico, no quadro da operação Highjump). Esse pseudo-diário é suposto dar conta de um contacto com um "mestre" de uma civilização ariana baseada no interior da Terra, O mais natural, conforme foi apontado, é que se trate de uma falsificação... dado que há frases retiradas de um filme de 1937 (Lost Horizon). Assim, se o filme diz:
«I see in the great distance a new world starting in the ruins … But in hopefulness, seeking it’s lost and legendary treasures, and they will all be here, my son, hidden behind …”»
... o diário diz quase o mesmo:
«We see a great distance a new world stirring from the ruins of your race, seeking its lost and legendary treasures, and they will be here my son, safe in our keeping…»

Continua a parecer-me mais plausível que uma sociedade secreta se esconda à nossa vista, do que haver necessidade de a procurar no interior da Terra, ou até no espaço exterior.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Luzes sísmicas

No sismo da passada semana, na Nova Zelândia, foi notícia difundida o aparecimento de luzes sob os céus de Christchurch.
Mysterious green and blue flashes appeared as New Zealand earthquake struck
(metro.co.uk 2016/11/14)
Curiosamente, do Sismo de 28 de Fevereiro de 1969 (ocorrido às 2h40m UTC, ou 3h40m na hora nacional?), poderá ter havido registo de luzes no céu. Sendo criança pequena à época, tenho uma memória difusa de que ao sair de casa havia uma luz no horizonte, semelhante a esta da Nova Zelândia... algo que li em outros relatos
"Pode não estar associado mas se perguntares a muitos dos algarvios da orla costeira, todos afirmam o mesmo, tempo abafado, os roncos vindos do mar e a cor esquisita do céu.
Isto sendo resposta a alguém que duvidava da mudança de cor no céu, e que por acaso eu sempre tinha associado a ser próximo da alvorada, mas será algo excluído, com o sismo às 3h40m da manhã.

O fenómeno terá sido bem observado durante o sismo de L'Aquila em 2009, e em muitos outros, conforme artigos na wikipedia (inglesa ou francesa).
No caso do sismo de Fukushima de 2011, o fenómeno foi até associado ao efeito HAARP, algo que terá induzido um maior cepticismo, ao ponto de muitos rejeitarem este tipo de observações, mesmo havendo um registo fotografias de longa data. Continua a ser bastante fácil considerar apenas as observações que são "politicamente correctas".

Porém, o fenómeno é de um modo geral aceite e já levou a diversas hipóteses (artigo BBC), que dizem respeito não apenas a luzes no céu, mas também a outro tipo de luzes, nomeadamente as que se enquadram nos chamados raios globulares, com registo pré-histórico.

O que me parece mais natural, ainda que precisasse de outros dados para sustentar isso como hipótese, é que a vibração do solo por efeito do terramoto, induzindo também uma vibração da atmosfera, permita a observação de raios em alta atmosfera, ou troposfera, quer podendo antecipar luzes da manhã, quer ver luzes da troposfera, normalmente só vistas nos pólos, ou círculos polares, pelo fenómeno das auroras (boreais ou austrais).

sábado, 12 de novembro de 2016

A guiar da beira em inversão

Sintoma notório de insanidade social, é termos meia-dúzia de jornalistas e advogados com medo de serem mortos pela polícia... quando estão fechados numa casa com o suposto homicida e psicopata mais perigoso do país!
Independentemente das histórias construídas, desde a história do próprio, à anterior história do "psicopata", que psiquiatras de serviço então asseguravam «É um indivíduo que, mesmo encurralado, não se irá entregar e que, sem capacidade para ter um filtro, não vai parar de fugir ou mesmo de cometer novos crimes se preciso for para escapar», já parece que o nível de credibilidade das histórias, anda tanto pelas ruas da amargura, que nenhuma consistência na narrativa interessa. Pergunta-se, e quem faz a avaliação psiquiátrica, dos psiquiatras?
O espaço dos opinadores profissionais, mediáticos, é um espaço onde se podem dizer todos os disparates hoje, que amanhã não interessa, porque todos se esqueceram, e ninguém é culpabilizado por ter feito uma avaliação errada, simplória, mal intencionada ou bacoca.
Assim que se cria a ideia de que a resposta natural de uma corporação policial à morte de um agente, é procurar o primeiro suspeito a tiro, está o passo dado para gastos de recursos, medo nas populações, e inviabilizar a solução mais simples - aguardar que o suspeito se entregue. Tal como será óbvio que se a justiça usar a já habitual inversão do ónus da prova, alinhando na narrativa conveniente, que é mantida a todo o custo, mais fará para que ninguém se entregue.

Como se não bastasse este exemplo, vemos também o estado de negação mediático que foi induzido a nível mundial contra a eleição de Donald Trump, quando haveria mais que razões para antever a sua vitória como provável. No entanto, como chegámos ao ponto de ser politicamente incorrecto desconstruir uma história idealizada e fabricada no circo mediático, surge a necessidade de alimentá-la até ao fim, quando a realidade torna a negação impossível. Algo semelhante terá acontecido com o Brexit, ou até com a eleição do Syriza... tudo encarado como improvável, até que aconteceu. E não é problema de sondagens, ou populismo, é simplesmente tentar tapar o Sol com as peneiras. 

Não se trata de simpatizar com personagens duvidosos, em histórias completamente diferentes, mas simplesmente de ver uma semelhança de comportamento mediático, em ímpetos quase imparáveis, de alimentar uma narrativa conveniente na opinião pública, até à exaustão, até ao ponto de parecer insano quem ousar dizer o contrário, quem ousar questionar o politicamente correcto, por mais evidente que a coisa se vá tornando. E invariavelmente, mesmo errando todas as análises e todas as previsões, estes Zandingas ou Mayas mediáticas, continuam a ocupar o seu espaço de insanidade corporativa, a alimentar contradições, como se não tivessem sido apanhados vezes sem conta a manipular opiniões públicas, sem qualquer base factual.

Nesse mundo idealizado, Zeinal Bava é um gestor de sucesso, o BES um banco sólido, o Syriza nunca ganhará eleições na Grécia, a Inglaterra mantém-se fiel à UE, este Verão de S. Martinho está a ser escaldante, Hillary Clinton terá cilindrado Trump nas eleições, e os jornalistas e advogados do psicopata de Aguiar da Beira foram todos chacinados. Se nada disto corresponder à realidade que vê, pois será tempo de mudar de canal.


quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Nebulosidades auditivas (44)

The Lady is a Tramp - Frank Sinatra
ou ainda 
Lady and the Tramp (Dama e o Vagabundo)
ou ainda, os mass media e a construção do desconcertante,
Trump vs Hillary: Hilariante
 a desconstrução do politicamente correcto.

sábado, 29 de outubro de 2016

O futuro do passado (1)

Uma boa maneira de não esquecer como a nossa percepção das coisas vai mudando, sem que muitas vezes tomemos consciência disso, é olhar para as previsões feitas no passado do que seria o futuro.
Afinal estamos no futuro do passado, e podemos ajuizar agora se essas previsões faziam ou não faziam sentido...

