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sábado, 20 de novembro de 2010

Simbologia perdida

Gravado numa rocha, na costa portuguesa...
... e, não longe, mais um prodígio da erosão:
Poderia ter sido no dia 4, mas certamente foi a 3 de Agosto. 
Há dias assim... dias que começam onde nascemos e crescemos, querendo ver o que nunca vimos.
Seguimos sinais e nada... esperamos sempre mais que ser cumprimentados por um bando de borboletas brancas no campo. Afinal ligámos o conta-quilómetros, e percorremos exactamente a distância escrita na rua. Subimos a colina, e é claro, nenhum gólgota, apenas vemos um belo vale cavado na direcção de nossa casa. A mesma que há mais de vinte anos teria ficado acima do mar, pois acima do dilúvio fica sempre a nossa casa... aí cumpriu-se o sonho - no dia seguinte, acima do acidente mortal, ficou a vida.
Na mesma tarde do dia 3, um bando de gaivotas decide indicar o caminho. Olhamos, vemos as rochas na praia, vemos a gravação naquela rocha singular, compreendemos quase tudo... ou nada. E quando regresso à ausência de solidão, sou presenteado pela inocência infantil... mas são apenas duas pirâmides de areia separadas por um canal, uma construção banal, própria de crianças.
O Sol está quase a pôr-se no horizonte, olhamos na direcção oposta e sabemos que estamos a ser observados... até exactamente de onde. Subimos a colina, afinal há uma estrada que sempre fizémos, e que sempre levou àquela muralha mourisca, a que nunca fomos... É claro, decido ir sózinho. Um pequeno pássaro esvoaça assim que chego... excelente, tudo normal. 
A muralha tem inscrustados símbolos que parecem de uma época medieval. Olhamos a casa ao lado, de onde nos observam, e não vemos ninguém... como é óbvio! É tempo de regressar à normalidade.
No entanto, como há dias assim, um pombo decide nesse momento pousar na muralha, no mesmo sítio de onde o outro pássaro esvoaçara. Nada de especial... é tempo de regressar, e quando saio da muralha há um indivíduo que faz jogging, só escusaria de trazer uma t-shirt do BES, pensei - já tinha bastado sinalizar as borboletas, as gaivotas e o pombo branco.
Fui então juntar-me aos demais para um café, olhando o Sol que se preparava para mergulhar no oceano... 
Seguiram-se uns dias especialmente agradáveis de praia, e a alta temperatura à noite teria levado muita gente a banhos nocturnos, noticiou-se. Nesse fim-de-semana houve festas brancas na praia, e por momentos pareceu que o mundo estava feliz, apesar dos incêndios. Estive sempre calmamente apreensivo, mas não sei se a decisão posterior mais difícil foi a de ficar a meio da escalada, ou a de apagar o cigarro na mão.
- Por que é que apagaste o cigarro na mão?... - pergunta ouvida, sim - mas que sentido faz outrém questionar um acto único e recolhido?

Houve tempos assim, há três meses...
Só muito depois, a 11 de Setembro, regressei para tirar as fotografias que aqui coloquei... porquê? 
- Porque não faço questão de lembrar, mas também não faço questão de esquecer! Bastou perceber, 25 anos depois, o que faltava perceber - Enigma será mesmo uma máquina!
- Fica ainda o outro som que inundava o Verão

The Divine Comedy: "At the Indie Disco"

2 comentários:

  1. Percebemos, ou julgamos perceber.
    Súbitamente, tudo parece fazer sentido.

    E Subimos a Serra, pelos mesmos trilhos de outrora, e vemos os Rostos e os Símbolos, mas as pedras não nos respondem.

    E percorremos a praia, e olhamos o Mar, mas apenas ouvimos o Silêncio das ondas.

    Orfãos? Ou apenas Rejeitados?

    Deixados ao acaso, por inúteis?
    Ou apenas mal amados?

    Que fazemos nós, vageando ao acaso numa praia deserta?
    Que esperamos encontrar?

    Que procuramos nas noites de Verão, por entre a densa amálgama de Constelações?

    Saudade de quê? Ou de Quem?

    EME

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  2. Os registos materiais são apenas oportunidades para que ideias, entretanto perdidas, regressem... por via de quem esteja disposto a albergá-las no seu espírito. Depois, ao dar-lhes guarida, é preciso saber conviver com elas.

    Cumprimentos,
    da Maia.

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