domingo, 2 de agosto de 2015

Um discurso de Balfour... cem anos depois

Arthur Balfour foi primeiro-ministro inglês, mas ficou mais conhecido pela declaração de 1917 que prometeu a criação de um estado judaico na Palestina. 


aqui comentámos a Declaração de Balfour, nomeadamente a célebre carta enviada a Rothschild.

No entanto, é instrutivo ver o discurso proferido por Balfour dois anos antes, a 4 de Agosto de 1915, ou seja, há 100 anos. O discurso chama-se "Um ano depois" e enquadra-se na situação da 1ª Guerra Mundial, tendo passado um ano sobre o início das hostilidades com a Alemanha.
Não vou entregar-me a invectivas contra os nossos antagonistas, pois suponho que a maior parte deles fez o que lhes foi dito, simplesmente porque lhes foi dito.
Boa razão.
Suponho que os seus caudilhos se iludiram na crença de que a Alemanha e os alemães eram tão bons, tão excepcionais, que o ser dominado por um alemão era o maior privilégio de que uma raça inferior poderia gozar neste perverso mundo.
A transcrição do discurso aponta para risos na plateia... passados 100 anos, é de perguntar se há ainda governante da "zona euro" que se ria hoje dessa piada! 

O discurso continua apelando ao espírito britânico, enquanto "campeões imemoriais da liberdade", em continuar a luta contra a Alemanha em território francês. 

Desde a invasão normanda que a Inglaterra nunca se desligou do território francês, e sempre esteve atenta ao que se passava em território europeu, sendo-lhes conhecida a frase de preocupação jocosa aquando de nevoeiro no Canal da Mancha - "o continente está isolado".

É preciso recuar mais 100 anos, para a Batalha de Waterloo de 1815, para entendermos que a França passou definitivamente a dever obediência à Loja de Londres, ou se quisermos, à City de Londres.
Na realidade não foi a França que pagou os custos das guerras napoleónicas, esse financiamento foi cobrado em dívidas aos estados ibéricos, Portugal e Espanha, pela ajuda fornecida pela Inglaterra. A partir de 1815 não mais a França ousou espirrar contra a Inglaterra, foi protegida, e o seu arqui-rival e inimigo, passou a funcionar num entendimento mais que cordial, mesmo antes da Entente Cordiale
A Alemanha iria passar a funcionar como inimigo de serviço durante as décadas seguintes.

A excepção a essa ajuda britânica à França ocorre durante as Guerras Franco-Prussianas, já que Bismarck foi suficientemente hábil para provocar o suicídio diplomático da França.
O que fez Bismarck?
Informou os franceses de que planeava anexar a Áustria, ou o império Austro-Húngaro, e que se por seu turno, os franceses decidissem anexar a Bélgica, teriam igualmente o reconhecimento alemão. 

À França pareceu-lhe bem a ideia, de onde ambos os reinos sairiam a ganhar territórios... tal como hoje pareceu bem propor um directório da "zona euro", juntando-se à Alemanha, e cooptando o Benelux para a farsa, excluindo os restantes países!

Só que à época, a ideia de Bismarck era apenas lançar a corda onde a França se apressou a colocar o pescoço. Quando os exércitos prussianos avançaram sobre a França, e desfilaram depois vitoriosos por Paris, a Inglaterra não mexeu palha... porque a Rainha Vitória foi informada por Bismarck dessa anuência francesa à anexação belga - caso tanto mais grave quanto a Rainha Vitória tinha origem familiar na casa alemã de Hanover, e era sobrinha afectuosa do rei belga.

No entanto, a própria Alemanha ao exibir na invasão francesa uma tal supremacia europeia, apressou-se a chamar as atenções inglesas contra o seu crescimento. É nesse contexto que a 1ª Guerra Mundial poderia antever-se antes de ocorrer - a Inglaterra precisava de parar a Alemanha e a França pretendia uma certa vingança contra a invasão de Bismarck. 
As reparações de guerra que a Alemanha exigira à França, foram depois muito pioradas na vingança francesa pelo Tratado de Versalhes, o que acabou por levar a nova invasão de Paris, a nova vingança, desta vez pelos exércitos de Hitler. Só o bom senso americano do Plano Marshall permitiu parar esta escalada de vinganças, resultantes de pesadas reparações de guerra sobre o perdedor.
Porém, passadas umas décadas e parece que as manias de humilhação e subjugação económica persistem, motivadas por interesses diversos, que aqui não interessa repetir.
Afinal depois da 1ª Guerra Mundial, com o impacto da divulgação dos Protocolos de Sião, a teoria da conspiração ganhou adeptos em todos os governos nacionalistas, e não é difícil encontrar referências anti-semitas nos ideólogos do fascismo alemão, ou do fascismo italiano... ou como Julius Evola referiu:
Whether or not the controversial Protocols of the Learned Elders of Zion are false or authentic does not affect the symptomatic value of the document in question, that is, the fact, that many of the things that have occurred in modern times, having taken place after their publication, effectively agree with the plans assumed in that document, perhaps more than a superficial observer might believe.

Interessa como último ponto o financiamento do Império Alemão e Austríaco à revolução bolchevique em Moscovo, no decurso da 1ª Guerra Mundial.

A ideia alemã era simples.
A Alemanha estava com duas frentes de guerra. Uma a ocidente onde defrontava franceses e ingleses, e outra a oriente onde se batia contra os exércitos russos do Czar Nicolau. A deposição da monarquia russa, e o estabelecimento do comunismo, seriam bem vindos pelos alemães, se essa mudança de governo significasse o fim das hostilidades numa das frentes... podendo assim deslocar todos os seus exércitos para a frente ocidental.

New York Times (1918)
Lenine foi financiado directamente por alemães e austríacos, conforme parece ser atestado por inúmera documentação entretanto conhecida. Dificilmente revoluções internas têm sucesso sem mãozinha externa, ao contrário do que é supostamente propalado.

Porém, este plano alemão, cuja consequência lateral foi implantar um longo regime comunista na Rússia... acabou por sair duplamente furado. 
Primeiro, porque essa vantagem alemã foi rapidamente anulada com a automática entrada dos americanos na 1ª Guerra Mundial. Se estavam descansados pela frente oriental, passaram a ter o dobro dos problemas na frente ocidental, e em breve perderiam a guerra.
Segundo, porque foi o regime comunista que permitiu a maior ofensiva contra a Alemanha no curso da 2ª Guerra Mundial, tendo sido os russos comunistas a tomar Berlim. 

Diversas situações, em que os ventos semeados passaram à força de tempestades contra os próprios.

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