Por exemplo, para quem teve a oportunidade de ver durante a infância uma parte da evolução da exploração espacial, seria algo inacreditável que não existissem hoje viagens regulares à Lua, até em voos comerciais. Porém, a atenção foi facilmente manipulada. 
Primeiro, o programa Apollo foi descontinuado em 1973, mas para evitar a ideia de uma regressão, foi inventado o Space-Shuttle, que invocava um propósito entendível - recuperar as naves espaciais, que doutra forma se perdiam em cada expedição. 

Porém, desde 1981 nem sequer foi feita nenhuma tentativa de levar um Space-Shuttle a orbitar a Lua, e o projecto foi-se revelando cada vez mais uma simples distracção, até que teve os seus dias finais em 2011. Então Obama decidiu declarar Marte como próximo objectivo até 2030, mas claro que se tratava apenas de manter o público com uma ideia de continuação do interesse na exploração espacial.
Afinal de contas, já nos bons velhos da pretensa exploração lunar, se tinha determinado que o objectivo Marte poderia ser alcançado em 1988:

Portanto, de acordo com as previsões nos anos 70, e que ninguém se atreveria a classificar de "lunáticas"... o objectivo marciano ser colocado a menos de 20 anos de distância, parecia completamente razoável, tal como parecerá o anúncio de Obama.
Só que 1988 passou, em 1989 caiu o Muro de Berlim.... e as coisas mudaram para ficarem exactamente na mesma! Passaram ainda mais 30 anos em cima disso... e nada!

O que mudou então nas passadas previsões de futuro?
Num artigo da revista Gizmodo intitulado 
o autor M. Novak foi recolher de uma rubrica dos anos 50, chamada "Closer than we think", a previsão para o futuro próximo, que estaria ali ao virar da esquina. 

1) Carro solar... era assim uma ideia corrente já nos anos 1950, como é hoje, mas demora a despontar para um desenvolvimento efectivo, desde que me lembro.

2) Casas em redomas de vidro... esta ideia praticamente desapareceu! No entanto quem via ficção científica, sabe que era bastante popular ver em antevisões futuristas.

3) Super-colheitas... uma ideia num tempo em que a ecologia e o politicamente correcto do meio-ambiente, ainda não tinham invadido os discursos, pareciam aceitáveis plantações geneticamente modificadas, usando radiações. Pelo menos, aqui parece ter sido bom não enveredar por este caminho, ou talvez estivessemos agora também geneticamente modificados!



4) Armazéns robotizados... uma ideia simples, ter robots a gerirem grandes armazenamos, o que praticamente pode considerar-se alcançado, sem grande dificuldade.

5) Educação por botões... uma espécie de educação à distância, com menos professores, onde os alunos seguiam as aulas por vídeos e respondiam pressionando botões, adequando a progressão, é uma ideia basicamente simples, com a diferença que no passado sempre se descurou a evolução dos computadores.

6) Máquinas ambulantes... uma ideia bizarra, destinada a evacuação em emergências, talvez já com algum receio de perigos de bombas nucleares, ideias de quem passou pela "Guerra Fria", com o espectro de um holocausto nuclear a qualquer momento.


sábado, 8 de outubro de 2016

Méee (5) - lógica do facho

O caso diz respeito a uma cidadã, e a notícia de hoje do Correio da Manhã é a seguinte:
Mulher presa por chamar criminosos a polícias e juízes Uma investigadora, de 50 anos, está detida na cadeia de Tires a cumprir três anos de prisão por injúria e difamação a vários juízes, procuradores e polícias, entre eles o ex-PGR Pinto Monteiro, a procuradora Maria José Morgado e o diretor da PJ Almeida Rodrigues. Maria de Lurdes Rodrigues foi condenada em 2000 e a sentença transitou em julgado em 2012, após uma batalha judicial que incluiu tentativas de internamento psiquiátrico. Esteve contumaz e está presa em Tires desde 29 de setembro. O caso está a gerar uma onda de indignação nas redes sociais, onde amigos da investigadora exigem a sua libertação imediata. O processo teve início em 1996, quando contestou a perda de uma bolsa de estudo em Cinema - na altura era Manuel Maria Carrilho ministro da Cultura. Quando o Supremo Tribunal Administrativo não lhe deu razão, acusou um juiz de corrupção. Pinto Monteiro, Maria José Morgado e Almeida Rodrigues foram acusados pela mulher de "darem cobertura a crimes" de quem a despejou de casa em 2008, apelidando-os de "gang de criminosos que roubam e pilham".
... mas o CM não é propriamente a melhor fonte neste caso, apesar do assunto estar sob silêncio de todos os outros jornais, exceptuando noticiários online:


... que remetem para uma notícia de 2013 do Diário de Notícias, onde se poderia ler o pseudo-fundamento da acusação:
No acórdão que confirma a prisão efetiva refere-se que ao apelidar "as magistraturas e a polícia, em suma, o sistema judicial, de gangues, de organizações criminosas, sem leis, valores e princípios, que roubam e pilham e dão cobertura a pilhagens, a arguida atuou de forma desrespeitosa e despudorada para com a Justiça, as suas magistraturas e os seus mais altos representantes, concretamente para com a magistratura do Ministério Público, ofendendo as pessoas que a dirigem". O facto de se ver privada da sua habitação e dos seus bens "não justifica minimamente as palavras escritas na carta endereçada à Procuradoria-Geral da República e dirigidas ao procurador-geral da República".
Este acórdão (e os carneiros acordam?) revela os contornos Kafkianos do processo de "delito de opinião". A única lógica decisória é a do facho. 
O "facho" remete para um símbolo da Antiga Roma, o "fasces", que esteve na origem da designação de "fascismo", usada por Mussolini, mas o fasces fez/faz parte do símbolo de várias instituições:
Símbolo fasces em moeda americana
Citando a wikipedia:
O termo fascismo é derivado da palavra em latim fasces, um feixe de varas amarradas em volta de um machado, foi um símbolo do poder conferido aos magistrados na República Romana de flagelar e decapitar cidadãos desobedientes. Eram carregados por lictores e poderiam ser usados para castigo corporal e pena capital a seu próprio comando. Mussolini adotou esse símbolo para o seu partido, cujos seguidores passaram a chamar-se fascistas.
O simbolismo dos fasces sugeria "a força pela união": uma única haste é facilmente quebrada, enquanto o feixe é difícil de quebrar. Símbolos semelhantes foram desenvolvidos por diferentes movimentos fascistas.
Portanto, quem desafia o facho, a união corporativa, apanha com toda a sua ira e impunidade.
Afinal, como o sistema judicial não admite julgamento externo, é inimputável. 

