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sábado, 31 de maio de 2014

Nebulosidades Auditivas (14)

Ramstein, Alemanha. 
Trata-se do centro de operações da USAFE (United States Forces in Europe) desde o final da 2ª Guerra Mundial. A construção foi iniciada em 1948-51, envolvendo 240 mil trabalhadores, a maioria dos quais imigrantes de outros países europeus, dada a escassez de população alemã após o confronto.
 

Após a sua rendição incondicional, a Alemanha foi dividida em zonas sob administração do vencedores, desde a Rússia, Inglaterra, Estados Unidos até à inoperante França. Tal como no caso da derrota napoleónica, a França emergia como vencedora após estrondosos falhanços militares.
O Plano Marshall previa uma ambiciosa política de americanização da sociedade europeia, ainda muito presa às grilhetas da sua tradicional hierarquização aristocrática e burguesa. Em certa medida, à Alemanha Ocidental seria dada toda a possibilidade de reemergir do caos da guerra. 
Para evitar as habituais disputas alsacianas entre França e Alemanha, numa fronteira sempre instável, a reconstrução europeia passou também pelo acordo sem precedentes da CEE. O renascimento alemão seria enquadrado num acordo europeu, e quanto ao aspecto militar houve ainda maior cuidado Aliado.

A Alemanha Ocidental poderia ter polícia, mas seria vedado reconstruir o exército.
Para colmatar esta falha de defesa, e perante a ameaça soviética instalada na vizinha Alemanha Oriental, os Estados Unidos encarregaram-se de assegurar a defesa alemã.
Ramstein é a face mais visível dessa ocupação militar americana, que teria o propósito de defesa.
Ora, entretanto deu-se a queda do muro de Berlim, e a junção das Alemanhas parece ter sido algo anuído por Gorbashov a Helmut Kohl, na esperança de uma aliança económica que lhe permitisse evitar o colapso da estrutura comunista decadente.
O muro caiu, as Alemanhas reuniram-se, mas Gorbashov caiu pelo desmoronamento da base da União Soviética. Dir-se-ia que a Guerra Fria tinha acabado, houve festa, concertos em Berlim... mas os americanos, é claro que não saíram de Ramstein.

Ramstein permanece americana, e dado o contexto de restrição ao exército alemão, será complicado entender essa presença como permanente ajuda defensiva para além do quadro da NATO. Efectivamente, a manutenção do império requer o controlo de pontos estratégicos, e Ramstein é um deles, tal como são outras bases militares americanas em diversos pontos do globo, talvez negociadas com mais aspecto de acordo do que de imposição unilateral.

Rammstein é uma influente e polémica banda alemã, que aparece em 1994, quando estava claro que os americanos não iriam deixar a Alemanha, apesar da queda do muro.
A banda argumentaria que o nome se referia a Rammsteine (grandes pedras nos portões contra aríetes), mas foi entendido que se referia à base militar Ramstein... só por causa do acidente de 1988, num festival aéreo

Porém, a discografia da banda parece apontar noutro sentido, como é de alguma forma evidente no tema Amerika, com um refrão elucidativo: "we are all living in America"

Rammstein - Amerika

Para além de toda a paródia à presença americana na Lua, o tema era uma contestação à omnipresença americana, que ficava evidente em "this is not a love song". 
Como a presença na Lua é entendida como indiscutível, a paródia passava mesmo por simples paródia, e o efeito pretendido foi inofensivo, sendo mais evidente a crítica à globalização norte-americana.

Os vídeos dos Rammstein, apesar de poderem ser violentos, são muito bons e exemplo disto é o vídeo que acompanha o tema Mein Herz Brennt, ilustrando uma instituição decadente que mantém presos adultos, mas que são tratados e guardados como crianças.
Mein Herz Brennt - Rammstein

Intencional ou não, há uma analogia que se pode estabelecer... a pressão psicológica exercida sobre os alemães pelos crimes da geração anterior, levou a nova geração a ser invadida por demónios, fantasmas doutros tempos, permanecendo com máscaras infantis, guardados por uma tutora entretanto envelhecida, que exerce o seu poder retendo o crescimento psicológico das crianças, entretanto já adultas, com a justificação de demónios, que são afinal produzidos internamente.
Que conexão com uma sociedade que trata os habitantes com palhaçadas infantis, que usa os medos e ameaças que o próprio poder fabrica, para assim poder condicionar o entendimento geral à infantilidade, e assim manter o seu poder?

