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segunda-feira, 13 de junho de 2016

Crateras (1) Tunguska

Como o incidente trágico do postal anterior ocorreu na Sibéria, lembrei-me naturalmente do 
ocorrido numa remota região siberiana em 1908.
Tudo indica ter-se tratado do maior impacto de um meteoro registado na história, sendo especialmente surpreendente por ter sido associado a observação de auroras boreais abaixo da latitude habitual - por exemplo, em Londres, e o jornal The Times publica diversas cartas dos leitores datadas de 1 Julho de 1908. 
Curious Sun Effects At Night To the Editor of the Times Sir, -- Struck with the unusual brightness of the heavens, the band of golfers staying here strolled towards the links at 11 o'clock last evening in order that they might obtain an uninterrupted view of the phenomenon. Looking northwards across the sea they found that the sky had the appearance of a dying sunset of exquisite beauty. This not only lasted but actually grew both in extent and intensity till 2:30 this morning, when driving clouds from the East obliterated the gorgeous colouring. I myself was aroused from sleep at 1:15, and so strong was the light at this hour that I could read a book by it in my chamber quite comfortably. At 1:45 the whole sky, N. and N.-E., was a delicate salmon pink, and the birds began their matutinal song. No doubt others will have noticed this phenomenon, but as Brancaster holds an almost unique position in facing north to the sea, we who are staying here had the best possible view of it.Yours faithfully, Holcombe InglebyDormy House Club, Brancaster, July 1 (1908)
Segundo o leitor do The Times, as luzes dessa aurora boreal de 1908, eram tão intensas que permitiriam ler um livro. Pouco depois, segundo ele, os pássaros, igualmente surpreendidos com o evento, começavam a despertar com o chilrear anunciando a madrugada.
Inicialmente, conforme ainda se pode ler no The Times, o efeito associava-se a uma eventual erupção vulcânica de grande magnitude, como a que ocorrera com o Cracatoa em Agosto de 1883. Então, os efeitos na atmosfera no Outono de 1883 foram associados à dispersão de cinza vulcânica a grande altitude. Na habitual teoria especulativa climática, o Cracatoa foi ainda responsabilizado por uma baixa de 1.2º C na "temperatura global". Foi ainda um pouco na linha do que se pretendeu ocorrer em 2010, na erupção islandesa do Eyjafjallajökull, mas com a diferença de que em 1883 é mesmo capaz de se ter visto alguma coisa, e não apenas "enxames de gambuzinos", que serviram para fechar aeroportos, como aconteceu em 2010 por toda a Europa.

Bom, mas voltando a Tunguska, uma coisa só ficou associada à outra, muito depois.
Ou seja, o impacto do meteoro na região de Tunguska não levou o Czar Nicolau II a enviar uma equipa exploratória para avaliar o ocorrido. Na wikipedia aparece um relato num jornal russo "Sibir", indicando a ocorrência do evento a 17 de Junho do calendário juliano russo, que seria 30 de Junho, no gregoriano, ou seja, na véspera dos avistamentos boreais em Londres, a 1 de Julho.
No entanto, a primeira expedição ao local só foi enviada formalmente quase 20 anos depois, em 1927. É nessa altura que se deparam com o panorama de árvores arrasadas, mas sem nenhuma cratera de impacto (ainda que se conjecture que o Lago Cheko pode ser o resultado desse impacto).
Tunguska, 1908 - impacto de meteoro
A ausência de cratera de impacto, no centro das árvores tombadas, é associada a uma explosão do meteorito ainda no ar, como aconteceu recentemente, em 2013, com o Meteoro de Chelyabinsk, cujo principal dano resultou do impacto da onda de som, que partiu diversos vidros.
No entanto, para o efeito de devastação ter levado à queda de tantas árvores em Tugunska, estamos a falar de uma onda de choque de intensidade muitíssimo mais potente... e se alguma pessoa estivesse na zona, tal efeito de choque poderia produzir fracturas internas.
O efeito do choque em Tugunska foi replicado com explosões (Operation Blowndown), quer pelo lado americano, quer pelo lado russo... e portanto, no caso dos montanhistas do grupo de Dyatlov, seria algo indiferente terem sido apanhados por um choque acidental vindo de um meteoro, ou de uma experiência militar soviética, se isso for suficiente para explicar o que se passou.

Outras teorias especulativas relativas ao evento de Tugunska (buracos negros, ovnis, etc...) parecem-me forçadas e injustificadas, dado que a ocorrência deste tipo de fenómenos tem esta explicação resultante de impactos de meteoros. O caso da visualização de auroras boreais a latitude mais baixa, pode ainda ser justificado por uma abertura na cintura de Van Allen, resultante da penetração de um grande objecto, como teria sido o asteróide que colidiu com a Terra em 1908.

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