Convém lembrar que a nossa Constituição proíbe partidos com ideologia fascista, mas é perfeitamente tolerante com instituições de prática fascista, que aliás acarinha condescentemente. Aí se enquadra o respeitinho exigido a todos os que se dirigem à "autoridade".  
Como se poderá deduzir, não interessa se há alguma razão racional, porque há uma razão irracional, própria de qualquer bestiário, sem inteligência humana.

A força fascista, proclamada na união de muitos, em oposição à fraqueza de um só, está bem ilustrada neste caso. Não interessam outros argumentos, porque é uma simples luta de um organismo acéfalo que sobrevive enquanto corpo mantendo não a sua racionalidade, mas sim a coesão de grupo. Algo que não é apenas comum ao fascismo, foi igualmente usado e abusado noutras tendências políticas, nomeadamente no comunismo. É algo também característico de gangues, de claques, etc...

Terem aconselhado a investigadora a seguir tratamento psiquiátrico, para escapar à prisão, depois de lhe terem sido arrestados bens e casa, mostra bem os aspectos despóticos Orwellianos que vingam nas nossas instituições.

A investigadora está já presa em Tires.
Porém, a simples imbecilidade não liberta acusadores de se embrenharem numa perigosa prisão moral, de que dificilmente se conseguirão escapar, sem muito aconselhamento clínico, e ajuda dos próprios acusados. 
Até cair de rastos e implorar misericórdia, pela sua fraqueza racional, o facho não sucumbe sem exibir toda a sua força irracional. 


segunda-feira, 19 de setembro de 2016

A banca abanca no virtual

Na semana passada, em vários jornais destinados a educar as massas, surgiu esta notícia:


Ora, a novidade aqui é apenas a fonte de divulgação - o Bank of America / Merryl Lynch.
E logo vieram as referências ao filme Matrix, etc.

Dizer que há 50% de probabilidade, ou não dizer nada, sobre o que não se sabe, é praticamente a mesma coisa. Afinal também há 50% de probabilidade de adivinharmos se sai "cara ou coroa", e não é por isso que sabemos qual a face que irá sair. Pode-se dizer que há 50% de uma coisa, ou do seu oposto, para dizer que não se sabe se é uma coisa ou outra.
No entanto, dito desta forma, só serve a confusão, como é habitual.

Doutra forma só serviria para atestar o nível de águas rasteiras por onde anda o pensamento moderno, e a notícia só não encalhou no disparate completo, porque alguém mais avisado acrescentou que "mesmo que vivêssemos numa simulação, não o saberíamos".
No entanto, isso não foi dito da forma mais peremptória - que é o esclarecimento do que se entende por "realidade". Porque levantar a questão de podermos viver num mundo virtual só faria sentido depois de esclarecer o que é a realidade.

Não vou entrar aqui em muitos detalhes sobre isto, porque já o escrevi várias vezes.
Convém apenas lembrar algumas coisas...
A partir do momento em que foi popularizado o CD áudio ficou clara uma coisa:
- a capacidade sensorial auditiva para distinguir sons reproduzidos digital ou analogicamente era muito pequena, para não dizer inexistente.
O mesmo problema foi ficando claro com a informação visual, com as fotografias digitais, ou com os filmes armazenados digitalmente.
Daí até à questão da "realidade virtual" é um passo não muito grande, atendendo a que cobrindo a audição e a visão (que são os nossos sentidos mais apurados), restaria cuidar de outros nervos sensoriais - como o tacto, o olfacto, ou o paladar. Portanto, não é difícil concluir que a informação que chega ao cérebro é muito limitada, e pode ser armazenada digitalmente, o que poderá em breve viabilizar uma (quase) completa simulação de realidade alternativa... se quiserem abrir essa Caixa de Pandora.

Duke Dumont - I got U (um vídeo com exemplo de realidade virtual)

Ora, supondo que o sujeito está envolvido num dispositivo de realidade virtual do qual não se consegue livrar, só acordará dessa realidade com ajuda exterior... vinda da outra realidade.
É claro que se a simulação chegasse ao fim, ou a alguma inconsistência flagrante, ele aperceber-se-ia de que se passava algo de errado... esse aspecto é por exemplo abordado no filme Vanilla Sky.



No caso do filme Matrix a passagem para a realidade é definida pela escolha entre a pílula azul e vermelha, e não foi propriamente resultado de uma reflexão de Neo, concluindo acerca das inconsistências da simulação que lhe era apresentada... foi apenas sugestão externa.
Ora, como suposta sugestão externa, a nova realidade para a qual Neo acordou, não se distingue propriamente da anterior.... e talvez o aspecto mais significativo, e que merecia uma "sequela", é Neo não se questionar sobre a realidade que lhe foi dada pela pílula. Ou seja, de que forma é que essa pílula não o teria levado para uma ilusão de protagonismo, e para uma realidade que preferiu aceitar?

Portanto, uma sequela interessante de Matrix seria colocar Neo a concluir que todas aquelas proezas não faziam sentido, e que tinha sido a própria Matrix a definir-lhe uma escolha para se colocar fora dela, e que o Oráculo e todos os restantes personagens faziam parte desse plano da Matrix.
Mas, nem é preciso isso... basta-nos notar que Neo não se apercebe que é um personagem de um filme, e que o seu sucesso na luta contra a Matrix não resulta mais do que uma orquestração de uma Máquina que é a indústria cinematográfica, onde os heróis são acarinhados.
Um outro exemplo, igualmente bom, que ilustra esse espectáculo é dado no filme "Truman Show".

Assim, tal como no velho caso do "ovo e da galinha", o problema de averiguar uma realidade é que precisa de uma outra... e se Neo teve ajuda para se colocar fora da Matrix, ninguém o ajudou a sair dessa outra realidade para a qual acordou, ou seja, os autores do filme não o fizeram descobrir que era apenas um personagem, um herói, e que só isso lhe dava poderes tão fantásticos. Talvez porque os autores do filme também precisassem de ajuda para perceber afinal se estavam numa realidade virtual ou não... e o filme não será outra coisa que não seja um plasmar dessa interrogação.

Da mesma forma, a banca que se abanca com a manipulação de uma realidade virtual, mantendo a população num cenário tão bem construído, também terá as suas interrogações de saber afinal se não estará ela própria a ser idealizada por outros construtores de cenários, numa realidade acima de si.
E o problema que lhe dizem é que mesmo que descobrisse que sim, isso não garantiria que a nova realidade descoberta, não seria ela própria apenas uma ilusão num nível superior.

E parece que as coisas não têm resposta, presos nesta teia de ser preciso estar sempre num nível superior, para poder distinguir a realidade e a ilusão no nível inferior. Só que não é bem assim... conforme temos vindo a dizer. Há mesmo coisas que é possível saber, sem qualquer dúvida. Agora, que outros não saibam ou não percebam, pois isso é um problema que me escapa, e que não me diz respeito directamente... só diria respeito indirectamente, pela influência global.
Porém, e ainda relacionado com a evidente possibilidade de simulação computacional da informação que nos chega pelos nossos sentidos, deveriam pelo menos colocar a questão óbvia... é que nem sequer por via da informação sensorial poderíamos ter noção de infinito, e quanto ao resto - já fiz o que tinha a fazer para passar a mensagem.


domingo, 11 de setembro de 2016

Quinze anos de emergência do 911

O número 911 foi escolhido como número de emergência pela AT&T em 1968, casualmente no mesmo ano em que começaram a construção da Torres Gémeas, que colapsariam no 9/11 de 2001. 

