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sexta-feira, 19 de agosto de 2016

A cerca de Mesquinhos e Sacanas (2) Doce lar anjinhas

A propósito do comentário de João Ribeiro no texto anterior sobre "Mesquinhos e Sacanas", que trata da polémica sobre a origem das laranjas em Portugal, fui encontrar um esclarecimento dado por José Tavares de Macedo, em 1855. Ao bom jeito sacaninha do mesquinho, vemos que a questão passou até por distinguir laranjas "doces", de laranjas "amargas"... 
Mesmo assim, José Tavares de Macedo encontra documentação da Idade Média (1330) que mostraria o conhecimento de laranjas doces, então descritas como "limões doces como açúcar"... e se questionarmos como era conhecido o açúcar, pois isso é ainda outra história amarga, que mostra que não houve limites à imposição de restrições à humanidade, por parte de sacanas mesquinhos. 
Em particular, cita o Roteiro de Vasco da Gama, dizendo que chegados a Mombaça em 1498 teriam sido presenteados com duas almadias... "que trouxeram muitas laranjas, muito boas, melhores que as de Portugal".

Algo que parece razoavelmente inacreditável seria fazer crer nos Séculos XVIII e XIX que não haveria laranjeiras em Portugal, e que só começariam a ser cultivadas no início do Séc. XVII, havendo-as antes desde o tempo dos árabes... pelo menos!

Donde surge então esta "confusão"?
Na referida obra, publicada pela Academia de Ciências em 1885:


(pag. 123)

onde se diz a certa altura:
Foi algum tempo opinião geral, e ainda hoje é crença vulgar entre nós, que pela primeira vez veio a larangeira à Europa trazida pelos Portuguezes da China a Portugal. Confirmava-se esta crença com um passo, mal entendido, das obras ineditas de Duarte Ribeiro de Macedo [1], Acha-se hoje demonstrado o erro desta persuasão. Entre os Auctores que tem tractado desta materia é Galesio, o que, quanto nos consta, mais cabalmente, e com maior exactidão a tratou [2].
Onde o comentário [1] diz o seguinte
As palavras de Duarte Ribeiro de Macedo, a que nos referimos, são as seguintes: «D. Francisco Mascarenhas trouxe a Lisboa do anno de 1635 uma larangeira que mandou vir da China a Goa, e d'ahi para o seu jardim de Xabregas, onde a plantou. Se então soubera a producção dcsta nobre planta, e a riqueza que nella franzia á sua patria, tivera razão de cuidar que fazia um grande serviço ao Reino, talvez mais util, que o que lhe fizerão os primeiros descobridores e conquistadores do Oriente.» Obras Ineditas de D. R. de M. Lisboa 1817. p. 118-119.

Estas palavras que parecem confirmar a crença vulgar, illudirão de tal forma o estimavel Auctor da Memoria sobre a Agricultura Portugueza, impressa no vol. V. das Economicas da Academia R. das Sciencias, que "escrevendo da época decorrida desde o reinado de D. Manoel até ao do Senhor D. José" julgou poder affirmar que "as laranjas.. . começarão entre nós a cultivar-te no curso desta época. D. Francisco Mascarenhas (continua o mesmo escritor) em 1635 mandou vir da China a Goa, e daqui ao seu jardim de Xabregas as primeiras arvores de espinho que entrarão na Europa".
e onde a citação [2] é apenas a referência ao "Traité du Citrus" (Georges Galesio. Paris 1829).

José Tavares de Macedo invoca mesmo escritores árabes, para mostrar que, segundo Abu Zacaria, a laranja se cultivava em território nacional no Séc. XII, concedendo apenas que nessa altura se trataria de laranja não doce.
Acresce ainda uma referência do navegador Cadamosto (explorador associado à descoberta de Cabo Verde), que escreve uma anedota sobre a abundância de laranjas mesmo na Ilha da Madeira... tendo sido assim levadas logo no tempo da colonização.

Ora apesar deste esclarecimento ter sido dado, e bem explicado há mais de 150 anos, sem grandes margens para dúvidas, vemos que a versão que permanece ou volta a aparecer, sempre, é a mesma que existira antes - ou seja, de que as laranjas teriam vindo da China com os portugueses. 
Os sacanas são teimosos.

Nota: Tudo isto faz-me lembrar uma citação que é a atribuída a Goebbels sobre os ingleses, ou sobre a vantagem de manter uma grande mentira:

The English follow the principle that when one lies, 
it should be a big lie, and one should stick to it. 
They keep up their lies, even at the risk of looking ridiculous.

Ora, conforme temos visto desde o 11 de Setembro de 2001, quanto maior é a dimensão de uma mentira, mais dificilmente as pessoas acreditam que pode haver uma conspiração tão grande que sustenha tais mentiras, e portanto, por uma simples questão de facilidade de vivência, é mais cómodo assumir que se trata de verdade.
Em 2003 acreditavam de igual modo nas versões oficiais do 9/11, e no pretexto da Invasão do Iraque, pelas armas de destruição massiva. Passados 13 anos, aceitam as dúvidas sobre as armas iraquianas, até porque o assunto chegou a inquérito condenatório, e a conspiração ficou oficial, mas nem se admite qualquer teoria de conspiração sobre o 9/11, porque não é oficial.
Ou seja, não se aprende nada! Os mesmos continuam a acreditar apenas no que é oficial, seja num sentido de conspiração ou num sentido oposto. 
Há muitíssimo mais provas de que a versão oficial do 9/11 é um total embuste, muito mais contundentes e claras quando comparadas com as armas iraquianas... mas quando se alinha pelo coro noticioso das "telenovelas das 20h00", a que chamam "telejornais", apenas interessa o coiro oficializado. 

4 comentários:

  1. Que pesquisa impressionante caro Da Maia! Consegue descobrircom cada documento eheh!

    Ao ver este documentário que tem tanto de interessante como de irritante, em certo momento são mencionadas as laranjeiras plantadas pela mourama.

    https://www.youtube.com/watch?v=PM8HnvuKbAo

    Giro giro foi descobrir que o grande herói espanhol que originou a casa Medina-Sidónia, Guzman El Bueno era na verdade Mouro. Acho estranho pois o nome Guzmán soa-me oriundo das Alemanhas ou algo do género. Mas enfim uma própria herdeira desta casa achou provas que o podem indicar como mouro.

    Ab

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    1. Uma boa parte das vezes, são mais as coisas a virem ter comigo do que eu a procurá-las! Não fiz esforço nenhum, mas já tinha andado à procura disto, sem ter tido antes qualquer sucesso!

      Quanto aos Guzman, presumo que se refira à amiga do José Manuel, a falecida "Duquesa Vermelha".
      A antiga família "Maia" do grande Lidador, companheiro de Afonso Henriques, parece que eram também de origem árabe, e afinal o Lidador foi dos que mais se distinguiu na reconquista.
      Essas mudanças devem ter ocorrido em ambos os sentidos...

      Abç

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    2. Ah sim ouve definitivamente. Quantos independentemente do seu credo ou "raça" se passaram para o lado dos que mais ofereciam.

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