domingo, 17 de junho de 2012

WHC (2) Villa Romana del Casale

Quando em 1946 o bikini era popularizado associando-o à experiência nuclear no atol de Bikini, já decorriam mais de 15 anos sobre as primeiras escavações em Villa Romana del Casale, na Sicília, e onde se vieram depois a mostrar os seguintes mosaicos:
 
Mosaicos na Sicília com raparigas romanas (séc. IV) usando bikini em diversos jogos

... portanto, a indumentária "explosiva" que saiu dos anos 1940 e se popularizou nas praias nas décadas seguintes, tinha afinal uma tradição perdida em milhares de anos.

Os mosaicos de Villa del Casale são património da UNESCO, constituindo a maior colecção de mosaicos romanos existente. De entre aqueles divulgados, talvez o maior destaque deva ir para a Grande Caccia (Grande Caça)... onde podemos muita caça grossa, alguma fora do circuito habitual do mundo romano:
... elefantes, tigres, antílopes (onix), bisontes, leopardos caçando impalas, leões, rinocerontes, etc.
... e podemos ver como eles eram transportados em carros de bois, e depois em barcos.

 elefante, camelo, tigre, antílope (onix), bisonte
leopardo caçando ímpala, leão, transporte de animais em carros de bois
... e ainda rinocerontes.

Não será propriamente novidade que os circos romanos usavam uma grande variedade de animais, e estes mosaicos acabam por evidenciar a sua captura nas diversas paragens (especialmente africanas, mas devemos considerar ainda asiáticas - devido aos tigres, ou ainda americanas, pelo bisonte...).
Pode argumentar-se que à época romana havia na orla mediterrânica uma maior variedade de animais, que incluíram leões, cuja caça era reportada pelos assírios, ou elefantes, que o cartaginês Aníbal usou no seu avanço sobre Roma... no entanto, a diversidade de animais, com ímpalas, antílopes, tigres, rinocerontes, bisontes, aponta noutro sentido.

Fixemo-nos no caso do rinoceronte, que fez sucesso ao reaparecer um em Lisboa na embaixada destinada ao Papa Leão X, e que levou em 1515 a um desenho de Albrecht Dürer. Para além da representação que vimos no mosaico da Villa Romana del Casale, essa figura podia ser já encontrada em moedas do Imperador Romano Domiciano:

 

Porém são bastante mais notáveis a admiráveis estátuas chinesas de rinocerontes, que remontam ao período da dinastia Han, parecendo haver mesmo registos anteriores, na dinastia Shang:
 
Rinoceronte - estátua chinesa da dinastia Han (séc. II a.C), e da dinastia Shang (séc. MC a.C)

Havendo rinocerontes indianos, é natural que tenham existido rinocerontes na China, e que o mito do unicórnio esteja ligado ao seu singular corno dianteiro. Confunde-se na história uma eventual presença de animais em locais onde agora estão extintos, por resultado da excessiva caça... mas há ainda a possibilidade de transporte dos animais dos seus habitats, atestando uma descoberta ou presença antiga nessas paragens.

É perfeitamente natural que os Romanos não ficassem acima do Trópico de Cancer, e que os fornecedores circenses penetrassem em África e Ásia, para capturar ou comprar animais...
Afinal, o mito medieval de "reencontrar o unicórnio" poderia ser uma alegoria no sentido de reencontrar os antigos destinos, e reencontrar aí o mítico animal perdido no isolamento, que tinha deixado a África e Índia como paragens distantes, até aos (re)descobrimentos quinhentistas.
A descrição de Plínio do unicórnio (monoceros), aponta justamente para o rinoceronte indiano:
«La bête la plus sauvage de l’Inde est le monocéros ; il a le corps du cheval, la tête du cerf, les pieds de l’éléphant, la queue du sanglier ; un mugissement grave, une seule corne noire haute de deux coudées qui se dresse au milieu du front. On dit qu’on ne le prend pas vivant. »

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