Não houve propriamente um consenso sobre o número a adoptar, e praticamente cada país foi escolhendo o seu serviço... tendo havido na União Europeia desde 1991 a decisão de optar pelo 112 (anteriormente em Portugal, o número de emergência era o 115). 
Ainda em 1999 houve a necessidade dos EUA emitirem o 911 Act que declarava o 911 como número único de emergência, dois anos antes do 9/11. Este "911 Act" nada teria a ver com o 9/11 Act, um outro Acto da peça (que depois instaurou uma espécie de lei marcial anti-terrorista).

Passados quinze anos sobre o 11 de Setembro de 2001, os eventos continuam a ser comidos pela opinião pública, conforme lhe são servidos pela comunicação social... independentemente das coisas não fazerem qualquer sentido, começando pelas próprias leis da física.
Se a população não é propriamente muito instruída cientificamente, seria de perguntar... então mas todos os académicos e professores também se calam?

Para responder a esta questão, o exemplo do Prof. Steven Jones é bastante esclarecedor:
Prof. Steven Jones on the Controlled Demolition of WTC

O Prof. Steven Jones era já conhecido na área da geofusão, pelo que teve maior impacto.
Este exemplo é interessante, começando logo pela própria confissão de Steven Jones que não se teria interessado pelo caso até 2005, quando viu as imagens da queda do WTC 7 (que normalmente é mais ignorado).
Conforme ele diz, se a explicação do fogo dos aviões ainda iludia a queda das torres gémeas WTC 1 e 2, no caso do edifício WTC 7 não tinha havido nenhum impacto que justificasse uma queda livre!
O resto é uma pequena história da sua tentativa de divulgação (que ainda teve alguma cobertura mediática), e das pressões que sofreu depois, levando finalmente a que fosse despedido da sua universidade, no ano seguinte, em 2006.

Este exemplo será característico, porque normalmente a sociedade funciona "com cada macaco no seu galho", e a estrutura de edifícios não era o galho de Steven Jones... as suas dúvidas eram de física elementar, que ensinava aos seus alunos, nomeadamente da impossibilidade da nova "teoria das panquecas", usada pela comissão científica do 9/11, para explicar o inexplicável.
Simplesmente uma das leis mais básicas da física, a da acção-reacção, não permitia que a queda da parte superior do edifício permitisse esmagar a parte inferior, sem que houvesse uma reacção no sentido oposto... o que inviabilizava que a parte superior tivesse uma queda livre, conforme visualizado em todas as imagens.
Só que, lá está... até que o exemplo mais evidente das imagens do WTC 7 lhe tivesse sugerido isso, durante os 4 anos anteriores, tal como todos os seus colegas, não se deu ao trabalho de ver sentido nas "teorias de malucos conspiracionistas". Só depois concluiu o óbvio. 

Para mim, a questão física desde o início era mais simples... se tivermos uma estrutura de palitos, e incendiarmos alguns de um lado (o lado onde bateu o avião e tinha o combustível), ninguém está à espera que caia homogeneamente na vertical. Cairia para o lado onde falharia primeiro o seu suporte de apoio.

Só há uma situação que se ajusta experimentalmente ao que foi visto na queda das Torres Gémeas, é a situação de demolição com explosivos. Já aqui falámos da teoria do russo Khazelov que envolve até o uso de uma mini-bomba nuclear no subsolo... mas neste caso a hipótese levantada é a do uso de "térmite", com base no exame microscópico da poeira levantada, um material que é usado em demolição.

Térmite é um nome estranhamente adequado em português, porque o nome é do grego "thermos", devido ao extremo calor que permite derreter metal, mas como não usamos o "th", fica praticamente idêntico ao nome latino Térmita, designando as formigas que comem madeira, e assim também podem provocar a queda estrutural de edifícios de madeira, tal como o faz a térmite. Acresce que enquanto declinação de Termo (fim), a Térmite e as Térmitas também põem um termo às estruturas.

Bom, mas voltando à teoria das panquecas... nada melhor que esta pergunta colocada num dos sites sobre o 9/11. Afinal, qual destes fogos seria capaz de fazer colapsar um edifício?
(Só) um destes edifícios colapsou devido ao fogo. É capaz de adivinhar qual foi?
Se não reparar que o último é o WTC 7, conforme está na legenda, dificilmente alguém, por muito nabo que seja em física, diria que seria o pouco fogo que se viu no WTC 7 a provocar a queda.  

Só que (após 2001) chegámos quase ao ponto que antevia Orwell no seu livro 1984, em que uma sociedade ditatorial seria capaz de fazer as pessoas contarem apenas 4 dedos na mão, sob pena de verem o quinto dedo decepado. A mera manifestação despótica de poder não conhece limites, até que a crescente loucura leva rapidamente ao seu termo. 

Repare-se que não há nenhuma associação directa entre dizer que o WTC não caíu conforme descrito pela comissão nomeada, e dizer que se tratou de um inside job nos EUA. Ainda que todos façam essa associação, ela é resultado da filosofia arruaceira - "quem não está connosco, está contra nós".

Os EUA teriam todo o interesse em investigar uma linha de acção terrorista que não tivesse apenas lançado os aviões contra as Torres, mas tivesse ainda colocado explosivos nos edifícios. 
Só que essa sofisticação terrorista revelaria uma inoperância total na vigilância, e um medo ainda maior na população, pelo que foi a própria obstinação do governo americano que quis contar a história da maneira que contou, limitando a justificação a uma impossibilidade física.
Isso é anormal, e pouco sofisticado.
Nas operações mais sofisticadas, os órgãos oficiais calam-se, deixam correr as teorias, e esperam que haja imaginação suficiente nos seus cientistas para encontrar uma explicação natural, que não os envolva na causa. Depois, basta escolher a que reúna o maior e melhor consenso, e que ao mesmo tempo os ilibe por completo. Este é o modus operandi confortável de quem se senta no poder, e tem alguma inteligência operacional.

Não foi este o caso, aqui parece que os mandantes optaram por cortar um dos seus dedos, mostrando que sendo capaz de se sacrificar daquela forma, estariam dispostos a muito pior contra os seus inimigos.

