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quarta-feira, 6 de abril de 2011

O discurso de Kennedy

Num discurso em 1961, dirigido à imprensa americana, John Kennedy faz um memorável discurso, que muito tem sido recordado nos últimos tempos:
(Address before the American Newspaper Publishers Association, April 27, 1961)

O discurso é escrito no contexto da Guerra Fria, e Kennedy começa com uma nota histórica e humorística acerca do pedido de aumento de Karl Marx, então correspondente em Londres do New York Herald Tribune:
if only Marx had remained a foreign correspondent, history might have been different
Há por isso uma parte que pode pretender referir-se exclusivamente a uma ameaça comunista. No entanto, é claro que não era apenas esse o contexto, e isso torna-se evidente no 1º capítulo, após a introdução. 
Começa, colocando imediatamente o problema das Sociedades Secretas:
The very word "secrecy" is repugnant in a free and open society; and we are as a people inherently and historically opposed to secret societies, to secret oaths and to secret proceedings. We decided long ago that the dangers of excessive and unwarranted concealment of pertinent facts far outweighed the dangers which are cited to justify it.
Porém, o mais surpreendente acaba por ser a revelação de uma conspiração que se infiltrava como uma máquina eficiente combinando operações militares, diplomáticas, económicas e científicas. Poderia ser identificado à época como sendo o "comunismo"... mas Kennedy nunca o diz, e torna claro que uma infiltração interna já estaria consumada.
     For we are opposed around the world by a monolithic and ruthless conspiracy that relies primarily on covert means for expanding its sphere of influence--on infiltration instead of invasion, on subversion instead of elections, on intimidation instead of free choice, on guerrillas by night instead of armies by day. 
     It is a system which has conscripted vast human and material resources into the building of a tightly knit, highly efficient machine that combines military, diplomatic, intelligence, economic, scientific and political operations.
    
Its preparations are concealed, not published. Its mistakes are buried, not headlined. Its dissenters are silenced, not praised. No expenditure is questioned, no rumor is printed, no secret is revealed. It conducts the Cold War, in short, with a war-time discipline no democracy would ever hope or wish to match.
Vai mais longe, denunciando um encobrimento, que esconderia os erros e silenciaria os dissidentes. Ao mencionar a Guerra Fria relacionará à disciplina de guerra, mas é suficientemente ambíguo ao afirmar que é a mesma organização que conduz a Guerra Fria... provavelmente de ambos os lados.
Não deixa de ser interessante Kennedy sentir a necessidade de invocar Solon, e a antiga democracia grega, ciente que os mesmos perigos ameaçariam a democracia americana:
Without debate, without criticism, no Administration and no country can succeed--and no republic can survive. That is why the Athenian lawmaker Solon decreed it a crime for any citizen to shrink from controversy. And that is why our press was protected by the First Amendment ...