Por muito que se tente fazer crer que estamos numa sociedade diferente, estamos numa sociedade criada e mantida pelos fantasmas não exorcizados da 2ª Guerra Mundial, com todos os terrores do holocausto. Com nazis que pareciam respeitar todas as Convenções de Genebra quanto aos prisioneiros de guerra, mas que afinal cultivavam todo o tipo de horrores imagináveis, e não antes imagináveis, a uma mão-de-obra judia que lhes era útil para sustentar a máquina de guerra. 
Que isto tenha escapado aos serviços secretos aliados, que os alemães tenham deixado sobreviventes nos campos para depois servirem de testemunhos contra si em Nuremberga, ou como se teriam alimentado os presos entre o abandono alemão e a chegada dos aliados (mais preocupados em ser os primeiros a chegar a Berlim...), pois isso são questões para as quais não se costuma encontrar resposta.

O passado está sempre entre a realidade e a ficção, e para além de provas, por vezes algo contraditórias, só resta a crença, num ou noutro sentido.
Os fantasmas, esses, existem indubitavelmente, e foram sempre levados às gerações que se seguiram, sob forma de história, umas vezes menos credível do que outras.

5 comentários:

  1. Rammstein - grande banda!
    Apenas algumas curiosidades...
    Se não estou em erro, os elementos desta banda são Ossi (ou seja, vieram da ex-RDA - os do lado ocidental são conhecidos por Wessi)... Talvez por serem nascidos e criados no lado mais "democrático", tenham este "fascínio" particular pelos americanos... seja como for, não deixam de ter razão na parte "we are all living in America"... se bem que estas manias são típicas dos impérios - durante o império romano também, a bem dizer, "viviam todos em Roma"!
    Tenho ideia que um deles até conseguiu sair antes da queda do muro de Berlim. Till Lindemann, o vocalista, foi atleta de alta competição (natação) e aparentemente é o único que melhor sabe falar inglês (apesar do sotaque).
    Outra curiosidade é que a actual chanceler alemã também é Ossi e deve ser a única representante máxima politica na Europa que sabe falar russo. Creio que os membros desta banda também saibam falar essa língua. Pelo que percebi, o russo era a segunda língua na ex-RDA (como ainda parece ser nos restantes países que pertenceram à ex-URSS). Curiosamente esta banda tem imensos fãs na Rússia - conhece a música Moskau? O início do clip é bem ao estilo soviético (vale a pena ver).
    A polémica fez sempre parte desta banda. Até há quem diga que são neonazis (eles negam tal coisa)! No entanto, já chegaram a utilizar imagens de um dos filmes (Jogos Olímpicos) da Leni Riefenstahl. Pelos vistos, eles não se importam de utilizar certas imagens ainda consideradas como tabu.
    Isto tudo só para dizer que esta é uma das minhas bandas preferidas dentro do género de Metais Pesados (habitualmente prefiro metais mais leves… hehehehe).

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    1. Pois, os Rammstein foram uma daquelas raras surpresas fora do circuito anglo-americano, e sim o Till era da RDA, os outros não sei, nem sabia que vinha da cidade da Merkel...
      Comprei uma vez um DVD com o concerto deles na Arena de Nimes:
      https://www.youtube.com/watch?v=JCPlrPuqgys
      - hoje em dia é só fazer links (2 3 4):
      https://www.youtube.com/watch?v=TSvG3ozFrk0
      ... vídeos com grande imaginação, e com piada como
      https://www.youtube.com/watch?v=Y1st6O1tqII
      ou
      https://www.youtube.com/watch?v=kIBeYoP9Wi0

      Também não aprecio metal pesado, mas quando está enredado numa boa melodia fica bem mais leve. E este é um ponto que aplica a muita coisa na vidinha...

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  2. Ah e já agora... ia-me esquecendo.. quanto à parte " "this is not a love song", ora é precisamente o título de uma canção do ex-vocalista do Sex Pistols, John Lydon...

    Pil (Public Image Limited) - This Is Not A Love Song - Lyrics


    This is not a love song

    Happy to have
    Not to have not
    Big business is
    Very wise
    I'm crossing over into
    Enter prize

    This is not a love song
    This is not a love song
    This is not a love song
    This is not a love song

    I'm adaptable
    And I like my role
    I'm getting better and better
    And I have a new goal
    I'm changing my ways
    Where money applies
    This is not a love song

    This is not a love song
    This is not a love song
    This is not a love song
    This is not a love song

    I'm going over to the over side
    I'm happy to have
    Not to have not
    Big business is
    Very wise
    I'm inside free
    Enterprise

    This is not a love song
    This is not a love song
    This is not a love song
    This is not a love song

    Not television
    Behind the curtain
    Out of the cupboard
    You take the first train
    Into the big world
    Are you ready to grab the candle
    Not television

    This is not a love song
    This is not a love song
    This is not a love song
    This is not a love song

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    1. Eh eh eh!
      Pois, e o Sid Vicious foi recuperar temas para a Siouxsie
      https://www.youtube.com/watch?v=M6rrTROoZIw
      de onde saiu, o maior, o inimitável
      https://www.youtube.com/watch?v=32udqal_lyQ

      https://www.youtube.com/watch?v=tAObCHEjZrs

      eh eh,

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