Aditamento:
Este apontamento foi concentrado no WTC, mas há detalhes mais evidentes até no que se passou no embate no Pentágono, e na queda do voo 93... situações em que praticamente os aviões desapareceram sem rasto. Uma associação de pilotos argumenta que o embate do Pentágono só é explicável por um míssil, já que seria praticamente impossível fazer um embate horizontal, seria como se estivesse a aterrar, não haver registo de embate das asas ou dos motores, ou pior, a caixa negra apontar uma altitude de 300 metros, ao embater no solo (a explicação é ser o registo de um outro voo, que fez uma rasante). E, é claro, no caso do embate no Pentágono não há corpos de passageiros, etc.
No caso do voo 93, também não foram encontrados corpos (ou como disse o médico legista chegado ao local, não havia um pingo de sangue), nem vestígios significativos do avião, excepto um buraco no solo (ou como dizia o mesmo médico, parecia que tinham aberto uma vala com um bulldozer e colocado ali lixo aeronáutico).
Portanto, nesses casos pode colocar-se até a dúvida de terem existido vítimas (há mesmo quem argumente que os passageiros do vôo 93 teriam desembarcado em Cleveland), algo que é completamente diferente do que se passou no WTC 1 e 2.
Um vídeo sobre os "jumpers" com o título
fala de explosões que nada tiveram a ver com o embate dos aviões, uma das quais, no lobby, teria ocorrido antes, e começando por mostrar o vídeo do primeiro embate, notei que nem sequer o avião aparece nessas imagens... talvez por serem de má definição, ou talvez porque, como muitos outros afirmam, nem sequer tenham existido.


quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Nebulosidades auditivas (43)

Entre 27 de Outubro e 17 de Novembro de 2005, ocorreu uma revolta generalizada nos subúrbios de grandes cidades franceses, especialmente Paris, que redundou num saldo de quase 9000 automóveis incendiados. As primeiras notícias, relacionando esses incêndios com a morte de dois jovens numa perseguição policial, foram servindo de rastilho a outros incêndios, até ao ponto em que foi assumido que haveria censura na imprensa, para evitar esse estímulo de acção-consequência.

Apesar de isso não interessar à geração anterior, às gerações seguintes compete o papel de questionar e desafiar o legado. Quando a sociedade instalada fecha portas às novas gerações, limita ou despreza a sua criatividade, o mais natural é que surjam rupturas acentuadas e o inconformismo juvenil seja captado por outras velhas causas, também inconformadas com o resultado actual.
Perante esta pressão latente, a sociedade ocidental inventou, especialmente nos últimos 50 anos, uma cultura pop, destinada a absorver como uma esponja as vontades e aspirações da malta mais nova. Trata-se de uma esponja, porque se destina a conter as nódoas num espaço cultural que não afecte o funcionamento principal da sociedade.
Um caso paradigmático disso é a música pop, que praticamente tem sido a única manifestação onde uma criatividade simples, sem necessidade de grande conhecimento, permite a composição de obras com algum impacto social. É assim que aparecem alguns movimentos musicais capazes de fazer crer aos mais novos que têm algo a dizer. e que os mais velhos os escutam.

A música seguinte, Animals, de Martin Garrix, um jovem DJ holandês, teve algum sucesso e o vídeo ilustra uma certa cultura de insatisfação juvenil, capaz de actos de simples vandalismo, simplesmente porque sim... por algum instinto animal, capaz de agregar insatisfações num acto irracional e gratuito.
Se o vandalismo ocorrido em França em 2005 poderá ser analisado à luz de uma má concepção das cidades, com guetos desfavorecidos, autênticas reservas animais onde eram colocados, etc... o ponto mais importante é que isso não é razão exclusiva, e a qualquer momento é fácil encontrar entre os jovens uma vontade de se afirmar, que poderá consistir simplesmente em destruir o legado anterior, quanto mais não seja para ganhar um espaço para si mesma. 
A situação só não é mais caótica, porque a geração mais velha tratou de assegurar processos de vigilância de tal forma invasivos e indetectáveis, que a geração mais nova vai sendo colocada num parque infantil até aos 30 ou 40 anos, e depois já é tarde demais para se armar em jovem...

Martin Garrix (Martijn Garritsen) - Animals

Ora, essa vontade de destruir ou mudar "porque sim", independentemente do legado da geração anterior ser bom ou mau, apenas para marcar uma individualidade, para marcar uma diferença face ao anterior, terá desde sempre preocupado quem procurava construir uma sociedade mais justa, para depois a ver destruída num espasmo irracional, ou pior, num espasmo justificado por raciocínios idiotas.

Uma boa metáfora deste problema é ilustrada nos ensinamentos budistas, onde é dada como tarefa ao jovem monge construir um belo jardim de pedrinhas coloridas, algo onde despende bastante tempo e paciência, para depois vir o mestre e dar um pontapé na coisa... de certa forma invertendo o processo!

Isto ilustra bem o mundo onde vivemos, onde construir é difícil, requer tempo e paciência, e onde destruir pode ser conseguido com um simples pontapé.
Invertendo as coisas deste mundo, construir seria fácil, como num passe de mágica, e destruir isso sim seria difícil, requerendo tempo e paciência.
Ou seja, o inverso deste mundo seria um mundo de magia... muito do agrado de espíritos jovens, ao estilo Harry Potter. Mas será que esse mundo de magia, de facilidade de construção, e dificuldade de destruição, seria mais benigno? 
É fácil entender que não... porque nem todo o esforço de construção tem propósitos benignos, pode tratar-se de construção de uma prisão intrincada, e sob esse aspecto, agradeceremos então que a prisão seja de fácil destruição. Também por isso, na nossa idealização de mundos de magia obtemos fadas versus bruxas, ou deuses versus demónios.
Ou seja, ainda que pretendessemos um equilíbrio no esforço de construção versus o esforço de destruição, seria antes preciso esclarecer a questão fundamental do que seria positivo ou negativo como construção... e até que isso fique esclarecido, parecerá mais sensato ser mais fácil destruir do que construir.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Méee (4) Ecce Echelon

Houve Julian Assange, houve Edward Snowden... mas então, e Carlos Coelho?
Para quem não se lembra do eurodeputado do PSD, deixamos aqui a sua importante iniciativa de divulgar o 112 como número de emergência europeu:

Quem observar o vídeo, pode reparar no que é dito (no instante 1:09)
No anúncio, diz-se que ligar para o 112 "funciona sem rede".
Segundo Carlos Coelho, a existência de rede é apenas um detalhe sem importância, e quando se trata de "chamadas de emergência", podemos ficar descansados, que estamos sempre ligados! Mais um pouco, e Carlos Coelho diria que nem era preciso bateria ou até telemóvel.
Qualquer desmistificador de serviço (dos muitos comentadores empregados pelas televisões, ou seja, um moço de recados para acalmar o povo), diria que se trata de um lapsus linguae, e o que se deverá entender é que o sistema de emergência funciona usando outras redes... mas não é isso que é dito! 

Porém, Carlos Coelho vai mais longe nesta questão do 112... lembrando que a 11 de Fevereiro (ou seja, 11/2) se celebra o "Dia Europeu do 112":

Quererá pois Carlos Coelho sugerir que a 11 de Setembro se comemora o "Dia Americano do 911?"
Não parecerá "politicamente incorrecto" usar a figuração do 11/2 na Europa, quando nos EUA o número de emergência 911 se liga directamente ao atentado de 11 de Setembro de 2001?

