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sábado, 15 de junho de 2013

Bisnau

Já tinha abordado a questão da Santa Cláusula e a possível ligação de São Nicolau à Cláusula da Trindade Cristã, pela sua oposição às teses Arianas (de Arius de Alexandria).  Esta Santa Clause defendia justamente uma identificação cristã Pai-Filho, ou seja que o nascimento cristão seria do Filho mas também, pela identificação, do Pai, ou seja um Pai Natal.

Em paragens arianas, na Índia, encontramos um outro elemento interessante.
Há uma filosofia religiosa fundada em 1485, conhecida como Bisnau, fundada pelo guru Jambheshwar, após as guerras dos muçulmanos com hindús. Este guru terá sido contemporâneo com a chegada dos portugueses à Índia.

guru Jambheshwar (1451-1536)

Os seguidores desta filosofia religiosa Bisnau seguiam 29 princípios, seleccionados do Hinduísmo, denotando um carácter monoteísta (centrado em Vixnu), e também uma protecção ambiental que foi levada ao limite.

Massacre do Corte das Árvores (Khejarli, 1730)
Em 1730, colocou-se a perspectiva de, para a construção de um palácio no Rajastão, serem cortadas árvores khejri (Prosopis), tidas como sagradas pela comunidade Bisnau. 
Muitos elementos Bisnau decidiram agarrar-se a elas para impedir o corte.
Porém isso não impediu a determinação dos executores, e conjuntamente com as árvores foram cortadas as vidas de 363 mártires.

A protecção das árvores no Massacre de Khejarli, 1730

Árvore de Natal
Não deixa de ser irónico ter a figura do Guru Jambheshwar tão semelhante à figura popularizada do Pai Natal.... porque, nessas celebrações cortam-se Árvores de Natal em todo o Mundo, exactamente o oposto do que professava. Parece uma ironia algo sádica para as vítimas do Massacre de Khejarli.

No entanto, a tradição da Árvore de Natal acabou por se estabelecer no mundo protestante, especialmente no Séc. XVIII e XIX, ao contrário do que se fazia no mundo católico, onde o Presépio foi mantendo o seu lugar. A figura que conhecemos do Pai Natal, com as suas longas barbas brancas, as suas vestes vermelhas, que incluem o gorro vermelho, essa parece ser mais recente. Tem até constado ter sido manobra publicitária da Coca-Cola, para promover as suas cores... 

Não podemos deixar de reparar na semelhança e ligação.
O aspecto de devoção, e até um fio de contas que se assemelha a um terço, podia melhor integrar-se numa figura católica do que o habitual ar bonacheirão. Se o nome terço se liga à trindade, há ainda todo um aspecto de renascimento integrado. No caso da filosofia hindú remeteria para o renascimento noutras formas de vida, que a seita Bisnau procuraria proteger a todo o custo. Foi considerado também que esta filosofia de renascimento derivaria da expansão que a filosofia pitagórica tomou em diversas partes do globo.

Pássaro Bisnau
No século XIX era habitual usar-se a expressão "pássaro Bisnau", e não encontrei nenhuma ligação à seita Bisnau. 
Não sei se poderia retirar-se de uma alusão a "passar o Bisnau", pela forma como foram passadas a machado as dificuldades com as árvores do Bisnau. Tem a conotação de um "pássaro bisnau" ser alguém que está em controlo, que do exterior pode provocar discórdias por artimanhas. Pode sugerir que a discórdia lançada no Rajastão era motivada por asas externas, pelas Companhias das Índias que depois iniciariam a colonização com a derrota do nababo bengalês na batalha de Plassey, em 1757.

Rafael Bordalo Pinheiro numa ilustração do seu periódico "António Maria", em 1884, colocava alguns "pássaros bisnau" ingleses, pousando sobre a "árvore da liberdade, do civismo e alimentação". Portugal, na sua perspectiva, estaria em harmonia com um Zé Povinho servindo com prazer a refeição aos detentores do poder (excepto um "empossado" colocado à margem). Passados menos de dois anos, os ingleses iriam borrifar-se noutra mesa, na que tinha o mapa Cor-de-Rosa.

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