A coisa poderia ficar por aqui, e seria fácil criticar Carlos Coelho pela falta de bom senso político.
Só que Carlos Coelho não está propriamente desligado deste assunto...

Foi ele que chefiou a equipa da Comissão Europeia que investigou o programa ECHELON, onde os serviços secretos de Sua Majestade (UK, Canada, Australia, Nova Zelândia), se coordenavam com os serviços secretos da pródiga ex-colónia (EUA), para controlar todas as comunicações internacionais. 

Hoje em dia já poucos se lembram do ECHELON, e fez-se de conta que Assange ou Snowden vieram depois dar novidades... que praticamente estavam já todas escarrapachadas no relatório da Comissão chefiada por Carlos Coelho.

O relatório sobre o ECHELON é aprovado no Parlamento Europeu quando?   
- No dia 5 de Setembro de 2001, ou seja, menos de uma semana antes do 9/11.

Conforme Carlos Coelho se lamenta (texto citado em baixo), se tudo estava pronto a 5 de Setembro de 2001 para divulgar publicamente o relatório - que culpabilizaria o ECHELON de ser um efectivo esquema dos EUA espiarem o mundo inteiro, inclusive os aliados europeus. Porém, a burocracia do Parlamento Europeu achou que seria altamente desapropriado levantar essa acusação na semana seguinte, dado o clima de terror instalado a 11 de Setembro.

Portanto, o relatório sobre o ECHELON realizado pela comissão de Carlos Coelho parece que só voltou a ser mencionado em 2014, conforme se pode ver no texto assinado pelo próprio... mesmo assim um texto que passou completamente submerso e fora de qualquer menção em noticiários, principais ou secundários.
Conforme salienta Carlos Coelho, se em 2001 o controlo "já estava como estava", passados 15 anos só é de esperar que esteja muito "pior", dados os avanços tecnológicos.
Portanto, podemos ter todas as comentadeiras televisivas a fazer o "méee..." habitual, acreditando que os botões dos aparelhos (de que não entendem patavina) só fazem aquilo que mandamos fazer.
Saberão agora que o FireChat permite o envio de mensagens, mesmo quando são desligados os servidores de internet, algo que estariam antes prontos a classificar como impossível. Da mesma forma dirão que o telemóvel emitir sem rede é coisa de lunáticos de "teorias de conspiração", e enquanto moços de recados, estão assim prontos a aviar os fregueses, orgulhosos do seu papel ridículo no sistema, só por estarem dentro do balcão.

Porém, convém não esquecer que é ditado antigo dizer-se que "as paredes têm ouvidos", e nada há de novo nesta vontade de espiolhar, e na capacidade de o fazer, acima do que a população tem conhecimento. Só que uma coisa é ter ouvidos, outra coisa é ter cabeça para distinguir o ruído da melodia, e isso não se aprende mais pela evolução da tecnologia.

Segue o discurso de Carlos Coelho, publicado a 5 de Novembro de 2014:

_______________________________________________________________________
The Echelon Affair: A History of the Investigation and its significance today

I would like to Congratulate and thank the European Parliament Research Service for organising this event and for allowing me to be surrounded at this table with good friends.
There are times when the European Parliament is able to be strong enough and united enough to stand up for european values and to be ahead and not behind.
We asked ourselves a lot of questions:
  • 1- After the falling down of the Berlin wall and the end of the cold war, could the USA switch the use of IT Intelligence Network from military targets to economy spying?
  • 2- Could our allies be spying on us, undermining fair trade and honest competition and collecting a huge amount of data targeting innocent citizens, despising all the core values on Privacy and Human Rights? 
  • 3- Could a member of EU (UK) be an active part on a spy network against other European countries?
And the answer to all these question was yes.

The temporary committee worked hard and well.
We had a good team of members, a very good rapporteur - Gerhard Schmid, who was a Vice-President of the EP at the time, an experient staff led by David Lowe and the cooperation of all EP services such as STOA, that provided an excellent Study, in which we can corroborate the expertise and knowledge of Mr Duncan Cambel.

The Study in questioned has showed us that the Echelon Network (USA, UK, Canada, Australia, New Zealand) were intercepting:
  • - Telephone calls (including mobiles)
  • - fax communications
  • - e-mail messages
  • - radio communications
  • - satellite communications
  • - submarine cables
  • - optic fibre cables
According to William Sandeman (former Director of NSA and former Deputy-Director of CIA) we know that, in 1992, 22 years ago, Echelon services were able to intercept 1 million of communications each 30 minutes, that means 48 million each day!

With the evolution of technology we can imagine how many communications they can intercept nowadays.

What is happening now it is not different from what we discovered at the time. What has changed is no such more that the advance of technology, the scale of interception and the huge amount of data collected ....

Let me share 3 short stories about our temporary committee on Echelon:

1- Not all americans tried to deny what was happening:

James Woolsey, former Director of CIA, whom we met in Washington, wrote in The Wall Street Journal on 17 March 2000, and I quote "Yes, my continental European friends, we have spied on you. And it's true that we use computers to sort through data by using keywords".
And when we met him personally, he confirmed everything he had written before.

2- USA at the last time decided not to speak /receive the ECHELON European Parliament Delegation.

On the exactly same day we were departing Brussels on our way to the United States, we received the information that all the scheduled meetings had been cancelled:
  • - CIA Director
  • - NSA Director
  • - State Department
  • - Senate Select Committee on Intelligence
  • - Department of Justice
  • - Fort Meade
  • - National Intelligence Council Department of Defence
  • - Secretary for Trade Development
  • - Advocacy Centre
Meetings scheduled by the Clinton Administration were suddenly cancelled by the new Bush Administration. 
It was impossible not to conclude that they had a lot to hide...
On such a short notice, already in the States, one of the few meetings we could arrange was in Congress, at the House Permanent Select Committee on Intelligence, with Porter Goss. He was the Chairman of the special Committee assuring the control and overview of Intelligence Services. Curiously some years later the same Porter Goss would be CIA Director.

3-  Echelon Report was never published by EP

Neither the 44 Recommendation approved by the plenary. All the information is available somewhere inside the EP archives and websites. But the EP's Bureau 5 to 5 votes did not allow the publication on the Report, as it was regularly the procedure at the time.
One single and weak explanation: Our report was approved in Strasbourg 5th September 2001 one week before the terrorist attack.

EP Bureau, which took its decision after 9/11 probably decided not to hurt our american friends and ironically the first time EP gives publicity for our work is now with this initiative from the EP that I welcome and thank specially to Iolanda Mombelli and Franco Piodi.

We should not deny the facts and hide our work on behalf of our transatlantic friendship.
And the facts prove that our silence did not help to make things better.
The reality we are facing now is much worse the one we faced 14 years ago.

Thank you very much!



sexta-feira, 19 de agosto de 2016

A cerca de Mesquinhos e Sacanas (2) Doce lar anjinhas

A propósito do comentário de João Ribeiro no texto anterior sobre "Mesquinhos e Sacanas", que trata da polémica sobre a origem das laranjas em Portugal, fui encontrar um esclarecimento dado por José Tavares de Macedo, em 1855. Ao bom jeito sacaninha do mesquinho, vemos que a questão passou até por distinguir laranjas "doces", de laranjas "amargas"... 
Mesmo assim, José Tavares de Macedo encontra documentação da Idade Média (1330) que mostraria o conhecimento de laranjas doces, então descritas como "limões doces como açúcar"... e se questionarmos como era conhecido o açúcar, pois isso é ainda outra história amarga, que mostra que não houve limites à imposição de restrições à humanidade, por parte de sacanas mesquinhos. 
Em particular, cita o Roteiro de Vasco da Gama, dizendo que chegados a Mombaça em 1498 teriam sido presenteados com duas almadias... "que trouxeram muitas laranjas, muito boas, melhores que as de Portugal".

Algo que parece razoavelmente inacreditável seria fazer crer nos Séculos XVIII e XIX que não haveria laranjeiras em Portugal, e que só começariam a ser cultivadas no início do Séc. XVII, havendo-as antes desde o tempo dos árabes... pelo menos!

Donde surge então esta "confusão"?
Na referida obra, publicada pela Academia de Ciências em 1885:


(pag. 123)

onde se diz a certa altura:
Foi algum tempo opinião geral, e ainda hoje é crença vulgar entre nós, que pela primeira vez veio a larangeira à Europa trazida pelos Portuguezes da China a Portugal. Confirmava-se esta crença com um passo, mal entendido, das obras ineditas de Duarte Ribeiro de Macedo [1], Acha-se hoje demonstrado o erro desta persuasão. Entre os Auctores que tem tractado desta materia é Galesio, o que, quanto nos consta, mais cabalmente, e com maior exactidão a tratou [2].
Onde o comentário [1] diz o seguinte
As palavras de Duarte Ribeiro de Macedo, a que nos referimos, são as seguintes: «D. Francisco Mascarenhas trouxe a Lisboa do anno de 1635 uma larangeira que mandou vir da China a Goa, e d'ahi para o seu jardim de Xabregas, onde a plantou. Se então soubera a producção dcsta nobre planta, e a riqueza que nella franzia á sua patria, tivera razão de cuidar que fazia um grande serviço ao Reino, talvez mais util, que o que lhe fizerão os primeiros descobridores e conquistadores do Oriente.» Obras Ineditas de D. R. de M. Lisboa 1817. p. 118-119.

Estas palavras que parecem confirmar a crença vulgar, illudirão de tal forma o estimavel Auctor da Memoria sobre a Agricultura Portugueza, impressa no vol. V. das Economicas da Academia R. das Sciencias, que "escrevendo da época decorrida desde o reinado de D. Manoel até ao do Senhor D. José" julgou poder affirmar que "as laranjas.. . começarão entre nós a cultivar-te no curso desta época. D. Francisco Mascarenhas (continua o mesmo escritor) em 1635 mandou vir da China a Goa, e daqui ao seu jardim de Xabregas as primeiras arvores de espinho que entrarão na Europa".
e onde a citação [2] é apenas a referência ao "Traité du Citrus" (Georges Galesio. Paris 1829).

José Tavares de Macedo invoca mesmo escritores árabes, para mostrar que, segundo Abu Zacaria, a laranja se cultivava em território nacional no Séc. XII, concedendo apenas que nessa altura se trataria de laranja não doce.
Acresce ainda uma referência do navegador Cadamosto (explorador associado à descoberta de Cabo Verde), que escreve uma anedota sobre a abundância de laranjas mesmo na Ilha da Madeira... tendo sido assim levadas logo no tempo da colonização.

Ora apesar deste esclarecimento ter sido dado, e bem explicado há mais de 150 anos, sem grandes margens para dúvidas, vemos que a versão que permanece ou volta a aparecer, sempre, é a mesma que existira antes - ou seja, de que as laranjas teriam vindo da China com os portugueses. 
Os sacanas são teimosos.

Nota: Tudo isto faz-me lembrar uma citação que é a atribuída a Goebbels sobre os ingleses, ou sobre a vantagem de manter uma grande mentira:

The English follow the principle that when one lies, 
it should be a big lie, and one should stick to it. 
They keep up their lies, even at the risk of looking ridiculous.

Ora, conforme temos visto desde o 11 de Setembro de 2001, quanto maior é a dimensão de uma mentira, mais dificilmente as pessoas acreditam que pode haver uma conspiração tão grande que sustenha tais mentiras, e portanto, por uma simples questão de facilidade de vivência, é mais cómodo assumir que se trata de verdade.
Em 2003 acreditavam de igual modo nas versões oficiais do 9/11, e no pretexto da Invasão do Iraque, pelas armas de destruição massiva. Passados 13 anos, aceitam as dúvidas sobre as armas iraquianas, até porque o assunto chegou a inquérito condenatório, e a conspiração ficou oficial, mas nem se admite qualquer teoria de conspiração sobre o 9/11, porque não é oficial.
Ou seja, não se aprende nada! Os mesmos continuam a acreditar apenas no que é oficial, seja num sentido de conspiração ou num sentido oposto. 
Há muitíssimo mais provas de que a versão oficial do 9/11 é um total embuste, muito mais contundentes e claras quando comparadas com as armas iraquianas... mas quando se alinha pelo coro noticioso das "telenovelas das 20h00", a que chamam "telejornais", apenas interessa o coiro oficializado. 

sábado, 13 de agosto de 2016

Língua d'Ó (A2)

Letra A (continuação)

01. aparecer ... a parecer (ver parecer: para ser) [parece que aparece, só para contar]
02. aparentar ... a parente (ver parente: par entes) [par de seres]
03. apartar ... a partir (ver partir) [separar em partes] apartes: à partes
04. apertar ... aperto: a perto (ver perto) [ficar demasiado perto]
05. apenas ... apenas ser: a pé nascer (mínimo)
06. apesar ... a pesar (ver pesar) [pesando com isso]
07. aplicar ... aplica: a pelica (usar uma pele) (ver duplica) [usar duas peles]
08. apoiar ... apoio: a poio (ver pôr) [há a poia, mas também há o poio]
09. apontar ... aponta: a ponta (ver ponta) [no sentido da ponta]
10. apostar ... aposta: a posta (ver pôr) [a parte posta... como aposta]
11. apreciar ... a pré cear (ver cear) [antes de comer a ceia]
12. aprender ... a prender (ver prender) [prender a atenção]
13. apresentar ... apresente: a presente (ver presente: pré sente) [a presentear]
14. apressar ... apressa: a pressa (ver pressa)
15. apurar ... apuro: a puro (ver puro) [ficar puro] (apuros: entre puros)
16. aquecer ... a que ser [no gelo, aquecer para ser, para não morrer]
17. aqui ... a qui (cá), aquilo [aqui-lo: trazer-lo aqui]
18. aquém ... a quem? (ver quem) [pergunta retórica, no sentido da resposta: ninguém]
19. arranjar ... a ranger (ver ranger) [mudar com algum ranger de dentes]
20. arrasar ... arraso: a raso (ver raso) deixo no solo (rás) [notando que sol é Rá]
21. arrastar ... arrasto: a rasto (ver rasto) pelo solo (rás) deixa rasto
22. arre ... a ré (ver rasto) exclamação "para trás" [arre burro de Mação... carregado de feijão]
23. arredar ... a ré dar : dar lugar atrás (ré) [fui arredado: fui à ré dado]
24. arrumar ... a rumar (ver rumar) [dar rumo às coisas]
25. assar ... assara: a sara (ver sarar) [com sentido de saber (ou sabor)]
26. assim ... a sim (ver sim) [com sentido de sim]
27. assentar ... a sentar (ver sentar
28. assustar ... assusto: a susto (ver suster
29. atacar ... ataco: a taco (dar com taco)... amassar (usar a maça, para fazer massa)
30. atentar ... atento: a tento (ver tentar)... atenção (a tensão)
31. atender ... a tender (ver tender) [que pode tender para um pedido]
32. aterrar ... aterra: a terra (ver terra) ... aterrador: a terra dor [dor de enterrar]
33. atingir ... atinge: a tinge (ver tingir) tinta ou sangue que tinge
34. atirar ... a tira (ver tirar, retirar) visando tirar ou retirar
35. atrair ... a trair (ver trair: com outra ir)
36. atrás ... a trás (ver trás) na traseira, com parte moral: a traz : traz quem fica atrás
37. atravessar ... através (ver trave, entrave) passar uma trave que barra o caminho
38. aura ... ao Rá (Sol), aurora : aura hora (ora ao Sol)
39. autor ... ao Tor (Touro, Thor)
40. autorizar ... autorizo - pelo autor do equilíbrio (iso) [em oposto: avacalhar]
41. auxiliar ... ao si liar (ligar) [auxilia, ligando a si]
42. avaliar ... avalia: a valia (ver valer) mais valia - mais que vá ligar (ver ligar)
43. avançar ... avancei: a vã sei; avanço: a vã sou [?? no sentido... vã glória: vangloriar]
44. avariar ... a variar (ver vários) [?? problemas com o que varia do normal]
45. ave ... a vê (ver ver)
46. avisar ... a visar (ver visar) ... avisei:  a vi, sei!
47. avós ... a voz (ver vós, voz) ... a vós, a voz dos avós.
48. avivar ... aviva: a viva (ver viver
49. azeite ... a sei te [??o azeite fica por cima, ou unção?]
50. azul ... a sul [sul meridional é sol ao meio-dia; e à noite, pelo azul se pode saber o sul]

Bom, a tarefa continua... haveria muitos outros óbvios, e facilmente se percebe uma separação "a-qualquer-coisa", ainda que possam funcionar apenas nalgumas conjugações verbais (uma formatação gramatical deverá ter sido posterior). 
Os menos óbvios têm as dúvidas e especulações inerentes. 
Por exemplo, já falei bastante sobre Anas e Anos, aqui deixaria apenas isto:

51. ana, anais ... a nas(cer), renascer, periódico (anas = luas) (ver nascer)
52. ano, anus ... a no(vo), a nós (ver ), a nus (ver )
      [ano solar, Ianus, por contraposição a ana, lunar, Diana, o período de 28 dias]
      [tempo solar, Dia, Rá(budo) por contraposição a Ré(gras) lunar]

Havendo muito mais, perder-se-ia mais tempo só a falar de anos e anas. 
Interessa que palavras com "nas" (cuidado ao ler rapidamente) estão ligadas ao nascimento, pelo menos todas as que usam "nas" como prefixo.
Continuo razoavelmente convicto que a língua é um produto feminino, feito por alguma genial matrona, ou bela donzela, de uma sociedade matriarcal. Afinal, não seria o cuidado materno a definir de início a linguagem da sua prole?
Essa sociedade matriarcal seria essencialmente tribal, e terá perdido, ou cedido voluntariamente, o seu poder aos homens, aquando da "revolução neolítica", pela sedentarização agrícola.
O nome que nos ficou: Amazonas... ora, aí estavam as mázonas
A mázona principal, talvez Semiramis, terá cedido o poder a Ninus, a meninos, provavelmente filhos, e não ao pretenso marido... de uma amazona. A última zona má, ou a má zona, amazona, teria sido a Cítia (parte da Rússia actual), que terá permanecido em "estado cítio", pois Tomiris ainda fez Ciro perder a cabeça.

Passando a sociedades agrícolas, patriarcais, o tempo passou a ser marcado não pela Ana (lunar), mas sim pelo Ano (solar). Os sumérios usavam Anu como deus celestial ou solar, enquanto os egípcios chamaram Rá. Os romanos teriam Jupiter (Ju-pater) ou Jove (chove), e os gregos Dia ou Zeus (céus), como divindade principal.
Na nossa língua parecem ter ficado registadas as variantes, já mencionadas. Este pequeno discurso para salientar uma observação constante. Se temos o "Sol" no céu, temos também o "solo" na terra. Se entendermos "hora" ou "ora" como "o Rá", o Sol egípcio, podemos entender "raso" (ou "rasto") como Rá só por terra. Ou ainda um Anu solar, com um anular: A nú.
Onde uma coisa liga a outra? - Na seca, num deserto, onde o sol queima o solo, arrasa colheitas, deixando a terra a nú.

É claro que, encontrando na língua portuguesa significado para sílabas básicas, o resto poderiam ser concatenações naturais e outras meras coincidências forçadas. 
No entanto, as concatenações naturais não me parecem ter origem latina, embora bebam algumas vezes da mesma fonte (na minha opinião, mais em sentido inverso), e as outras incidências são demasiadas para serem só coincidências. Mas haverá certamente coincidências, desfeitas no passado, para se reunirem no futuro.
Apenas para terminar, completando 60 palavras (120 na letra A), ficam oito bem mais dúbias:

53. analisar ... anal (periódica) iso (igualdade, una pela semelhança)
54. antre ... forma antiga de "entre" (em três) - realçando "an" como "em"
55. antro ... an (em) tro (outro), em outros (ver outro) [entre outros]
56. anel ... em elo (ver elo)
57. ar ... fonema base, vago como o ar (simples movimento ou existência)
58. arder ... ardeu: ar deu, soprou para fazer fogo [ardeu: ar que se lhe deu]
59. arte ... ar te : algo para ti, como em artigo: ar tigo (que te tem como foco).
60. árvore ... arvorar : ar vorar (alimentar de ar)